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POLÍTICA NO ESCURO
Líderes da oposição vão usar racionamento contra o governo, mas temem acusação de oportunismo
Sem CPI, apagão dá fôlego a rivais de FHC
RONALD FREITAS
DA REPORTAGEM LOCAL
A presente crise energética tornou-se um tema valioso para os
críticos do governo federal. Sepultada a proposta de CPI da corrupção, a oposição vai se valer da iminência dos apagões e suas consequências para manter a ofensiva
contra o presidente Fernando Henrique Cardoso. O assunto, entretanto, tem sido tratado com prudência por líderes dos partidos de
centro-esquerda, que temem ser
acusados de oportunismo.
"Não se deve tentar obter lucros
de uma circunstância em que o
Brasil inteiro perde, mas é preciso
deixar claro que o governo FHC é
o único responsável pela crise",
diz o governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho (PSB).
O deputado José Dirceu (SP),
presidente nacional do PT, diz
que seu partido não vai poupar o
governo pelos erros cometidos na
política energética. "Na verdade,
são erros de ACM, porque há
anos ele controla o Ministério de
Minas e Energia", diz Dirceu, referindo-se aos cargos ocupados
por "afilhados" do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).
Dirceu afirma acreditar também que a crise energética vai
atingir "gravemente" a imagem
do governo. "Os apagões representam o início de uma crise administrativa num governo que já
enfrenta uma crise política."
O racha na base aliada foi amenizado na semana passada, quando o governo lançou uma megaoperação contra a instalação da
CPI da corrupção no Congresso.
Com ameaças diretas e com liberação de verbas, o governo conseguiu que 20 deputados desistissem de assinar o pedido, impedindo a instalação da CPI.
Alternativa
A estratégia de Garotinho, que
pretende disputar a Presidência
em 2002, é atribuir a FHC toda a
culpa pelo racionamento de energia e propor alternativas. Na próxima reunião do Confaz (Conselho de Política Fazendária, que
reúne os secretários estaduais da
Fazenda), neste mês, vai propor a
redução a zero da alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços que incide sobre
as lâmpadas fluorescentes.
Caso o Confaz discorde, Garotinho vai zerar o ICMS por decreto.
"É preciso estimular as pessoas a
substituir as lâmpadas incandescentes, que consomem 50% a
mais", afirma. Ele disse que abriu
licitação para a troca das lâmpadas dos prédios públicos do Rio.
Já o PT pretende usar o racionamento como ponto de partida para outras críticas. Dirceu também
atribui à "incompetência" do governo FHC a febre aftosa que atinge parte do rebanho bovino do
Rio Grande do Sul, Estado governado pelo petista Olívio Dutra.
Contrário à privatização de Furnas e da Chesf, o presidente do PT
acredita que os apagões devem levar o empresariado a se opor à
venda das duas empresas geradoras de energia. "A população vai
reforçar a péssima imagem que
tem das privatizações", afirma.
Investimento
Garotinho vai ressaltar o investimento na construção de usinas
termoelétricas no Rio. Até dezembro devem entrar em operação
três novas usinas. Até 2004, serão
instaladas outras nove. O investimento total é de US$ 5 bilhões.
Eletrobrás e Petrobrás entram
com parte do dinheiro, mas a
maior parte dos recursos está
saindo do cofre de empresas estrangeiras, segundo Wagner Victer, secretário estadual de Energia,
Indústria Naval e Petróleo.
"Quando o Garotinho assumiu
o governo, em 1999, o Estado importava 78% da energia elétrica
que consumia. Em 2004, vai exportar o excedente", afirma.
O governador de Minas Gerais,
Itamar Franco (PMDB), também
contabiliza o investimento na
construção de nove usinas, que
devem ser inauguradas quando
deixar o governo. Em entrevista
ao colunista Elio Gaspari (leia na
pág. A13), o governador, também
candidato à sucessão presidencial, atribui "à falta de caráter" a
acusação de FHC de que falhas
em sua administração (1992-1994) levaram ao racionamento.
Além da crítica ao governo, a
deputada Luiza Erundina (PSB-SP) quer que a oposição mostre à
população os riscos trazidos pelos
apagões. "É preciso alertar para a
possibilidade de assaltos programados. As campanhas do governo para promover a economia de
energia omitem as dificuldades
que o racionamento trará", diz.
Colaborou ROBERTO COSSO, da Reportagem Local
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