São Paulo, sexta-feira, 13 de agosto de 2004

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IMPRENSA OFICIAL

Caso conselho de jornalismo estivesse em vigor, punição seria possível

Agência Brasil "esquece" outro lado

FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Os jornalistas da Agência Brasil, que produz notícias para o sistema Radiobrás, órgão do governo federal, poderiam ser questionados pelo CFJ (Conselho Federal de Jornalismo) se já estivesse em atividade esse órgão que pretende "pugnar pelo direito à livre informação plural". Durante uma semana, a agência oficial não destacou nenhuma opinião contra o projeto oferecido pela Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas).
A prioridade a opiniões favoráveis ao CFJ só desapareceu na noite da quarta-feira, 11, quando o PFL ameaçou obstruir votações se a Câmara não devolver o projeto que cria o conselho. A missão da Agência Brasil, segundo seu site, "é ser uma agência de notícias pública, de acesso livre, de reconhecida credibilidade e abordagem pluralista".
Ontem, a agência noticiou que o PFL emitiu nota anunciando que vai se "empenhar" para derrotar o projeto, por considerar que a proposta "não é conveniente ao país".
Se dependesse apenas da informação do governo, a sociedade não saberia que várias entidades condenaram o projeto: Associação dos Magistrados Brasileiros, Associação Nacional dos Juízes do Trabalho, Movimento do Ministério Público Democrático e Associação Brasileira de Imprensa. Desconheceria que a Associação Nacional de Jornais teme o cerceamento à liberdade de imprensa.
A Agência Brasil noticiou o envio do projeto ao Congresso e a afirmação do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, de que o CFJ "não é instrumento de censura". O site acolheu as manifestações favoráveis de Luiz Martins da Silva, vice-diretor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília, e a defesa do projeto feita pelos dirigentes da Fenaj, Sérgio Murilo de Andrade, Fred Ghedini e Aloisio Lopes, que criticaram a imprensa. "Fazer matérias contrárias, sem ouvir os dois lados, não condiz com a condição de jornalismo e com a finalidade da imprensa", afirmaram os representantes da Fenaj, segundo a notícia da Agência Brasil.
O presidente da Radiobrás, Eugênio Bucci, 45, disse que "a Agência Brasil dá uma cobertura equilibrada a todos os acontecimentos". Ao ser informado sobre a falta de manifestações contrárias ao CFJ, afirmou: "Eu não acompanhei diretamente o caso, mas essa não é a nossa orientação". "A gente nem sempre consegue acertar", disse o diretor de Jornalismo da Radiobrás, José Roberto Garcez, 51. "Nós temos procurado nos pautar por fatos objetivos, que envolvem o governo, o Estado, o cidadão. A gente procura evitar a polêmica. A partir do momento em que o assunto saiu da polêmica, saiu da opinião e passou a gerar fatos concretos, nós registramos todos os lados", disse.


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