São Paulo, quarta-feira, 13 de junho de 2001

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ROMBO AMAZÔNICO

Partidos não chegam a acordo sobre forma de atuação

Investigação do caso Jader racha oposição e divide PT

DENISE MADUEÑO
VERA MAGALHÃES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A forma de lidar com as acusações feitas ao presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), rachou os partidos de oposição. Há divergências tanto entre os partidos do bloco de oposição como internas no PT.
A bancada do PT na Câmara adotou um comportamento mais duro: decidiu obstruir todas as sessões do Congresso, que são presididas por Jader, enquanto o senador não se afastar do cargo ou enquanto não for instalada uma comissão com poderes para investigar as denúncias de corrupção contra ele.
"Jader não tem condições de presidir o Congresso com esse conjunto de denúncias sem explicação", afirmou o líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro (BA).
Os deputados petistas ficaram sozinhos. A proposta foi rejeitada pelos líderes do PPS e do PDT no Senado. Na Câmara, é consenso na oposição obstruir a votação da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), mas a obstrução anti-Jader será discutida posteriormente. "Obstrução democrática é legítima. Não é esse o caso", disse o líder do PPS no Senado, Paulo Hartung (ES). "Não constrangerei o senador a obstruir nada do governo, que ele apóia", retrucou o deputado Milton Temer (PT-RJ).
O racha ficou evidente nas conversas após as reuniões. Os senadores consideravam "vedetismo" a proposta da Câmara, enquanto deputados criticavam a indefinição do Senado.
A proposta de um pedido de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) específica para investigar as denúncias contra Jader, defendida pelo PPS e PDT do Senado, também não teve respaldo.
No final, a proposta aceita, sem muito entusiasmo, foi a de CPI mista, formada por deputados e senadores, com três itens: sistema financeiro (casos Marka, FonteCindam e Banpará), denúncias contra Eduardo Jorge Pereira, ex-secretário-geral da Presidência, e financiamentos de órgãos públicos (casos Sudam e TDAs -Títulos da Dívida Agrária).
Na defesa da CPI específica contra Jader, os partidos argumentaram que essa seria a melhor forma de mostrar que a oposição se dispõe a investigar o senador, afastando um boato de acordão para poupá-lo. O PT, que defendeu a CPI mais ampla, argumentou que não poderia excluir a investigação contra o governo (prevista no requerimento da CPI da corrupção), sob pena de ser acusado de beneficiar o Executivo.
"A ofensiva da oposição é para apurar não só as denúncias contra Jader, mas a corrupção de um modo geral", disse o líder do bloco de oposição no Senado, José Eduardo Dutra (PT-SE).
Além do pedido de CPI, a oposição vai apresentar denúncia ao Conselho de Ética pedindo o rastreamento do suposto cheque, de valor equivalente a US$ 4 milhões, que teria sido entregue a Jader em uma negociação com TDAs (Títulos da Dívida Agrária) emitidos de forma fraudulenta.
O pedido será com base na nova lei do sigilo bancário, que prevê que o plenário do Senado pode, por maioria absoluta, pedir informações protegidas por sigilo.
O caminho da proposta é tortuoso, e sua aprovação, considerada improvável: o conselho teria de mandar um requerimento ao plenário pedindo para rastrear o cheque. Além disso, parte da oposição teme que, se o cheque não for localizado, Jader ainda ganhe uma espécie de "salvo-conduto" do conselho.
A direção do PT está irritada com a indefinição da bancada do partido no Senado. Ontem, após a reunião, deputados petistas criticavam a proposta aprovada. Hoje, o líder Luiz Inácio Lula da Silva se encontra com Dutra para dar apoio a ele e tentar unificar o discurso do partido no Congresso.


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