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ENCONTRO VERMELHO
Roteiro, que prevê visitas a três cidades, é semelhante ao que uma delegação do PFL fez no ano passado
Lula vai à China após negociar por 7 anos
CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO
Luiz Inácio Lula da Silva, José
Dirceu e outras lideranças petistas
embarcam hoje rumo à China para uma viagem oficial a convite do
governo do país, com término
previsto para 25 de maio.
O roteiro básico, que prevê visitas a três cidades, é semelhante ao
de uma delegação pefelista que
viajou ao país no ano passado.
Para o Partido Comunista, que
organiza as viagens de delegações
partidárias, a visita petista é, contudo, mais delicada que a do PFL.
O PT e o PC chinês estiveram
rompidos no início dos anos 90,
depois que os petistas condenaram a repressão do Exército ao
movimento estudantil pela democracia, na Praça da Paz Celestial. Na época, junho de 89, Luiz
Inácio Lula da Silva, agora líder da
comitiva petista, comparou o
massacre à invasão do Exército à
Companhia Siderúrgica Nacional, que deixou três mortos.
O reatamento teve que ser aprovado num congresso petista e, em
1994, a visita, que tem início oficial na terça-feira, começou a ser
negociada. Problemas de agenda
provocaram sucessivos adiamentos e, quando tudo estava encaminhado, uma frase da prefeita Marta Suplicy, num seminário do PT
sobre socialismo, em março, voltou a desagradar os chineses. Ela
disse que o modelo chinês, que
mistura abertura econômica a
controle político, torna o país
"pior do que os capitalistas".
Há 15 dias, em almoço na embaixada da China em Brasília, foram acertados os detalhes finais.
A questão dos direitos humanos
é especialmente sensível para a
China. Nas representações diplomáticas no Brasil, os folhetos não
falam sobre o extraordinário crescimento econômico dos últimos
anos, mas sobre a política oficial
de direitos humanos, o Tibete
(onde setores independentistas
acusam o governo chinês de repressão) e a seita Falun Gong, alvo
de uma ofensiva iniciada em 1999.
Por uma questão de imagem, o
PT, um partido que conta com ex-maoístas entre seus dirigentes,
tem que ressaltar a condenação
aos aspectos antidemocráticos do
regime chinês -o que não acontece com o PFL, por exemplo, integrante de um governo que nunca se pronunciou em termos duros em relação à China.
"Modelos distantes"
"A visita nada tem a ver com afinidade político-ideológica. São
modelos distantes", disse Marco
Aurélio Garcia, secretário de Cultura de São Paulo, que foi o principal negociador, em 94, da viagem petista. O "exemplo" chinês
que o PT afirma admirar é a independência do país frente à potência hegemônica, os Estados Unidos, e a capacidade do país de
adotar medidas econômicas e posições internacionais "inteligentes, patrióticas", em defesa de seus
interesses. "O governo chinês dá
resposta à altura aos problemas
da globalização", afirma o presidente do PT, José Dirceu.
"Os chineses preferem lidar
com quem é governo, com os partidos da situação", avalia um diplomata. "A orientação é sobretudo pragmática. Eles têm em mente que Lula lidera as pesquisas e
pode ser presidente." O PC chinês
mantém relações oficiais com cerca de 400 partidos no mundo.
O secretário de Relações Internacionais do PT, Aloizio Mercadante, reforça a tese de que a visita
tem caráter "institucional e de intercâmbio". "Vamos conhecer as
experiências da China nos campos científico, tecnológico e agrícola, entre outros."
Ele diz que não vê como prejuízos eleitorais poderiam ser criados ao partido por visitar um país
comunista. "Por que o PSDB pode ter uma relação com o PC chinês, e nós não? Na semana passada, uma delegação chinesa reuniu-se com tucanos", afirma.
A visita faz parte de uma ofensiva petista que já é um esboço do
que o partido pretende defender
na área de relações externas se
chegar ao poder. A prioridade é
estreitar relações com países latino-americanos e potências regionais como Índia, Líbia e África do
Sul, ao mesmo tempo em que a
relação com os EUA ganha contornos mais críticos. O PT, que já
esteve no México, deve visitar ainda Venezuela e países europeus.
As visitas de delegações partidárias costumam seguir roteiro semelhante ao da comitiva petista:
Pequim (capital), Xangai (centro
econômico e financeiro) e Xi'an
(antiga capital imperial).
Integram a comitiva Lula, Dirceu (ambos com suas mulheres),
o governador do Acre, Jorge Viana, o prefeito de Ribeirão Preto,
Antônio Palocci, e os deputados
federais Paulo Delgado (MG) e
Jacques Wagner (BA), além de
um assessor. A viagem é custeada
pelo governo chinês e pelo PT.
O que poderá demonstrar o
grau de importância que os chineses conferem à visita é o nível dos
encontros que Lula terá. Os petistas apostam em uma reunião com
o presidente do país, Jiang Zemin.
Colaborou a Reportagem Local
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