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PARANÁ
Sucessão de acusações enfraquece o governador;
Assembléia investiga um suposto esquema de escuta telefônica
Lerner vive pior crise
política desde que
assumiu governo
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA
O governador Jaime Lerner
(PFL-PR) está vivendo a pior crise
política desde que assumiu o governo do Paraná em 1995.
O desgaste pode ser medido em
subcrises, mas a gota d'água está
nas investigações da Assembléia
Legislativa do Paraná sobre um
suposto esquema de escuta telefônica a partir do Palácio do Iguaçu
(sede do governo estadual) durante a campanha eleitoral de
1998. O caso foi divulgado há duas
semanas, em depoimento de um
ex-integrante da Casa Militar de
Lerner à CPI da Telefonia.
No centro da crise está seu chefe
de gabinete, Gerson Guelmann,
apontado como o suposto responsável pelos grampos. O objetivo seria monitorar oposicionistas,
Judiciário, imprensa e até aliados
no Legislativo.
Guelmann, apelidado por seus
adversários de ""Rasputin", em referência à mais famosa eminência
parda dos anos finais da dinastia
Romanov, chegou a pedir demissão. O pedido não foi aceito.
Na sexta-feira, Guelmann assumiu ter recebido uma fita anônima que acabou usada para acionar a Polícia Federal e evitar a distribuição de um jornal de campanha do adversário de Lerner em
98, o senador Roberto Requião
(PMDB), com ataques ao pefelista. Mas disse não saber de onde
veio a gravação.
As denúncias envolvendo o grupo político de Lerner começaram
a se avolumar após sua reeleição,
em 1998. Em 2000, Lerner viu seu
principal aliado no interior do Estado, o ex-prefeito de Londrina
Antônio Belinati, ser cassado e
preso, acusado de corrupção.
O Ministério Público do Paraná
investiga desvios de dinheiro público que teria sido usado na campanha pela sua reeleição. Adicionando drama político, Belinati é
marido da vice-governadora,
Emília Belinati (PTB).
Outro aliado de Lerner, o ex-prefeito de Maringá Jairo Gianoto
também foi afastado acusado de
corrupção. O Tribunal de Contas
do Paraná já comprovou desvios
de R$ 107 milhões no município.
Por fim, o Ministério Público está pedindo o afastamento do prefeito da capital, o afilhado político
Cássio Taniguchi (PFL), por contratos supostamente irregulares
-o que ele nega.
O governo do Estado também é
alvo de apurações. Ação dos Ministérios Públicos estadual e federal investiga desvios de US$ 226
milhões, entre 1996 e 1997, no Banestado Leasing.
A sucessão de casos e o endividamento do Estado provocaram
o afastamento de antigos aliados.
Segundo a oposição, Lerner assumiu o governo em 1995 com uma
dívida de R$ 1,2 bilhão e hoje a dívida chega a R$ 13 bilhões. Alceni
Guerra, chefe da Casa Civil, diz
que a dívida é de R$ 7,8 bilhões.
Segundo Hermas Brandão
(PTB), presidente da Assembléia
e ex-secretário da Agricultura no
primeiro governo de Lerner, a base aliada está ""acuada com a sucessão de crises". Ele vê risco até
da formulação de um pedido de
impeachment.
Além das denúncias, uma decisão política divide o Estado: a opção pela privatização da Copel
(Companhia Paranaense de Energia Elétrica). Os deputados estaduais Algaci Túlio (PTB) e Tony
Garcia (PPB), antes aliados incondicionais do governador, hoje se
colocam na frente oposicionista.
Segundo Brandão, a coleta de
assinaturas contra a privatização,
promovida pelo movimento Fórum Popular, soma 3.000 adesões.
A partir daí, seria proposta uma
ação na Justiça e uma política, pedindo o impeachment.
Nelton Friedrich, coordenador-executivo do Fórum Popular, disse que o principal objetivo da entidade é reunir as 63 mil assinaturas necessárias para apresentar
um projeto de lei de iniciativa popular contra o leilão.
Friedrich é presidente do PDT,
partido pelo qual Lerner foi eleito
em seu primeiro mandato. Segundo ele, ""o Paraná vive uma situação incomum, em que não
passa uma semana sem que se tenha um novo escândalo".
Ele aponta a vice, Emília Belinati, como principal foco de pressão
sobre Lerner -devido às denúncias contra seu marido. Sua situação é complicada até dentro de
seu partido. O presidente nacional do PTB, deputado José Carlos
Martinez, defende sua expulsão.
Para a assessoria da vice, ela ""tem
intenção" de deixar a sigla.
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