DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Fernando Henrique Cardoso chamou ontem Luiz Inácio Lula da Silva de "leviano", disse que por isso ele "não se credencia a ser presidente" e fez acusações sobre o líder e provável candidato do PT à Presidência.
FHC desceu de seu apartamento em São Paulo, em Higienópolis (região central), ontem, às 12h30, para rebater as críticas que Lula lhe fizera anteontem. A jornalistas na porta de seu edifício, o presidente disse estar "ficando cansado" das "leviandades" contra si.
Segundo o líder petista, Fernando Henrique envolveu-se diretamente com a corrupção ao utilizar o governo para liberar emendas de parlamentares a fim de evitar a CPI da corrupção.
"Uma pessoa que é líder nacional não pode se dirigir ao presidente da República dessa maneira. Isso é leviano. Uma pessoa que é leviana não se qualifica para ser presidente da República", disse Fernando Henrique.
Referindo-se a quem tem moral ou não para falar de corrupção, Fernando Henrique mencionou o suposto envolvimento de Lula em irregularidades.
"Nunca me empenhei para que houvesse uma apuração para saber se houve efetivamente advocacia administrativa do Lula para liberar verbas para prefeituras do PT. Há um processo sobre isso".
FHC se referia provavelmente às acusações feitas em 97 pelo economista Paulo de Tarso Venceslau, que foi secretário em administrações municipais petistas e dizia haver um esquema para favorecer a empresa Cpem.
A empresa foi contratada sem licitação por prefeituras geridas pelo PT para rever a participação delas na distribuição do ICMS. Venceslau sustentava que a Cpem era favorecida por tráfico de influência de Lula e de seu compadre Roberto Teixeira. Em troca, financiava atividades partidárias.
"Então não pode vir dizer que o presidente tem que se explicar moralmente. Não sou eu que tenho que explicar. Nunca estive envolvido e nunca estarei em questões dessa natureza", disse.
"Eu nunca respondi a nada disso, mas é que eu estou ficando cansado de leviandades em cima de mim." Segundo o presidente, ele procura não entrar em debate com o petista devido à "própria história" dos dois.
Fernando Henrique desceu de seu apartamento e foi até a rua, acompanhar visitas até a porta do prédio, por duas vezes.
Na primeira vez, FHC atravessou a rua e andou poucos metros para acompanhar o ex-ministro da Casa Civil Clóvis Carvalho.
Quando voltou até a entrada de seu prédio, perguntou: "Quem está aí? Tem a Rede Globo? É que depois reclamam que eu falo para um e não falo para outros".
Uma hora depois, já com a TV Globo presente, o presidente acompanhou Wilma Motta, viúva do ex-ministro Sérgio Motta, até o seu carro. Estiveram também ontem à tarde com o presidente o ministro da Saúde, José Serra, e o secretário-geral da Presidência, Aloysio Nunes Ferreira.



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