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São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 2003

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TENSÃO NO CAMPO

Documento reservado da polícia mostra preocupação com acirramento das questões agrárias no Estado

PM de Minas ordena repressão às milícias

Ubirajara Machado
Miguel Rosseto (de barba), do Desenvolvimento Agrário, durante reunião com prefeitos em Brasília


PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O comando da Polícia Militar de Minas Gerais emitiu um memorando "reservado" às suas unidades mostrando preocupação com o acirramento da questão agrária no Estado e orientando os comandantes regionais da corporação a agirem contra as milícias armadas que estão sendo organizadas por proprietários rurais.
A Agência Folha teve acesso ao memorando 30.246/03, do último dia 10, assinado pelo coronel Jairo Pimentel de Souza, chefe do Estado-Maior. Ele determina que deve ser "incrementada a busca das milícias armadas no meio rural e/ou antecipar ações organizadas desses grupos". Diz o texto: "Reprimir ação de milícias armadas, solicitando da autoridade judiciária, caso necessário, mandado de busca e apreensão contra qualquer cidadão que esteja envolvido com essas atividades ilícitas".
Mas as ações não se restringem às milícias. A PM determina que seja intensificado o patrulhamento nas áreas de tensão e nos locais "onde haja evidências" de que organizações de sem-terra estejam programando invasões.
A PM quer que os comandos regionais promovam reuniões com os produtores rurais e também com as organizações dos sem-terra. Com os trabalhadores rurais, o objetivo seria "demovê-los da intenção de revidar possíveis agressões, organizadas por proprietários de imóveis rurais".
Com os ruralistas, a Polícia Militar quer "discutir ações pacíficas integradas", explicar os procedimentos que adota nas invasões e demonstrar "o repúdio da corporação pela constituição de grupos armados em defesa do patrimônio particular".
"Em Minas Gerais, as questões relacionadas aos movimentos sociais tornaram-se mais preocupantes, pois representantes do sindicato dos proprietários rurais têm divulgado na imprensa que irão reagir a qualquer ocupação de terra, inclusive com arma de fogo, fato que vem se tornando realidade", diz o documento.
Essa "realidade" em Minas é mostrada com a citação de quatro ações recentes das milícias, sendo três no Pontal do Triângulo Mineiro. Em 22 de fevereiro, no município de Santa Vitória, 63 sem-terra que haviam invadido a fazenda Bebedouro foram "retirados por aproximadamente 40 jagunços armados". Na mesma cidade, no dia 3 de março, "famílias acampadas na fazenda Capoeira foram vítimas de vários disparos de armas de fogo".
Três dias depois, em Verdelândia, norte do Estado, cerca de 30 famílias acampadas na fazenda Rio Verde foram retiradas de lá por jagunços contratados. Diz a PM que os "pistoleiros" incendiaram barracos, mantiveram trabalhadores e crianças sob a mira de revólveres e espalharam objetos particulares delas pela estrada de acesso à fazenda. No último dia 9, em Campina Verde, cerca de 30 famílias acampadas na fazenda Inhumas Sanharão foram retiradas por proprietários e jagunços "fortemente armados".
"Consta que todos os barracos foram destruídos, enquanto os homens foram amarrados e colocados no interior de camionetes, juntamente com suas esposas e filhos, sendo, em seguida, transportados até próximo ao município de Iturama." Foram apreendidas 23 armas de fogo e presas 17 pessoas. Segundo a PM, os responsáveis pela ação eram "filhos de fazendeiros e jagunços contratados da cidade de Santa Vitória".
Por fim, o documento determina que as unidades mantenham o comando da corporação constantemente informado sobre os conflitos agrários no Estado.


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