São Paulo, terça-feira, 13 de agosto de 2002

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ANÁLISE

Presidenciável apela para o senso comum

MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA

Não foi bem "sabatina" o que vi ontem, no Teatro Folha. No começo do evento, Lula negou que seu discurso esteja mais "domesticado", "aburguesado"; seu caso seria como o de um avô, que é mais carinhoso com o neto do que foi com o filho.
De fato, suas intervenções pareciam as de um avô contando histórias para os netinhos. Não sei se é influência do seu vice, o empresário José Alencar, já entrado em anos, ou de Duda Mendonça, mas houve boa dose de reminiscências sentimentais e muitas, muitas frases de senso comum.
Reestatizar as empresas privatizadas? O importante é tocar o barco para a frente. Haverá risco de muita discussão e pouca decisão num governo do PT? Enquanto o maquinista discute com o foguista, o trem segue seu rumo. Superávit fiscal? Não se pode dar um passo maior do que as pernas.
Em defesa da pluralidade de pontos de vista, Lula disse que salada de fruta tem de ter muita fruta, não pode ter só mamão, porque senão é mamão, não é salada de fruta. E por aí vai.
À vontade, bem disposto e engraçado, Lula atingiu vários objetivos nesse encontro: mostrar-se confiável para os setores mais conservadores; não cair em armadilhas técnicas; não explicitar nenhum ponto polêmico do seu programa e, de maneira geral, não dizer nada.
Mas, na verdade, ele disse algumas coisas. A meu ver, Lula parece sugerir que seu papel, num eventual governo, será principalmente o de articular um pacto social, mais o de um negociador do que um chefe de governo em tempo integral. Lula também parece acentuar que sua fidelidade ao passado sindical e petista é muito menos ideológico-doutrinária e mais uma questão de patrimônio simbólico, disposição para o diálogo, etc. É nesse sentido que cita várias vezes o nome de Nelson Mandela, com quem se compara frequentemente, aliás, no quesito ausência de experiência administrativa.



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