|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CAPITAL MORTO
Para o peruano Hernando de Soto, falta de legalização é entrave para o desenvolvimento
Economista cobra propriedade em favela
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
O economista peruano Hernando de Soto, 60, fez palestra
ontem no Rio para o público que
mais está acostumado a estudar:
moradores de comunidades carentes que vivem em casas sem
título de propriedade.
De Soto, diretor do Instituto
da Liberdade e Democracia, em
Lima, e assessor do presidente
mexicano, Vicente Fox, fez um
relato para os moradores da favela Quinta do Caju (zona norte)
de sua tese sobre legalização da
propriedade da população pobre. Segundo o economista, a
falta de propriedade legalizada é
um entrave para o desenvolvimento econômico.
"Quando cheguei ao Brasil,
não bastou dizer quem eu era
para entrar no país, eu precisei
mostrar meu passaporte. Da
mesma forma, quando uma pessoa vai ao banco pedir empréstimo, é preciso ter um comprovante de propriedade da casa como garantia de que poderá pagar mais tarde."
De Soto classificou de "capital
morto" as propriedades não-registradas. Com base em estudos
feitos no Peru, Haiti, México, Filipinas e Egito, ele faz uma estimativa de que, se todas as propriedades de países em desenvolvimento e ex-comunistas fossem legalizadas, seriam injetados US$ 9,3 trilhões no mundo.
Ele aponta a necessidade de regularização dessas propriedades
também como uma solução para a inclusão social. "Hoje, os pobres só integram o mundo moderno quando têm titulação."
O economista diz que a situação do Brasil não é diferente da
encontrada nos EUA há 150 anos
ou no Japão há 50 anos. "Havia
mais moradias sem registro nesses países nessas épocas do que
há, atualmente, no Brasil."
A dona-de-casa Vanda Rosa
Moreira, 49, era uma das cerca
de 50 pessoas presentes ao encontro. Ela afirma ter se identificado com o relato de De Soto.
"Meu marido não conseguiu
um empréstimo porque não tinha a escritura da casa onde a
gente mora. Ele queria R$ 4.000
para consertar o carro."
A secretária de Habitação do
município do Rio, Solange Amaral, estima que 1,1 milhão de pessoas vivam na cidade em casas
sem registro de propriedade.
De Soto veio ao país lançar o livro "O Mistério do Capital".
Texto Anterior: Desemprego é a maior preocupação Próximo Texto: Bolsa-escola: Famílias do Nordeste deixam de receber R$ 27,9 mi do programa Índice
|