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São Paulo, domingo, 13 de julho de 2003

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NA EUROPA

Brasileiros pedem emprego

Lula enfrenta críticas e romaria em Portugal

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PORTUGAL

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva passeou ontem, inadvertidamente, por uma espécie de "pátio dos milagres" brasileiro em Portugal: a cada passo, trombava com brasileiros emocionados e trêmulos por encontrá-lo, mas chorosos pelos problemas que enfrentam e pelo país que deixaram.
Por isso, o presidente acabou levando 40 minutos para percorrer os meros 300 metros da antiga rua Direita (hoje Frederico Arouca), o calçadão do porto de Cascais, a cerca de 30 km de Lisboa.
Mal saiu do Hotel Albatroz, refúgio da família real portuguesa no século 19, em cujo restaurante comeu bacalhau, Lula deu de cara com um rapaz do Paraná, que o abraçou, tirou fotos com ele e fez o pedido que poderia ser a síntese da caminhada: "Melhora o Brasil que eu volto".
Ao lado de Lula e de sua mulher, Marisa Letícia, o presidente de Portugal, Jorge Sampaio (socialista), e o primeiro-ministro, José Manuel Durão Barroso (conservador), foram somente atores coadjuvantes do pequeno banho de multidão de que o presidente brasileiro participava.

Abraços e pedidos
Parecia uma resposta às críticas do semanário "Expresso" e do jornal "Público", para os quais "faltou povo" e faltou festa à visita de Estado do presidente brasileiro a Portugal, ontem encerrada.
De cada três brasileiros que paravam Lula para cumprimentá-lo ou tirar fotos, dois estavam em situação irregular, alguns desempregados.
Caso da paraibana Maria do Socorro Araújo, que se apresentou como professora e chorou copiosamente no ombro de Lula, pedindo emprego. O presidente chamou o embaixador brasileiro José Gregori, apresentou-o a Maria do Socorro e pediu que ela o procurasse depois.
Nem só de desemprego e clandestinidade era feito o "pátio dos milagres" da rua Direita de Cascais. Houve também a queixa de um bioquímico, que está fazendo pós-graduação em Portugal, e reclamou de Lula da dificuldade de encontrar trabalho nas universidades brasileiras.
De longe, na janela do restaurante "Gordinni", outro brasileiro acenava timidamente para o presidente, com o uniforme do restaurante no corpo e o desenho da bandeira brasileira na bandana.
Lula deu autógrafo até em balão do McDonald, antigo demônio da esquerda, levado pela menina Flávia Guimarães, 6 anos, para alegria muito maior da mãe, Áurea, que se apresentou como eleitora e militante do PT.

Atração turística
Nem tudo eram dramas no calçadão. Turistas também pediam fotos e autógrafos do presidente, que, na agenda de uma estudante paulista, escreveu, como se ainda estivesse na campanha de 1989: "Sem medo de ser feliz".
Quando a caminhada chegou ao fim na praça Costa Pinto, outra turista pediu uma foto com ele, mas, rispidamente, avisou: "Eu não votei em você". Deu-lhe as costas e foi-se embora.
Lula despediu-se dos dois mandatários portugueses, visivelmente encantados com o colega brasileiro, a ponto de Durão Barroso ter dito, como demonstração da humildade de Lula: "Ele sabe que o Brasil é maior que ele".


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