São Paulo, quarta, 13 de maio de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cerca separa terra seca de terra irrigada

da Agência Folha, em Itabaiana

A cerca do projeto Califórnia separa duas realidades em Canindé do São Francisco (SE). A seca está de um lado e a água abundante do outro. Lotes de lavradores no projeto produzem diversas culturas ao lado de propriedades de parentes que estão enfrentando dificuldades com a seca.
A fazenda Bela Vista está a menos de dois quilômetros de distância da área do projeto Califórnia, no extremo norte de Sergipe.
A propriedade pertence ao marido da aposentada Maria Valdice Santos, 66, que mora na casa da fazenda com nove pessoas. Todas vivem do salário mínimo que ela recebe como aposentadoria.
O pasto da Bela Vista está cinza. A água do barreiro (tipo de tanque que abastece a criação) secou. O gado está magro e algumas cabeças não têm força para ficar em pé.
Situação oposta vive o genro de Maria Valdice. Marciano Mariano de Souza, 42, está terminando a construção da nova casa dentro de seus dois hectares localizado no projeto Califórnia.
Lá, ele produz quiabo, abóbora, coco e mandioca. A maior parte da produção é vendida a atravessadores, que revendem os produtos em Aracaju (SE) e Salvador (BA).
Souza disse que agradece a Deus por ter um lote dentro do projeto, principalmente nesta época de seca. "Eu vejo o sofrimento dos meus próprios parentes e sei o valor que tem um projeto desses de trazer água para a plantação."
O lavrador disse que, com a renda de R$ 600 mensais, dá estudo para os cinco filhos e contribui para o pagamento do trator adquirido pela associação dos moradores.
Em Itabaiana, o lavrador José Francisco Santos Nascimento conseguiu um dos 236 lotes que o governo entregou dentro do projeto Jacarecica. Ele diz que teria dificuldade para criar os oito filhos sem o atendimento que lhe proporciona a irrigação.
Enquanto parte dos seis filhos homens trabalham cultivando pimentão e amendoim na lavoura, os outros cuidam de comercializar a produção na feira de Itabaiana, a maior do interior de Sergipe.
"Eu gostaria que meus filhos conseguissem também um lote para eles se houvesse mais desses projetos", diz Nascimento, que possui casa e veículos comprados com o trabalho na lavoura.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.