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Não há provas para cassar ou para absolver, diz Mercadante
Senador petista afirma que decidiu se abster na votação
JOSIAS DE SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O senador Aloizio Mercadante (PT-SP), um dos que se abstiveram na votação, explicou depois as razões de seu voto.
![](http://www1.folha.uol.com.br/fsp/images/ep.gif)
FOLHA - Como votou?
ALOIZIO MERCADANTE - Eu apresentei, durante a sessão, requerimento propondo o adiamento da votação, sob o argumento
de que não há um processo conclusivo de apuração das denúncias. Tem ainda as denúncias da
Schincariol, de irregularidades
na Previdência, de compra da
rádio em Alagoas. E mesmo em
relação a esse caso que estava
sendo julgado, não há uma conclusão definitiva de que foi a
empreiteira que pagou a despesa da filha do senador.
FOLHA - Acha que não há provas?
MERCADANTE - O que acho é que
há no processo questões que
não estão satisfatoriamente resolvidas. Por exemplo: o empréstimo que foi feito. Não se
sabe se houve crime fiscal.
FOLHA - O empréstimo não foi declarado à Receita.
MERCADANTE - É, mas o [Francisco] Dornelles, que foi secretário da Receita, disse na sessão
que só há crime fiscal quando a
Receita declara que houve, depois de fazer uma auditoria. Isso ainda não foi feito.
FOLHA - O que fazer?
MERCADANTE - Achava que deveríamos concluir as investigações e votarmos de uma vez todas as representações.
FOLHA - Falou isso no plenário?
MERCADANTE - Conversei com
vários senadores. Consegui o
apoio de alguns: o [Eduardo]
Suplicy, o Delcídio [Amaral], o
[Paulo] Paim. Demóstenes
[Torres] falou que concordava,
mas achava que não havia mais
tempo. Falei com outros senadores da oposição. Na hora que
ia fazer a minha intervenção,
senti a polarização do plenário.
Setores da oposição acharam
que eu estava patrocinando
uma manobra protelatória.
Achavam que iam conseguir a
cassação. Eu decidi não falar.
Disse: "Então, vamos votar".
FOLHA - Por isso se absteve?
MERCADANTE - Votei pela abstenção.
FOLHA - Esse não é o pior voto?
MERCADANTE - Não. Houve 40
votos favoráveis à anulação do
processo. Outros 35 cassavam o
mandato. Eu achava que as
duas decisões eram precipitadas, por ausência de conclusão
na investigação.
FOLHA - O que fazer com as acusações remanescentes?
MERCADANTE - Não há outra
possibilidade que não o prosseguimento das investigações. O
Ministério Público já está investigando. O Supremo já abriu
inquérito. Temos que aguardar.
Há uma pressão da imprensa. E
a notícia atropela a política,
comprometendo as garantias
individuais e o devido processo
legal. O tempo da notícia não é
o tempo da política.
FOLHA - As apurações devem ser
feitas fora do Senado?
MERCADANTE - Mais para a frente vou apresentar emenda
transferindo para o Ministério
Público e STF, que têm isenção
e rigor técnico, a tarefa de julgar os parlamentares.
FOLHA - E as representações?
MERCADANTE - O que está aberto
no Conselho de Ética tem que
ser analisado.
FOLHA - Renan tem condições de
presidir o Senado?
MERCADANTE - Defendo que ele
se licencie até concluir as apurações.
FOLHA - Renúncia não?
MERCADANTE - Não, porque significaria pré-julgamento.
FOLHA - Como desatar a crise?
MERCADANTE - Esse nó só desata
com os remédios institucionais
da democracia: O procurador-geral denunciar, o STF concluir
o processo legal e permitir que
as instituições se manifestem,
sem atropelos.
JOSIAS DE SOUZA escreve o blog "Nos Bastidores do Poder" no endereço
www.folha.com.br/blogs/josiasdesouza
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