São Paulo, quinta-feira, 13 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RUMO ÀS ELEIÇÕES

Subsecretário do Tesouro americano elogia fundamentos econômicos do Brasil e atribui turbulências às eleições

EUA dizem esperar "governo clone" de FHC

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Os EUA "esperam muito" que o próximo presidente brasileiro mantenha a mesma disciplina fiscal e o controle de inflação implementados durante o governo FHC. A mensagem foi divulgada ontem pelo subsecretário para assuntos internacionais do Tesouro dos EUA, John Taylor, para quem a presente turbulência nos mercados brasileiros foi causada por "incertezas políticas com relação às eleições de outubro".
O subsecretário disse, no entanto, que essas incertezas devem sumir com o tempo. "Os fundamentos de política econômica do Brasil permanecem bons, e as incertezas dos mercados financeiros com relação às eleições deverão se acalmar com o tempo", afirmou ele em entrevista a agências de notícias em Washington.
Taylor destacou especialmente as metas de inflação e o superávit fiscal primário entre os fundamentos que deveriam ser preservados por quem assumir o governo brasileiro em janeiro de 2003.
"Espero muito que esses fundamentos permaneçam, independentemente de quem for eleito", disse. "Os efeitos nos mercados... virtualmente todas as pessoas dizem que eles estão relacionados com incertezas sobre as eleições... desaparecerão com o tempo."
Segundo o subsecretário, as metas de inflação alcançaram sucesso ao impedir que o aumento descontrolado de preços "voltasse a ser um fator desestabilizador, como era no Brasil nos anos anteriores". Taylor disse que o governo brasileiro "continua progredindo na redução do déficit fiscal", indicando que, para os EUA, trata-se de uma tarefa não concluída e que poderá exigir esforço complementar. Ele não fez qualquer referência à dívida pública brasileira.
Dentro da administração do presidente George W. Bush, Taylor é o principal funcionário responsável pelo acompanhamento das finanças internacionais. Junto com seu chefe direto (o secretário do Tesouro, Paul O'Neill), Taylor desenhou a política "linha-dura" dos EUA para a Argentina. Essa política pauta as negociações do FMI com o presidente Eduardo Duhalde. "Estamos observando de perto o Brasil", disse Taylor. "Assim como a Argentina, o Uruguai e os outros países da região".
Da mesma forma que fizeram outras autoridades americanas recentemente, Taylor evitou mencionar nomes de candidatos brasileiros ou associar diretamente a responsabilidade fiscal do atual governo a algum partido.
Segundo disse à Folha um funcionário da administração americana, tal cuidado visa evitar acusações de interferência dos EUA no processo eleitoral brasileiro e preservar as relações da Casa Branca, do Departamento de Estado e do Tesouro com o próximo presidente, seja ele quem for.
O funcionário afirmou que nenhuma autoridade americana deverá repetir frases como as do megainvestidor George Soros, que disse que os mercados obrigarão o Brasil a tomar só duas opções: eleger José Serra (PSDB) ou a mergulhar no caos com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).


Texto Anterior: Evento: Palestra debate hoje jornalismo na internet
Próximo Texto: Inventor do "lulômetro" é advertido por banco
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.