São Paulo, domingo, 13 de junho de 2004

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CULTURA E BARBÁRIE

Catedral e Teatro Municipal são exemplos de obras na capital que estão em estado deplorável de conservação

Cartões-postais de Brasília estão abandonados

ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os principais cartões-postais da cidade de Brasília, como a catedral e o Teatro Municipal, encontram-se em um estado deplorável de conservação.
Na semana passada, a Folha visitou importantes marcos da arquitetura moderna brasileira e acervos de arte públicos e privados. Encontrou o resultado do descaso das autoridades públicas, da escassez de recursos e da falta de consciência de usuários e donos de obras com o patrimônio cultural nacional.
A catedral, um dos pontos turísticos mais visitados da capital, está com sua cobertura, um vitral composto por 16 painéis de fibra de vibro, totalmente avariada. É impossível encontrar um painel que não esteja estilhaçado.
A igreja, que pertence a Arquidiocese de Brasília, foi projetada por Oscar Niemeyer, em 1957. Os vitrais, a pedido do arquiteto, foram encomendados a Marianne Peretti, artista plástica francesa, que veio para o Brasil em 1956.
Restaurar o vitral custará R$ 3 milhões, segundo o monsenhor Marcony Vinicius, responsável pela catedral. "Nós não temos o dinheiro", diz o padre.
O prédio é uma das três obras individualmente tombadas, em Brasília, pela Unesco (braço das Nações Unidas para a educação e a cultura), como patrimônio da humanidade.

Di Cavalcanti
Na nave central da catedral de Brasília, mais um exemplo do descuido. Na parede de mármore da loja no interior da igreja há 15 quadros de Di Cavalcanti (1897-1976) que contam os passos da Paixão de Cristo. Todos precisam de restaurações. As cores desbotaram e, mais grave, em vários trechos não há mais vestígio das pinceladas de um dos mais valorizados artistas do Brasil -é possível ver a trama da tela.
Do outro lado da Esplanada dos Ministérios, em frente à catedral, fica o Teatro Nacional, outro projeto de Niemeyer. A fachada principal, um alto relevo de cubos assimétricos de metais, é de Athos Bulcão. Ele apelidou sua obra favorita de "o sol faz festa". Turistas escalam os cubos. A falta de conservação também provocou ferrugens, que escorrem e mancham a parede do teatro.
"A aparência dá margem a especulações maiores. Não há risco de degradação", diz o secretário de Cultura do Distrito Federal, Pedro Borio. Segundo ele, o projeto para a restauração do teatro, que incluirá obras estruturais, está pronto para ser iniciado.
"O governo do Distrito Federal está muito atento a essa questão. Estamos estudando todos os aspectos e as providências que podem ser tomadas", diz o secretário, sobre as demais obras da capital que precisam de cuidados.

Cartão rasurado
Nem o cartão de visita para chefes de Estado e autoridades estrangeiras que visitam o Brasil é exceção. O símbolo do Ministério das Relações Exteriores, a escultura "O Meteoro", em mármore, de Bruno Giorgi (1905-1993), que orna a frente do palácio precisa de reparos urgentes.
A treliça de Athos Bulcão, pano de fundo dos pronunciamentos conjuntos do presidente com seus pares estrangeiros, também precisa de uma restauração. O Itamaraty diz que identificou os problemas e iniciou o processo para fazer as intervenções necessárias.
Das quase dez obras visitadas pela Folha, apenas duas estão em bom estado: o Memorial JK e a Praça dos Três Poderes. As demais se enquadram no desabafo do superintendente regional de Brasília do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), Cláudio Queiroz: "As obras extraordinárias de Brasília não estão sendo mantidas, quem dirá conservadas".



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