São Paulo, domingo, 13 de maio de 2001

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PARANÁ

Sucessão de acusações enfraquece o governador; Assembléia investiga um suposto esquema de escuta telefônica

Lerner vive pior crise política desde que assumiu governo

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA

O governador Jaime Lerner (PFL-PR) está vivendo a pior crise política desde que assumiu o governo do Paraná em 1995.
O desgaste pode ser medido em subcrises, mas a gota d'água está nas investigações da Assembléia Legislativa do Paraná sobre um suposto esquema de escuta telefônica a partir do Palácio do Iguaçu (sede do governo estadual) durante a campanha eleitoral de 1998. O caso foi divulgado há duas semanas, em depoimento de um ex-integrante da Casa Militar de Lerner à CPI da Telefonia.
No centro da crise está seu chefe de gabinete, Gerson Guelmann, apontado como o suposto responsável pelos grampos. O objetivo seria monitorar oposicionistas, Judiciário, imprensa e até aliados no Legislativo.
Guelmann, apelidado por seus adversários de ""Rasputin", em referência à mais famosa eminência parda dos anos finais da dinastia Romanov, chegou a pedir demissão. O pedido não foi aceito.
Na sexta-feira, Guelmann assumiu ter recebido uma fita anônima que acabou usada para acionar a Polícia Federal e evitar a distribuição de um jornal de campanha do adversário de Lerner em 98, o senador Roberto Requião (PMDB), com ataques ao pefelista. Mas disse não saber de onde veio a gravação.
As denúncias envolvendo o grupo político de Lerner começaram a se avolumar após sua reeleição, em 1998. Em 2000, Lerner viu seu principal aliado no interior do Estado, o ex-prefeito de Londrina Antônio Belinati, ser cassado e preso, acusado de corrupção.
O Ministério Público do Paraná investiga desvios de dinheiro público que teria sido usado na campanha pela sua reeleição. Adicionando drama político, Belinati é marido da vice-governadora, Emília Belinati (PTB).
Outro aliado de Lerner, o ex-prefeito de Maringá Jairo Gianoto também foi afastado acusado de corrupção. O Tribunal de Contas do Paraná já comprovou desvios de R$ 107 milhões no município.
Por fim, o Ministério Público está pedindo o afastamento do prefeito da capital, o afilhado político Cássio Taniguchi (PFL), por contratos supostamente irregulares -o que ele nega.
O governo do Estado também é alvo de apurações. Ação dos Ministérios Públicos estadual e federal investiga desvios de US$ 226 milhões, entre 1996 e 1997, no Banestado Leasing.
A sucessão de casos e o endividamento do Estado provocaram o afastamento de antigos aliados. Segundo a oposição, Lerner assumiu o governo em 1995 com uma dívida de R$ 1,2 bilhão e hoje a dívida chega a R$ 13 bilhões. Alceni Guerra, chefe da Casa Civil, diz que a dívida é de R$ 7,8 bilhões.
Segundo Hermas Brandão (PTB), presidente da Assembléia e ex-secretário da Agricultura no primeiro governo de Lerner, a base aliada está ""acuada com a sucessão de crises". Ele vê risco até da formulação de um pedido de impeachment.
Além das denúncias, uma decisão política divide o Estado: a opção pela privatização da Copel (Companhia Paranaense de Energia Elétrica). Os deputados estaduais Algaci Túlio (PTB) e Tony Garcia (PPB), antes aliados incondicionais do governador, hoje se colocam na frente oposicionista.
Segundo Brandão, a coleta de assinaturas contra a privatização, promovida pelo movimento Fórum Popular, soma 3.000 adesões. A partir daí, seria proposta uma ação na Justiça e uma política, pedindo o impeachment.
Nelton Friedrich, coordenador-executivo do Fórum Popular, disse que o principal objetivo da entidade é reunir as 63 mil assinaturas necessárias para apresentar um projeto de lei de iniciativa popular contra o leilão.
Friedrich é presidente do PDT, partido pelo qual Lerner foi eleito em seu primeiro mandato. Segundo ele, ""o Paraná vive uma situação incomum, em que não passa uma semana sem que se tenha um novo escândalo".
Ele aponta a vice, Emília Belinati, como principal foco de pressão sobre Lerner -devido às denúncias contra seu marido. Sua situação é complicada até dentro de seu partido. O presidente nacional do PTB, deputado José Carlos Martinez, defende sua expulsão. Para a assessoria da vice, ela ""tem intenção" de deixar a sigla.


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