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Historiadores negam "colombização"
DA REDAÇÃO
Historiadores ouvidos pela Folha não vêem fundamento na tese
do presidente do PT, Tarso Genro, de que "o Brasil pode entrar
numa situação de anomia semelhante à da Colômbia" se as "classes populares não tiverem um
mediador democrático dentro do
Estado de Direito, como o PT".
Segundo Marco Antonio Villa,
49, professor da Universidade Federal de São Carlos, Tarso provavelmente quer dizer que "os movimentos sociais, que hoje são
controlados pelo PT, buscam a via
institucional para apresentar suas
reivindicações; caso o PT seja de
tal forma enfraquecido, vai predominar uma via insurrecional, e
aí o Estado vai ter de partir para a
repressão aberta. Então dêem
graças a Deus por terem o PT,
porque o PT controla as massas".
"A entrevista [de Tarso] pode
ser entendida como uma ameaça
aos opositores: dêem uma trégua
ao PT, caso contrário nós colocamos as massas na rua. Doce ilusão, porque as massas não vão defender o PT. As massas que irão às
ruas serão os assessores [do partido]. É um grupo, de 2.000, 3.000,
4.000 pessoas, que deve se aventurar a ir às ruas. Agora, as massas,
certamente, não irão", declarou.
Segundo Villa, o PT não é mais
um partido de massas, mas um
partido de assessores: "Muitos
militantes foram saindo do partido, que agora vive a crise mais
grave de sua história. Desde que o
PT começou a ganhar suas primeiras prefeituras, consolidou
seu domínio no campo sindical e
passou a controlar fundos de pensão, tudo isso criou um grupo de
militantes profissionais e de assessores que não voltaram ao
mercado de trabalho. Tem pessoas que estão há 20, 25 anos sem
saber o que é o pagamento de um
salário no mercado de trabalho".
A comparação do Brasil com a
Colômbia é "um equívoco, porque não há nenhuma relação entre a situação que nós vivemos hoje no Brasil com a da Colômbia. A
única coisa é que nós vivemos no
mesmo continente. Não há nenhuma similitude entre a situação
política brasileira e a situação colombiana. No caso da Colômbia
você tem territórios liberados, você tem uma crise das instituições
de Estado que vem desde o final
dos anos 50. Não há qualquer paralelo com o Brasil no qual as instituições democráticas, mal ou
bem, continuam funcionando".
O professor Manolo Florentino,
47, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, não vê nenhum sentido na tese da "colombização" do Brasil. Para ele, a frase
mostra um traço de arrogância:
"Onde é que já se viu o PT como o
canal da democracia no Brasil? O
PT se arrogar a representante efetivo das forças democráticas do
Brasil, isso em primeiro lugar é arrogância. Em segundo lugar, a
analogia com a Colômbia não tem
nada a ver: um país que está há 40
anos em guerra civil. Isso é absurdo vindo de um ministro da Educação". Segundo Florentino, "o
PT não é o monopolizador da democracia nem é a única fiança
que a democracia tem neste país".
Luiz Alberto Moniz Bandeira,
69, professor emérito da Universidade de Brasília, também não vê
"nenhuma situação parecida com
a da Colômbia. O Brasil é um país
industrializado, com uma população urbana muito maior do que
a população rural, e qualquer tentativa de guerrilha, similar à que
ocorre na Colômbia, estaria destinada ao fracasso, como já ocorreu
no passado. Além do mais, há
muitas outras diferenças que não
avalizam uma previsão como a
que fez Tarso Genro. Não creio,
entretanto, que o PT venha a ser
destituído. O que existe por trás
dos escândalos é um intento de
impedir a reeleição de Lula, porque a oposição não dispõe até
agora de nenhum nome que lhe
possa fazer frente. Escândalos
maiores e mais graves ocorreram
em governos anteriores e não foram tão intensamente explorados. Grandes corruptos e corruptores não foram punidos".
Moniz Bandeira considera que
o PT continua sendo "um mediador das forças populares, como
foi no passado o PTB". Ele exerce
"um papel muito importante, como alternativa política social-democrata. Ele desenvolve uma política exterior conseqüente e soberana e executa uma política econômica responsável, não obstante
algumas críticas que se lhe possam fazer. Daí a popularidade que
o presidente Lula mantém, pois é
um homem íntegro e honesto".
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