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PT pretende ampliar indenização a vítimas da repressão sob militares
FÁBIO ZANINI
DA REPORTAGEM LOCAL
LIA HAMA
DA REDAÇÃO
O PT pretende intensificar a investigação sobre mortos e desaparecidos no regime militar em um eventual governo de Luiz Inácio
Lula da Silva, dando ênfase especial à localização de corpos. Também haveria o aumento de casos
em que poderiam ser indenizadas
famílias de vítimas.
Para que isso possa ocorrer, o
partido quer a abertura de todos
os arquivos das Forças Armadas e
do antigo Serviço Nacional de Informações, que, crê o PT, ainda
escondem informações valiosas.
Setores do partido advogam
ainda mudança -ou "reinterpretação"- na Lei de Anistia, de
1979, para que fique restrita aos
crimes que resultaram em morte.
Mas que não contemplaria torturadores, que poderiam ser identificados e julgados.
O assunto é especialmente sensível no PT, legenda com dezenas
de quadros que foram vítimas de
tortura. Ao mesmo tempo, vem
sendo tratado com cautela, no
momento em que Lula busca estreitar laços com representantes
das Forças Armadas, como tentará fazer em encontro no Rio hoje.
O PT sabe que a defesa de maior
investigação sobre mortes e desaparecimentos no regime militar
poderá aumentar a resistência de
setores "linha-dura" das Forças
Armadas a Lula e jogar por terra o
esforço de aproximação.
"É preciso dar maior amplitude
ao trabalho da comissão e redefinir o que é vítima ou não. Há muitos casos que merecem ser analisados e não o foram por falta de
vontade política", diz o presidente
da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o deputado federal Orlando Fantazzini (PT-SP).
O que o PT quer na realidade é
flexibilizar os critérios para concessão de indenização, criticados
por representantes das famílias e
por petistas como muito estreitos.
"Cansei de ver casos de "suicídios" estranhos que foram descartados. Ou de militantes de esquerda que, apenas por terem sido
seus corpos encontrados longe de
instalações militares, não foram
contemplados", diz o deputado
Nelson Pellegrino (PT-BA).
Recursos
Além da abertura dos arquivos
do Exército, há no PT a idéia de
aumentar os recursos orçamentários da comissão, formada por parentes, militares e representantes
do Estado. Petistas admitem ainda a hipótese de que as famílias de
mortos e desaparecidos ganhem
mais peso na comissão.
Politicamente delicada, a temática ficou fora do programa de governo de Lula. O partido diz que,
por tratar-se de um documento
enxuto, não coube a referência.
Há consenso entre especialistas
em direitos humanos do PT, no
entanto, sobre a necessidade de
analisar melhor as circunstâncias
de mortes e desaparecimentos.
Mas a investigação pararia antes
da identificação dos autores.
"Não queremos revanchismo
nem vingança com os militares.
Eles devem ser os primeiros interessados em que a verdade seja esclarecida", diz o deputado federal
Marcos Rolim (PT-RS).
Quanto à "reinterpretação" na
Lei de Anistia, que resultaria na
identificação de torturadores, há
posições favoráveis individuais.
O principal argumento para isso está no fato de a expressão da
lei que fala de "crimes políticos
conexos" não mencionar tortura
explicitamente. Petistas como o
ex-deputado Ivan Valente e o vice-prefeito de São Paulo Hélio Bicudo também entendem que tortura é crime que não prescreve.
"Como há o princípio do direito
internacional de que os crimes
contra a humanidade são imprescritíveis, se pessoas que cometeram esses fatos [tortura] estiverem vivas, podem ser submetidas
a processo penal", diz Bicudo.
A direção petista, porém, resiste
à idéia. "O PT não deve fazer o julgamento dos militares. O partido
deve ter relação com eles para o
futuro e não reabrir processos",
diz o deputado José Genoino.
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