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POLÍTICA NO ESCURO
Entrevistados afirmam que prejuízos à imagem do governo causados por racionamento são inevitáveis
Para publicitários, oposição não deve explorar falta de luz
DA REPORTAGEM LOCAL
A oposição não deve usar a crise
energética para atacar o governo
Fernando Henrique Cardoso, na
opinião de três publicitários ouvidos pela Folha: Chico Malfitani,
Duda Mendonça e Nelson Biondi.
"A oposição deve ter uma posição cautelosa, não deve ir para o
pau. Qualquer partido que estivesse no governo poderia estar
sofrendo isso", diz Mendonça,
que trabalha para o PT.
"Tripudiar sobre o cadáver não
pega bem", afirma Malfitani, que
foi responsável pela campanha de
Luiza Erundina à Prefeitura de
São Paulo em 1988 e 2000 e de
Francisco Rossi em 1994 e 1998
para o governo do Estado.
Segundo ele, para a oposição fazer uso político do racionamento
de energia, deve mostrar alternativas para o modelo adotado
atualmente. Biondi diz que a oposição deve insistir na falta de previsão da crise energética e no fato
de que o governo estava preocupado com outros assuntos.
Os três concordam que a crise
trará sérios danos à popularidade
de FHC -opinião compartilhada
por um publicitário que já trabalhou para o governo e falou à Folha sob o compromisso de não ter
seu nome revelado. "Se o governo
estivesse no poder há um ou dois
anos, a população poderia ter
uma certa condescendência. Mas
com seis anos de governo, não há
justificativa para a falta de investimentos no setor", diz Biondi.
Ao contrário dos demais publicitários, Biondi afirma que "o
apagão vai apagar a discussão sobre [o arquivamento da" CPI da
corrupção". Os outros três publicitários dizem que a crise energética vai agravar a crise política.
"O apagão cria mais revolta da
população contra o governo. As
pessoas pensam que alguma coisa
não está funcionando. O que está
havendo com o Brasil? O país corre o risco de ser eliminado da Copa do Mundo, vai sofrer um apagão, a corrupção não é punida
(...)", diz Mendonça.
Para Malfitani, o foco da insatisfação popular passará a ser a
questão energética e a corrupção
juntas. "Essa questão de encobrir
CPI pega muito mal. A população
vai julgar o governo por isso."
Para Mendonça, a idéia de punir as pessoas que não economizassem energia e de beneficiar
quem economizasse faria menos
estragos ao governo. Segundo ele,
depois de um período, o governo
poderia fazer o racionamento
tendo a falta de colaboração da
população como justificativa.
Para Biondi, que também defende a cobrança de multas para
quem não economizar, "por uma
questão de eficiência", o racionamento deveria ter sido implantado de maneira "homeopática".
Mas afirma que, sob o ponto de
vista de sua popularidade, FHC
acertou ao anunciar que não iria
cobrar as multas.
Para o publicitário, que trabalhou para o governo, FHC não
disse a verdade em pronunciamento à nação, na segunda-feira,
quando afirmou que investiu
mais em geração de energia do
que seus antecessores. "Ele atirou
primeiro, inclusive contra Itamar,
um virtual candidato a presidente, que é abertamente contra a privatização de Furnas", disse.
Segundo ele, o discurso da oposição deve conter uma crítica severa ao modelo de privatização do
setor elétrico e à incompetência
de um presidente que está há seis
anos e meio no cargo.
Prudência
O assunto tem sido tratado com
prudência pela oposição. "Não se
deve tentar obter lucros de uma
circunstância em que o Brasil inteiro perde, mas é preciso deixar
claro que o governo FHC é o único responsável pela crise", diz o
governador do Rio de Janeiro,
Anthony Garotinho (PSB).
O deputado José Dirceu (SP),
presidente nacional do PT, diz
que seu partido não vai poupar o
governo pelos erros cometidos na
área. "Na verdade, são erros de
ACM, porque há anos ele controla
o Ministério de Minas e Energia",
diz Dirceu, referindo-se aos cargos ocupados por "afilhados" do
senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). Para Dirceu, a
crise vai atingir "gravemente" a
imagem do governo. "Os apagões
representam o início de uma crise
administrativa num governo que
já enfrenta uma crise política."
(ROBERTO COSSO e RONALD FREITAS)
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