São Paulo, quarta-feira, 13 de julho de 2005

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Historiadores negam "colombização"

DA REDAÇÃO

Historiadores ouvidos pela Folha não vêem fundamento na tese do presidente do PT, Tarso Genro, de que "o Brasil pode entrar numa situação de anomia semelhante à da Colômbia" se as "classes populares não tiverem um mediador democrático dentro do Estado de Direito, como o PT".
Segundo Marco Antonio Villa, 49, professor da Universidade Federal de São Carlos, Tarso provavelmente quer dizer que "os movimentos sociais, que hoje são controlados pelo PT, buscam a via institucional para apresentar suas reivindicações; caso o PT seja de tal forma enfraquecido, vai predominar uma via insurrecional, e aí o Estado vai ter de partir para a repressão aberta. Então dêem graças a Deus por terem o PT, porque o PT controla as massas".
"A entrevista [de Tarso] pode ser entendida como uma ameaça aos opositores: dêem uma trégua ao PT, caso contrário nós colocamos as massas na rua. Doce ilusão, porque as massas não vão defender o PT. As massas que irão às ruas serão os assessores [do partido]. É um grupo, de 2.000, 3.000, 4.000 pessoas, que deve se aventurar a ir às ruas. Agora, as massas, certamente, não irão", declarou.
Segundo Villa, o PT não é mais um partido de massas, mas um partido de assessores: "Muitos militantes foram saindo do partido, que agora vive a crise mais grave de sua história. Desde que o PT começou a ganhar suas primeiras prefeituras, consolidou seu domínio no campo sindical e passou a controlar fundos de pensão, tudo isso criou um grupo de militantes profissionais e de assessores que não voltaram ao mercado de trabalho. Tem pessoas que estão há 20, 25 anos sem saber o que é o pagamento de um salário no mercado de trabalho".
A comparação do Brasil com a Colômbia é "um equívoco, porque não há nenhuma relação entre a situação que nós vivemos hoje no Brasil com a da Colômbia. A única coisa é que nós vivemos no mesmo continente. Não há nenhuma similitude entre a situação política brasileira e a situação colombiana. No caso da Colômbia você tem territórios liberados, você tem uma crise das instituições de Estado que vem desde o final dos anos 50. Não há qualquer paralelo com o Brasil no qual as instituições democráticas, mal ou bem, continuam funcionando".
O professor Manolo Florentino, 47, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, não vê nenhum sentido na tese da "colombização" do Brasil. Para ele, a frase mostra um traço de arrogância: "Onde é que já se viu o PT como o canal da democracia no Brasil? O PT se arrogar a representante efetivo das forças democráticas do Brasil, isso em primeiro lugar é arrogância. Em segundo lugar, a analogia com a Colômbia não tem nada a ver: um país que está há 40 anos em guerra civil. Isso é absurdo vindo de um ministro da Educação". Segundo Florentino, "o PT não é o monopolizador da democracia nem é a única fiança que a democracia tem neste país".
Luiz Alberto Moniz Bandeira, 69, professor emérito da Universidade de Brasília, também não vê "nenhuma situação parecida com a da Colômbia. O Brasil é um país industrializado, com uma população urbana muito maior do que a população rural, e qualquer tentativa de guerrilha, similar à que ocorre na Colômbia, estaria destinada ao fracasso, como já ocorreu no passado. Além do mais, há muitas outras diferenças que não avalizam uma previsão como a que fez Tarso Genro. Não creio, entretanto, que o PT venha a ser destituído. O que existe por trás dos escândalos é um intento de impedir a reeleição de Lula, porque a oposição não dispõe até agora de nenhum nome que lhe possa fazer frente. Escândalos maiores e mais graves ocorreram em governos anteriores e não foram tão intensamente explorados. Grandes corruptos e corruptores não foram punidos".
Moniz Bandeira considera que o PT continua sendo "um mediador das forças populares, como foi no passado o PTB". Ele exerce "um papel muito importante, como alternativa política social-democrata. Ele desenvolve uma política exterior conseqüente e soberana e executa uma política econômica responsável, não obstante algumas críticas que se lhe possam fazer. Daí a popularidade que o presidente Lula mantém, pois é um homem íntegro e honesto".


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