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MALHA FINA
Ministro da Justiça defende autorização judicial para a quebra e afirma que decreto proposto deve ser discutido
Quebrar sigilo é tema "tormentoso", diz Bastos
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Diante do objetivo do governo
federal de tentar ampliar a quebra
do sigilo fiscal de pessoas físicas e
jurídicas por meio de um decreto,
o ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos, defendeu ontem
a necessidade de autorização judicial para a quebra de sigilo fiscal.
Para ele, o assunto é "tormentoso" e "delicado".
"É claro que o controle judicial
da quebra de sigilo é indispensável e não pode ser derrogado
[anulado] ou transgredido", afirmou o ministro da Justiça.
"Essa é uma questão tormentosa, não está decidido ainda, são
propostas que precisam ser discutidas. Uma coisa é fato: a lavagem
de dinheiro no Brasil assume proporções gigantescas."
Anteontem, o GGI-LD (Gabinete de Gestão Integrada de Combate à Lavagem de Dinheiro), composto por 23 órgãos federais, entre eles o Ministério da Justiça,
apresentou o anteprojeto de um
decreto que flexibiliza o acesso a
dados fiscais. O decreto serviria
para regulamentar uma lei de
2001 que já havia tornado mais fácil a troca de informações entre o
Banco Central e a Receita.
O objetivo do anteprojeto é ampliar essa troca de dados para outros órgãos federais, desde que
haja um procedimento de investigação instaurado e que quem receba a informação assine um termo de responsabilidade sobre o
sigilo do conteúdo.
O posicionamento do governo é
público desde dezembro de 2003,
quando os 23 órgãos federais firmaram com o Ministério Público
e Judiciário a Encla 2004 (Estratégia Nacional de Combate à Lavagem de Dinheiro), com metas e
responsabilidades compartilhadas. A íntegra do documento está
disponível em www.mj.gov.br.
Movimentação bancária
O ministro deu seu aval a outro
conceito do anteprojeto, de eliminar uma segunda quebra de sigilo
bancário quando algum outro órgão já tiver recebido os dados. Se a
Polícia Federal obtiver a autorização judicial sobre as informações
de determinada empresa, por
exemplo, o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) não precisaria fazer novo pedido judicial. Receberia o material da PF e assinaria o termo de responsabilidade.
"É preciso haver sempre uma
autoridade judicial para a quebra
de sigilo, depois disso, o que se está cogitando é a possibilidade de
circular com menos formalidade.
Mas, de qualquer maneira, é um
tema tormentoso e que vai ser objeto de debate", disse.
O texto do anteprojeto também
abre brecha para que a PF e outros
órgãos federais tenham acesso a
informações até agora restritas ao
Coaf (Conselho de Controle de
Atividades Financeiras), do Ministério da Fazenda. Quando é detectada operação fora do perfil do
cliente -depósito de R$ 1 milhão
em conta assalariada que recebe
R$ 50 mensais, por exemplo-, o
Coaf deve investigar o caso.
Se o anteprojeto virar decreto
presidencial, a PF poderá indagar
diretamente ao Coaf se determinada empresa investigada teve
operações irregulares detectadas.
De acordo com a CGU (Controladoria Geral da União), isso já vem
acontecendo de modo informal, e
o objetivo é tornar o procedimento institucionalizado.
O projeto ainda será analisado
pelo GGI-LD antes de ser submetido ao crivo do Planalto. Antes de
o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva assiná-lo, portanto, pode sofrer modificações.
De acordo com o ministro da
Justiça, é preciso discutir o tema
antes de um formato final de proposta. "Esse não é um tema que
possa ser decidido facilmente,
precisa ser discutido, debatido,
porque aí entram valores muito
altos, tanto quanto a liberdade de
imprensa. Entram valores como a
privacidade, o sigilo fiscal, o direito de defesa", disse ontem.
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