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CAMPANHA NA TV/ANÁLISE
A nova Globo, ou 30 anos em 4 noites
FERNANDO DE BARROS E SILVA
EDITOR DE BRASIL
As entrevistas que o "Jornal Nacional" levou ao ar ao vivo com os
presidenciáveis lançam muito
mais luz sobre a Rede Globo do
que sobre o futuro do país.
Para os candidatos, a oportunidade representou uma das últimas chances de aparecer diante
de milhões de pessoas antes do
horário eleitoral gratuito, no qual
a disputa será decidida. Para a
Globo, a bateria de entrevistas significou o primeiro grande teste
para reparar atentados históricos
da emissora contra a democracia.
Enquanto os primeiros se esforçaram para atingir as massas, a
Globo se empenhou sobretudo
para dizer aos formadores de opinião que agora ali se pratica jornalismo, sim senhor.
A prova dos nove da emissora,
por razões óbvias, foi a terceira
entrevista da série, com o candidato oficial. E o casal 20 do telejornalismo o tratou como gente
grande. Não se furtou de fazer o
roteiro da pauta de perguntas embaraçosas -de Ricardo Sérgio à
dengue, da fama de desagregador
que Serra carrega às acusações de
arapongagem contra adversários.
A lição de casa foi feita. A pretensão maior da Globo talvez fosse a de dissolver 30 anos de escuridão em quatro noites luminosas.
Não dá. É breu demais para pouca
luz. Mas o saldo da série, ainda assim, foi positivo.
William Bonner afastou a impressão de que é uma versão atualizada de Cid Moreira. Se Fátima
Bernardes voltou consagrada da
cobertura da Copa, foi sobretudo
Bonner quem conduziu as entrevistas, em geral bem feitas, críticas
e equilibradas.
O aspecto por assim dizer frustrante desse esforço de jornalismo
é o resultado algo empostado do
conjunto, como a denunciar que
o debate democrático está a cargo
do show midiático, e não o contrário. Do cenário futurista e hospitalar do estúdio, que lembra filmes de ficção científica, ao comportamento ensaiado dos personagens, toda a mis en scène reforça a sensação de que o teatro prevalece sobre a política. No fundo,
ele é°°a política. A performance de
cada um importa mais que o
enredo -e é da primeira que estamos falando quando comentamos quase automaticamente que
"fulano se saiu bem". Se é verdade
que este é um traço definidor da
TV, no horário nobre da Globo
ele é quase sufocante.
A crítica que se deve fazer desse
jornalismo que se descobre à medida que tenta expiar fantasmas
do passado tem de ser a um só
tempo mais profunda e mais matizada, mais estrutural e mais cirúrgica. Quem quis encontrar
grandes manipulações, favorecimentos, omissões ou compromissos na série de entrevistas do
"JN" saiu com as mãos vazias.
Em 98, a Globo já havia dado
ampla visibilidade a uma campanha que na prática não existiu. O
que a emissora então camuflava
do público não era Lula, quase decorativo, mas a bola de neve que
se formava sobre o país do câmbio artificialmente apreciado,
presa fácil da crise internacional.
Hoje, até mais do que antes, o
noticiário econômico volta a ocupar o centro do debate. Há um clima de terror no ar. Já será um
avanço se a emissora que detém o
monopólio branco da audiência
não transformar a eleição numa
espécie de trem fantasma.
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