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Seguranças e deputados brigam no Senado
Confronto começou quando a polícia da Casa impediu grupo de parlamentares de entrar no plenário para assistir à sessão
Na confusão, Fernando Gabeira acertou Tião Viana e Luciana Genro machucou o pé; policiais fizeram exame de corpo de delito no IML
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O que havia sido planejado
por 13 deputados federais como
uma "entrada triunfal" no plenário do Senado acabou degenerando em cenas de pugilato,
ontem pela manhã, meia hora
antes do início da sessão de cassação de Renan Calheiros.
O grupo de parlamentares
marchava em fila, brandindo
cartazes com palavras como
"ética" e "transparência",
quando foi surpreendido por
uma barreira de uma dúzia de
seguranças determinados a não
dar passagem. Era a polícia do
Senado, que aparentemente
não havia sido informada da liminar do Supremo Tribunal
Federal, dada na madrugada,
assegurando a entrada dos deputados na sessão do plenário.
Na linha de frente da marcha
dos deputados, Fernando Gabeira (PV-RJ) e Raul Jungmann (PPS-PE) não se conformaram. Na frente de dezenas
de câmeras de TV e fotógrafos,
foram forçando a entrada por
dentro dos seguranças e acabaram rechaçados. Era o início de
30 segundos de pancadaria.
Agarrado pelas costas, Jungmann foi arrancado da entrada
do plenário por um segurança e
lançado em um rodopio. Sem
desanimar, voltou à carga. Revidou o empurrão e, com o braço esticado, berrava: "Você é
um filho da puta, filho da puta!
Vai bater em quem?"
Um segurança fez menção de
usar uma Taser, arma paralisante recém-adquirida pelo Senado, mas derrubou o artefato,
o que só aumentou a tensão.
No meio da confusão, o vice-presidente do Senado, Tião
Viana (PT-AC), veio em socorro dos deputados. "Pára com isso, rapaz! Deixa entrar", gritava
para os seguranças. Acabou levando um safanão de Gabeira,
que a meio metro de distância
tentava se desvencilhar de outro segurança que lhe aplicava
uma gravata. "A minha mão levantou e acabou acertando a
cara dele [Viana]. Mas já dei um
beijo nele", disse Gabeira, depois de controlada a situação.
No auge da confusão, a deputada Luciana Genro (PSOL-RS)
machucou o pé. A primeira informação, dada por Jungmann,
era de que ela estava "sangrando". Não demorou para ser desmentido pela própria deputada. "Levei um chute de um segurança e fiz um machucadinho de nada no tornozelo."
Três seguranças fizeram exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal de Brasília:
José Luiz Simas, Imelton de
Azedo e João Perci. Pedro Ricardo, diretor da Polícia do Senado, disse que os seguranças
não estavam errados. "Na minha concepção, aquilo foi uma
tentativa de invadir o Senado."
Na versão dos seguranças,
apresentada ao comando administrativo da Casa, Gabeira deu
início à confusão que resultou
em troca de socos na porta do
plenário. Por essa versão, Gabeira e os demais deputados foram avisados de que deveriam
entrar pela tribuna de honra,
outro acesso ao plenário.
Gabeira teria dito que entraria por ali mesmo, forçando a
passagem com os braços. Jungmann o acompanhou, usando
mais força física, e os seguranças reagiram. Segundo a versão
dos seguranças, ele sofreram
agressão antes do revide.
O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), disse
que pedirá explicações ao Senado. O Ministério Público Federal no DF também abriu procedimento criminal para apurar o
acontecido e requisitou à PF
abertura de inquérito para investigar o tumulto.
Supremo
Depois da confusão toda pela
manhã, o plenário do STF (Supremo Tribunal Federal), em
votação dividida, confirmou a
liminar do ministro Ricardo
Lewandowski que liberou a
presença de 13 deputados da
oposição na sessão do Senado.
Ela foi mantida por 6 votos
contra 4. Os votos contrários
foram de Carlos Alberto Direito, Joaquim Barbosa, Cezar Peluso e Gilmar Mendes. Eros
Grau está de licença médica e
não participou do julgamento.
Lewandowski concedeu a liminar por volta da 1h de ontem,
dizendo que, como membros
do Congresso, os deputados tinham o direito de comparecer à
sessão sobre o processo de cassação de seu presidente, por
quebra de decoro parlamentar.
"Julguei do ponto de vista estritamente técnico", disse.
Marco Aurélio de Mello e
Carlos Ayres Britto, dois dos
cinco ministros que concordaram com Lewandowski, disseram que, se fossem o relator, teriam ido mais longe e determinado a realização de sessão
aberta a todos os interessados.
"Não concebo o funcionamento de qualquer casa legislativa de forma secreta, a não ser
que a Constituição o preveja
(...) Sou a favor de que as portas
do Senado sejam abertas ao povo", disse Marco Aurélio. Gilmar Mendes foi irônico: "Se
houvesse [acesso], não seria
dos deputados, mas de todos
que quisessem assistir a ela. Teria de ser no Maracanã."
(FÁBIO ZANINI, SILVIO NAVARRO, SILVANA DE
FREITAS e MARIA LUIZA RABELLO)
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