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JUDICIÁRIO
Benefício dado a servidores do TST pode elevar em 10% gasto com pessoal
Reajuste disfarçado chega a R$ 500 mi
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma nova farra salarial surgiu
no TST (Tribunal Superior do
Trabalho) e se alastrou nos últimos dias por pelo menos quatro
tribunais regionais do trabalho,
beneficiando parte de seus servidores com um aumento disfarçado. Consolidado no Judiciário, há
risco de o novo "ralo" nos gastos
públicos atingir em seguida o Legislativo e o Executivo.
Somente na Justiça do Trabalho, que tem 50 mil servidores, o
impacto pode superar R$ 500 milhões por ano, equivalente a cerca
de 10% de seu gasto com pessoal,
segundo estimativa do presidente
da Anamatra (Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do
Trabalho), Hugo Cavalcanti, que
considera a iniciativa ilegal.
A repercussão financeira depende de estudos que os tribunais
estão fazendo sobre a situação de
cada servidor potencialmente
atingido. O TST, que liberou o pagamento da vantagem no salário
de julho, terá um gasto extra de
R$ 600 mil mensais em folha de
pagamento de R$ 15,7 milhões.
Nesse tribunal, serão favorecidos 876 dos 1.800 funcionários. O
principal beneficiado terá o seu
salário elevado em R$ 4.100. No
futuro, pretendem receber parcelas atrasadas, a partir de 1997.
O aumento disfarçado atinge os
servidores que ocupam cargo de
confiança (direção, chefia e assessoramento) há menos de cinco
anos ou que passaram a exercer
uma função mais alta entre 1997 e
2001. Eles irão incorporar ao salário parte da gratificação do cargo
(um quinto por ano), o que foi extinto pelo governo em 1997.
A concessão ocorre logo após o
Congresso aprovar lei que eleva a
remuneração do funcionalismo
do Judiciário, com um novo plano de cargos e salários que custará
R$ 3 bilhões anuais e será implantado em quatro anos. Também
coincide com a necessidade de os
tribunais reterem R$ 41 milhões
do orçamento pela arrecadação
da União menor que a prevista.
A Folha apurou que o aumento
foi aprovado por decisão administrativa, tomada pelo presidente do órgão, em alguns casos, ou
pelo conjunto de juízes. Até agora, o TST foi seguido pelos tribunais regionais do Rio, de Minas,
do Paraná e do Distrito Federal.
Eles estão estudando a repercussão financeira. Se houver verba disponível, irão liberar o pagamento imediatamente. Caso contrário, pedirão suplementação orçamentária ao governo.
Conforme a interpretação jurídica adotada para justificar o aumento, a legislação que trata da
remuneração dos cargos de confiança teria deixado brechas para
restabelecer, até a edição de uma
medida provisória de outubro de
2001, uma vantagem extinta quatro anos antes: a incorporação de
"quintos" (20% da remuneração
do cargo que ocupa).
A validade dessa interpretação é
no mínimo polêmica. O Supremo
Tribunal Federal, que decidirá
uma eventual batalha judicial sobre a questão, não reconhece o direito de seus servidores à incorporação. O Superior Tribunal de
Justiça concorda com o STF, mas
pode mudar esse entendimento.
O Tribunal Superior Eleitoral ainda não tomou uma posição.
A Anamatra pressionará os tribunais a recuar. Poderá também
entrar com ação popular e pedir
ao procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, que mova
ação direta de inconstitucionalidade no Supremo. "Trata-se de
um artifício jurídico construído
pela alta burocracia do TST para
beneficiar um grupo privilegiado", disse Hugo Cavalcanti.
O Judiciário tem tradição de aumentos por decisão administrativa. Em 2000, os servidores da Justiça Eleitoral tiveram reajuste de
11,98%, retroativo a 1994, após
ameaçar greve nas eleições municipais. O aumento se alastrou pelos outros tribunais, criando um
gasto extra de R$ 800 milhões. Foi
preciso negociar com o governo a
liberação de crédito suplementar.
(SILVANA DE FREITAS)
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