São Paulo, domingo, 13 de maio de 2001

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POLÍTICA NO ESCURO

Entrevistados afirmam que prejuízos à imagem do governo causados por racionamento são inevitáveis

Para publicitários, oposição não deve explorar falta de luz

DA REPORTAGEM LOCAL

A oposição não deve usar a crise energética para atacar o governo Fernando Henrique Cardoso, na opinião de três publicitários ouvidos pela Folha: Chico Malfitani, Duda Mendonça e Nelson Biondi.
"A oposição deve ter uma posição cautelosa, não deve ir para o pau. Qualquer partido que estivesse no governo poderia estar sofrendo isso", diz Mendonça, que trabalha para o PT.
"Tripudiar sobre o cadáver não pega bem", afirma Malfitani, que foi responsável pela campanha de Luiza Erundina à Prefeitura de São Paulo em 1988 e 2000 e de Francisco Rossi em 1994 e 1998 para o governo do Estado.
Segundo ele, para a oposição fazer uso político do racionamento de energia, deve mostrar alternativas para o modelo adotado atualmente. Biondi diz que a oposição deve insistir na falta de previsão da crise energética e no fato de que o governo estava preocupado com outros assuntos.
Os três concordam que a crise trará sérios danos à popularidade de FHC -opinião compartilhada por um publicitário que já trabalhou para o governo e falou à Folha sob o compromisso de não ter seu nome revelado. "Se o governo estivesse no poder há um ou dois anos, a população poderia ter uma certa condescendência. Mas com seis anos de governo, não há justificativa para a falta de investimentos no setor", diz Biondi.
Ao contrário dos demais publicitários, Biondi afirma que "o apagão vai apagar a discussão sobre [o arquivamento da" CPI da corrupção". Os outros três publicitários dizem que a crise energética vai agravar a crise política.
"O apagão cria mais revolta da população contra o governo. As pessoas pensam que alguma coisa não está funcionando. O que está havendo com o Brasil? O país corre o risco de ser eliminado da Copa do Mundo, vai sofrer um apagão, a corrupção não é punida (...)", diz Mendonça.
Para Malfitani, o foco da insatisfação popular passará a ser a questão energética e a corrupção juntas. "Essa questão de encobrir CPI pega muito mal. A população vai julgar o governo por isso."
Para Mendonça, a idéia de punir as pessoas que não economizassem energia e de beneficiar quem economizasse faria menos estragos ao governo. Segundo ele, depois de um período, o governo poderia fazer o racionamento tendo a falta de colaboração da população como justificativa.
Para Biondi, que também defende a cobrança de multas para quem não economizar, "por uma questão de eficiência", o racionamento deveria ter sido implantado de maneira "homeopática". Mas afirma que, sob o ponto de vista de sua popularidade, FHC acertou ao anunciar que não iria cobrar as multas.
Para o publicitário, que trabalhou para o governo, FHC não disse a verdade em pronunciamento à nação, na segunda-feira, quando afirmou que investiu mais em geração de energia do que seus antecessores. "Ele atirou primeiro, inclusive contra Itamar, um virtual candidato a presidente, que é abertamente contra a privatização de Furnas", disse.
Segundo ele, o discurso da oposição deve conter uma crítica severa ao modelo de privatização do setor elétrico e à incompetência de um presidente que está há seis anos e meio no cargo.

Prudência
O assunto tem sido tratado com prudência pela oposição. "Não se deve tentar obter lucros de uma circunstância em que o Brasil inteiro perde, mas é preciso deixar claro que o governo FHC é o único responsável pela crise", diz o governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho (PSB).
O deputado José Dirceu (SP), presidente nacional do PT, diz que seu partido não vai poupar o governo pelos erros cometidos na área. "Na verdade, são erros de ACM, porque há anos ele controla o Ministério de Minas e Energia", diz Dirceu, referindo-se aos cargos ocupados por "afilhados" do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). Para Dirceu, a crise vai atingir "gravemente" a imagem do governo. "Os apagões representam o início de uma crise administrativa num governo que já enfrenta uma crise política."
(ROBERTO COSSO e RONALD FREITAS)




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