São Paulo, terça-feira, 13 de abril de 2010

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JANIO DE FREITAS

Liberdade de ação


Com a libertação de Arruda, comprova-se que todo o caso segue o seu leito brasileiramente natural


MAIS DO QUE a liberdade de ir e vir, o que o Superior Tribunal de Justiça concedeu a José Roberto Arruda foi aquilo mesmo que precisou tirar dele, prendendo-o: as condições para dificultar a investigação com artimanhas e deformar testemunhos com suborno e pressão, como ficara comprovado que fazia.
Entre o que já foi publicado sobre a corrupção política em Brasília, para nem falar no que se ouve, e a perspectiva de consequências apropriadas, a distância se mostra maior a cada dia. Os deputados distritais encontraram sem dificuldade formas de arranjos variados, o governo também de arranjo vai passando por governo mesmo, e a polêmica proposta de intervenção nem é mais falada.
Com a libertação de Arruda e as possibilidades de que passa a desfrutar, comprova-se que todo o caso segue o seu leito brasileiramente natural. E, no entanto, era saudado como a exceção em que, afinal, a descoberta de corrupção inaugurava, com a prisão do governador Arruda, o efeito sempre esperado em vão.

De crimes
Na entrevista de TV ao repórter Geneton Moraes Neto, o general Newton Cruz proporcionou mais dois reforços substanciais à imagem que construiu quando chefe da agência central do SNI e, depois, comandante militar do Planalto (não o palácio, a região).
Chamado de Nini por seus colegas, o general contou que jogava peteca ("é jogo de homem, de macho", apressou-se a sargentar) quando foi interrompido por uma visita. O deputado Paulo Maluf, depois de "uma conversa de joão-sem-braço", chegou ao assunto: "Ele queria que nós matássemos o Tancredo. Pensavam que eu era matador".
Em outro momento, quando indagado sobre a autoria do assassinato de Alexandre Baumgarten, testa de ferro do SNI na compra da revista "O Cruzeiro", Newton Cruz foi veloz: "Sei quem matou. Sei, mas não digo". E pouco depois, quase inaudível: "Civis e militares".
No passado, houve referências àquela visita de Paulo Maluf, derrotado por Tancredo Neves na eleição indireta para a Presidência pós-ditadura, mas Newton Cruz trouxe agora a acusação explícita. Suspeito ele próprio do assassinato do casal Baumgarten, e isentado à falta de provas, Newton Cruz afirma agora um conhecimento de autoria que não declarara.
Não são duas passagens apenas interessantes como retratos de época e de personagens. Nos dois casos, o general Newton Cruz confessou o acobertamento de um pretendido assassinato, com o autor do propósito devidamente identificado, e a autoria de três assassinatos consumados (além do casal, foi morto um barqueiro). Conivência consciente e deliberada para a impunidade de criminosos em crimes muito graves. Parece que não fica muito bem para um general.
Mas a omissão caberia muito bem no Código Penal brasileiro. Na história dos anos militares cabe apenas, porém, como mais uma impunidade.


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