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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ A HORA DO "MENSALINHO"
Extrato registra cheque descontado no dia em que empresário diz ter pago propina a Severino
Saque de R$ 40 mil foi feito na data de susposto documento
MARTA SALOMON
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Cópia de extrato bancário do
empresário Sebastião Buani registra o saque de um cheque de R$ 40
mil no dia 4 de abril de 2002. A data é a mesma do documento supostamente assinado pelo deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), que prorroga a licença de
funcionamento de um restaurante na Câmara dos Deputados.
Menos de 24 horas depois de o
presidente da Câmara classificar
de "fraudulento" o documento de
prorrogação do contrato, cópia
do extrato bancário foi apresentada à Polícia Federal pelo dono de
restaurante. O extrato mostra que
o cheque não foi à compensação
bancária, e o dinheiro foi sacado
no caixa do banco.
"Prova não é, mas é uma evidência, uma tremenda de uma
evidência", comemorou Buani.
Os R$ 40 mil corresponderiam à
primeira parcela da propina paga
a Severino para prorrogar seu
contrato com a Câmara.
Buani espera receber hoje a cópia de oito cheques solicitados
ontem ao Bradesco. Um deles
comprovaria, segundo o empresário, o saque de uma das parcelas
do chamado "mensalinho" por
um dos motoristas do deputado
Severino Cavalcanti.
"Não sei se o cheque era nominal, mas me lembro de ter recebido um telefonema do banco dizendo que havia um senhor na
agência para descontar um cheque meu. Era o motorista do deputado", reafirmou o empresário.
Ouvida ontem cedo pela Polícia
Federal, a gerente da agência do
Bradesco à época do saque disse
não se lembrar do caso. Jane Albuquerque contou que seguia os
procedimentos de praxe para saques de quantias elevadas, como
consultar o cliente para confirmar
a emissão dos cheques.
A Folha ouviu dois dos motoristas que servem o deputado, José Sabino e Cláudio Divino, mas
eles negam a história. Entre fevereiro e novembro de 2003, Buani
afirma ter pago R$ 70 mil em parcelas mensais ao atual presidente
da Câmara em troca da prorrogação dos negócios do restaurante.
Um desses pagamentos teria sido
feito mediante cheque.
Ao sair do prédio da sede da PF,
ontem de manhã, Sebastião Buani
disse que esperava voltar hoje
com a prova que falta do pagamento de propina a Severino.
"Estou muito feliz. Cheguei a beijar o gerente do Bradesco, porque
hoje estou mostrando o mensalão", disse. "Ele [Severino] não vai
assumir. Como ele vai assumir isso? Mas eu estou provando a vocês o que eu disse", completou.
O saque feito em 4 de abril de
2002 corresponderia à primeira
parcela dos R$ 110 mil que Sebastião Augusto Buani afirma ter pago ao deputado Severino, na época primeiro-secretário da Câmara, cargo que dava a ele o controle
dos contratos da Casa.
"Eu me lembro que corri ao
banco, era um pouco antes do almoço. Eu tinha de pagar naquele
dia. Saí do banco com o dinheiro
envelopadinho para ele [Severino]. Ele assinou [o documento]
quando cheguei com o dinheiro
lá", afirmou Buani.
O empresário sustenta que o
documento que assegurava uma
prorrogação irregular até 2005 do
contrato de concessão com a Câmara foi assinado na sua frente,
no gabinete de apoio do então primeiro-secretário da Câmara.
Laudo
Em meio a versões contraditórias, Severino lançou mão de um
laudo de perícia particular no domingo para contestar a autenticidade do documento. "Afirmo,
com absoluta convicção, que o
documento é fraudulento. Não
assinei nem assinaria, de forma
consciente, documento de tal
conteúdo", disse o deputado no
pronunciamento levado por escrito à entrevista de anteontem.
Depois de ter negado inicialmente o pagamento de propina a
Severino, Buani contou na quinta-feira passada que teria feito o
primeiro dos pagamentos a Severino em abril de 2002. O dinheiro
teria sido cobrado pelo deputado
a pretexto de uma contribuição
para sua campanha. "Você sabe,
eu sou um homem que não tenho
empresas, e neste ano de eleição a
gente precisa de uma ajuda", teria
dito Severino.
Ainda de acordo com o relato
do empresário, o deputado teria
pedido inicialmente R$ 60 mil para renovar seu contrato com a Câmara, que venceria em 2002.
"Perto da data da assinatura do
contrato, há um saque", afirmou
na ocasião o dono da rede de restaurantes Fiorella.
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