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CÂMARA OCULTA
Para Luciano Zica (PT-SP), novos assessores trabalhariam nos Estados e permitiriam uso dos CNEs só na Câmara
Ouvidor propõe contratar mais funcionários
EDUARDO SCOLESE
JAIRO MARQUES
DA AGÊNCIA FOLHA
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O ouvidor-geral da Câmara dos
Deputados, deputado federal Luciano Zica (PT-SP), enviou ontem
um ofício ao presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP),
propondo que a Casa resolva o
uso eleitoral de ocupantes de
CNEs (Cargos de Natureza Especial) da seguinte forma: contratando mais funcionários.
Em seu ofício, Zica diz que a
medida é necessária para "garantir" que os ocupantes de CNEs "se
dediquem efetiva e exclusivamente às tarefas previstas na resolução
que os criou".
Em reportagem publicada no
último domingo, a Folha revelou
que ocupantes desses cargos vips
(sem concurso público, com salários que chegam a R$ 7.428 e possibilidade de não bater o ponto
diário de frequência) estão sendo
usados em trabalhos políticos nas
bases eleitorais dos deputados da
Mesa Diretora da Câmara, em cidades fora do Distrito Federal.
Conforme levantamento feito
pela reportagem nos 140 boletins
administrativos publicados na
gestão de João Paulo Cunha, o deputado nomeou 826 pessoas para
cargos da Mesa entre 1º de janeiro
e 18 de julho de 2003 (incluindo
presidência, duas vices, quatro secretarias, quatro suplências e ouvidoria e procuradoria parlamentares). Há 1.960 CNEs pagos, em
2003, com R$ 97 milhões (os gastos totais com servidores são de
R$ 1,47 bilhão por ano).
Segundo o ato da Mesa número
45, de 1996, os CNEs são "encontrados na administração" da Casa. Mas foram localizados CNEs
trabalhando nos escritórios políticos do presidente, João Paulo
Cunha, em Osasco (SP), do primeiro vice-presidente, Inocêncio
Oliveira (PFL-PE), em Serra Talhada (PE), e do primeiro-secretário, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), em Salvador (BA).
O raciocínio do ouvidor é o seguinte: como os CNEs não estão
atuando na administração da Casa, mas nos escritórios dos deputados em seus redutos eleitorais, é
necessário que a Casa custeie novas contratações para essas atividades nos Estados. Assim, os
CNEs poderiam cumprir as funções administrativas na Mesa.
No ofício, Zica sugere que as vagas sejam dadas aos deputados
quando ocuparem cargos na Mesa. Há hoje 13 parlamentares nessa condição. Se cada um ganhar,
hipoteticamente, quatro novos
cargos com salários médios de R$
3.000, a Câmara vai gastar R$ 2,02
milhões anuais com a idéia.
Essas novas vagas, segundo Zica, seriam de SPs (secretários parlamentares), ligados aos gabinetes, que também são nomeados
sem concurso público.
Zica considera, na carta enviada
ao presidente da Câmara, que os
deputados ocupantes da Mesa
têm "um volume de trabalho extra". Assim, eles precisariam de
"uma permanência maior em
Brasília". Esse trabalho prolongado em Brasília, no entender do
ouvidor, "gera a necessidade de
uma maior disponibilidade estrutural nos Estados".
Em sua carta, o ouvidor não deixa claro como o "trabalho extra"
do deputado no Distrito Federal
pode ser suportado por funcionários trabalhando em Osasco (SP).
Ao assumir uma função na Mesa (à qual se candidata), o deputado já ganha uma estrutura para
sua nova tarefa.
O presidente, por exemplo, tem
à sua disposição 36 ocupantes de
CNEs e 25 servidores do quadro
da Casa. Os secretários têm de 52
a 80 CNEs e de 21 a 16 servidores
efetivos.
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