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Relatório afirma, sem provas, que grupos "manipulam" mídia
DA REPORTAGEM LOCAL
O relatório final da Operação
Satiagraha, assinado pelo delegado da Polícia Federal Protógenes Pinheiro de Queiroz, diz
que os supostos grupos criminosos do banqueiro Daniel Valente Dantas e do investidor
Naji Robert Nahas "manipulam" a mídia. As supostas conversas, parte da atividade dos
jornalistas, são o único "indício" apontado por Queiroz.
O relatório diz também que
Roberto D'Ávila, da "TVE Brasil", recebeu R$ 50 mil em 2007
de Nahas. D'Ávila disse ontem à
Folha que a remuneração se
deve a trabalho feito pela sua
empresa, a CDN, uma pesquisa
de opinião sobre a imagem de
Nahas na mídia.
"Até que gostaria, mas nunca
entrevistei Nahas ou Dantas no
meu programa", disse D"Ávila,
que não foi ouvido pelo delegado. Ao citar outros jornalistas,
Queiroz errou dois nomes. E
não ouviu nenhum jornalista,
antes ou depois do relatório.
O documento se refere à jornalista da Folha Andréa Michael como "integrante da organização criminosa", "travestida de correspondente da [sic]
jornal Folha de São Paulo na
cidade de Brasília". Michael foi
autora de reportagem, em
abril, que antecipou, com exclusividade, a operação da PF.
O delegado ficou contrariado
com a revelação e registrou isso
no relatório. Pediu também a
prisão temporária de Michael e
busca e apreensão em sua casa,
ambos negados pelo juiz.
Em nota, o jornal disse que
"a Folha de S.Paulo repele insinuações de que o comportamento da repórter Andréa Michael não tenha sido correto. A
repórter apurou fatos de notório interesse público relatados
em texto publicado pela Folha
em abril". A nota dizia ainda
que "tentativas de envolver a
profissional da Folha no inquérito só podem ser entendidas como esforço inútil de intimidar a equipe de reportagem
do jornal e retaliar quem cumpriu com sua obrigação". Michael é repórter da Sucursal da
Folha em Brasília há oito anos.
O delegado escreve ainda que
as revistas "IstoÉ Dinheiro" e
"Veja" estão "a serviço do grupo de Dantas." Cita os colunistas Diogo Mainardi e Lauro
Jardim. Este teria feito uma reportagem -"Rumo à Supertele"- considerada "favorável" a
investigados. Procurado pela
Folha, Mainardi comentou: "É
uma citação bisonha, uma patetice que infelizmente pode
colaborar para que quadrilheiros escapem". Jardim afirmou:
"A reportagem citada é jornalisticamente impecável".
O delegado citou ainda Leonardo Attuch, editor da "IstoÉ
Dinheiro" e colunista da "IstoÉ", que teria feito "artigos
jornalísticos "encomendados'".
Attuch disse, por e-mail: "É
mais uma tentativa de intimidação. Como jornalista, tenho
direito de entrevistar o presidente ou um presidiário, sem
preconceito. Sou alvo de leviandades da PF desde 2004".
Queiroz diz que jornalistas
falam "quase diariamente"
com Nahas com a intenção de
"reunir-se com o maior número de formadores de opinião
para "dar a sua versão da história'". O investidor teria "contatado" Vera Brandimarte, do
"Valor Econômico", Paulo Andreoli, Thomas Traumann, da
"Época" -chamado pelo delegado equivocadamente de
"Talman"-, Elvira Lobato e
Guilherme Barros (chamado
de "Bastos"), da Folha, e João
Saad, da "TV Bandeirantes".
Elvira viaja à China e não pôde ser ouvida. Barros disse estar surpreso com a citação, pois
só teve um encontro com Nahas em sua carreira, "para tratar de assuntos estritamente
jornalísticos e devidamente informados à Folha".
Brandimarte disse que nunca falou ou esteve com Nahas.
Disse ser "nada mais do que natural" que seu nome esteja na
relação de profissionais de negócios, pois dirige a redação de
um dos principais jornais econômicos do país. Traumann
disse que "nunca" falou com
Nahas e que a menção a seu nome é "estúpida".
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