São Paulo, terça-feira, 13 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ A HORA DO "MENSALINHO"

Extrato registra cheque descontado no dia em que empresário diz ter pago propina a Severino

Saque de R$ 40 mil foi feito na data de susposto documento

MARTA SALOMON
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Cópia de extrato bancário do empresário Sebastião Buani registra o saque de um cheque de R$ 40 mil no dia 4 de abril de 2002. A data é a mesma do documento supostamente assinado pelo deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), que prorroga a licença de funcionamento de um restaurante na Câmara dos Deputados.
Menos de 24 horas depois de o presidente da Câmara classificar de "fraudulento" o documento de prorrogação do contrato, cópia do extrato bancário foi apresentada à Polícia Federal pelo dono de restaurante. O extrato mostra que o cheque não foi à compensação bancária, e o dinheiro foi sacado no caixa do banco.
"Prova não é, mas é uma evidência, uma tremenda de uma evidência", comemorou Buani. Os R$ 40 mil corresponderiam à primeira parcela da propina paga a Severino para prorrogar seu contrato com a Câmara.
Buani espera receber hoje a cópia de oito cheques solicitados ontem ao Bradesco. Um deles comprovaria, segundo o empresário, o saque de uma das parcelas do chamado "mensalinho" por um dos motoristas do deputado Severino Cavalcanti.
"Não sei se o cheque era nominal, mas me lembro de ter recebido um telefonema do banco dizendo que havia um senhor na agência para descontar um cheque meu. Era o motorista do deputado", reafirmou o empresário.
Ouvida ontem cedo pela Polícia Federal, a gerente da agência do Bradesco à época do saque disse não se lembrar do caso. Jane Albuquerque contou que seguia os procedimentos de praxe para saques de quantias elevadas, como consultar o cliente para confirmar a emissão dos cheques.
A Folha ouviu dois dos motoristas que servem o deputado, José Sabino e Cláudio Divino, mas eles negam a história. Entre fevereiro e novembro de 2003, Buani afirma ter pago R$ 70 mil em parcelas mensais ao atual presidente da Câmara em troca da prorrogação dos negócios do restaurante. Um desses pagamentos teria sido feito mediante cheque.
Ao sair do prédio da sede da PF, ontem de manhã, Sebastião Buani disse que esperava voltar hoje com a prova que falta do pagamento de propina a Severino. "Estou muito feliz. Cheguei a beijar o gerente do Bradesco, porque hoje estou mostrando o mensalão", disse. "Ele [Severino] não vai assumir. Como ele vai assumir isso? Mas eu estou provando a vocês o que eu disse", completou.
O saque feito em 4 de abril de 2002 corresponderia à primeira parcela dos R$ 110 mil que Sebastião Augusto Buani afirma ter pago ao deputado Severino, na época primeiro-secretário da Câmara, cargo que dava a ele o controle dos contratos da Casa.
"Eu me lembro que corri ao banco, era um pouco antes do almoço. Eu tinha de pagar naquele dia. Saí do banco com o dinheiro envelopadinho para ele [Severino]. Ele assinou [o documento] quando cheguei com o dinheiro lá", afirmou Buani.
O empresário sustenta que o documento que assegurava uma prorrogação irregular até 2005 do contrato de concessão com a Câmara foi assinado na sua frente, no gabinete de apoio do então primeiro-secretário da Câmara.

Laudo
Em meio a versões contraditórias, Severino lançou mão de um laudo de perícia particular no domingo para contestar a autenticidade do documento. "Afirmo, com absoluta convicção, que o documento é fraudulento. Não assinei nem assinaria, de forma consciente, documento de tal conteúdo", disse o deputado no pronunciamento levado por escrito à entrevista de anteontem.
Depois de ter negado inicialmente o pagamento de propina a Severino, Buani contou na quinta-feira passada que teria feito o primeiro dos pagamentos a Severino em abril de 2002. O dinheiro teria sido cobrado pelo deputado a pretexto de uma contribuição para sua campanha. "Você sabe, eu sou um homem que não tenho empresas, e neste ano de eleição a gente precisa de uma ajuda", teria dito Severino.
Ainda de acordo com o relato do empresário, o deputado teria pedido inicialmente R$ 60 mil para renovar seu contrato com a Câmara, que venceria em 2002. "Perto da data da assinatura do contrato, há um saque", afirmou na ocasião o dono da rede de restaurantes Fiorella.


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