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JANIO DE FREITAS
O terceiro mandato
A idéia de mais um mandato para Lula põe sob corrosiva suspeita a campanha política do presidente com o PAC
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O APELO reiterado por Lula, para que "a oposição pare de falar no terceiro mandato" que
ele "não quer", resulta de dois fatores maiores do que a alegada insistência oposicionista.
A hipótese de terceiro mandato
compromete a campanha de propaganda política que toma o PAC, o
Programa de Aceleração do Crescimento, como pretexto. O desgaste
público é relativo, mas, onde seja
menor o nível de alienação, a campanha fica sujeita ao "efeito terceiro
mandato" como a melhor contrapropaganda.
A campanha de Lula, que promete
"percorrer o Brasil todo" apregoando o PAC, não tem como alvo o povão do Bolsa Família, cuja opinião
simplória é definida por seu bolso.
Nem o PAC é pretexto só como motivo aparente de tanta viagem e discurseira, mas também como ponte,
por intermédio da TV e dos jornais,
para outros públicos, menos sensibilizáveis pelo lulismo (qualquer
que seja o sentido dado ao termo).
Nesse contingente, situado nas cidades médias e maiores, e de comprovada importância para a eleição de
Lula em 2002, a idéia de terceiro
mandato põe sob corrosiva suspeita
a campanha política e eleitoreira de
Lula com o PAC.
A "insistência da oposição" tem
pouco de oposição e ainda menos de
insistência. O terceiro mandato e a
alternativa de aumento do atual, como referências e até como projetos
parlamentares, são temas esquentados por próximos de Lula, do vice-presidente a sindicalistas. Se Lula
diz e repete que não quer terceiro
mandato, e apesar disso correligionários do seu círculo insistem na
pregação e em providências para a
idéia, temos aí uma justa evidência:
tudo em Lula se reduz à possibilidade de mais "bravatas" até na convicção dos seus companheiros/ amigos.
O que mesmo eles vêem em Lula é,
na autodefinição do próprio, a "metamorfose ambulante". Bem visto.
Certezas
O "Painel do Leitor" divulgou deduções de que a Folha quis restringir a liberdade de expressão do ombudsman Mário Magalhães. O deputado petista Fernando Ferro inventou que "Mário Magalhães foi
demitido por não concordar" com
exigências "para que ele não seja
muito crítico com o que o jornal escreve".
Tive participação lateral nas conversas entre Mário Magalhães e o
jornal. Daí guardo três certezas
que me sinto no dever de expor,
por justiça: 1 - A Folha não propôs,
nem sequer mencionou, restrição
alguma à liberdade de expressão,
crítica ou não, para o segundo
mandato do ombudsman; 2 - O
motivo exposto por Mário Magalhães, em sua "Despedida" no domingo passado, para a decisão de
não renovar seu mandato, é irretocável: no segundo mandato a chamada crítica diária do ombudsman
deixaria de ser difundida pela internet, o que não foi admitido por
ele; 3 - Como leitor e como jornalista, lamento muito a não-renovação de Mário Magalhães como ombudsman e fico entusiasmado com
a volta da excelência do seu trabalho como repórter -aqui mesmo,
na Folha.
Descontroles
O Supremo Tribunal Federal deu
dois meses ao governo, sustando a
desocupação da reserva Raposa/
Serra do Sol (RR), para buscar a retirada de não-indígenas sem confrontos armados. A decisão do STF
ficaria reduzida a despropósito se,
daqui a dois meses, a Polícia Federal voltar ao "vão sair de qualquer
maneira", "estamos prontos para a
guerra", e o outro lado mantiver a
resistência com armas.
Na segunda frente de risco, a concentração do MST na paraense Parauapebas, com a ameaça de mais
invasões de dependências da Vale,
não consta que os ministérios da
Justiça e de Minas e Energia se tenham interessado por alguma providência.
A Vale informa ter recorrido quatro vezes ao governo, sem explicitar como e a quem, e sempre sem
resultado. Agora é o próprio presidente da empresa, Roger Agnelli,
que decide aumentar o combustível da tensão, com o tratamento
descontrolado de "bandidos" dado
aos integrantes do MST.
Sabe-se como bandidos devem
ser tratados pela polícia, o que leva
a qualificação a mais do que agressão verbal.
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