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Gabeira tenta obter
perdão dos EUA
do enviado especial a Brasília
O Congresso brasileiro que amanhã recebe solenemente o presidente norte-americano Bill Clinton tem entre os seus 594 parlamentares alguém que, aos olhos da
diplomacia dos Estados Unidos, é
um cidadão especial: o deputado
Fernando Gabeira (PV-RJ).
Apesar de ter mandato como deputado federal, de ser militante das
causas pacifistas e de pregar um
mundo com "paz e amor", como
diziam seus bordões da última
campanha eleitoral, Gabeira é
considerado terrorista pelos EUA.
Tem passaporte diplomático,
mas não pode receber visto de entrada no país. O deputado Fernando Gabeira não conhece Nova
York, Miami, Washington, Chicago ou Los Angeles.
Não é mera implicância dos norte-americanos. Há 28 anos, no dia
4 de setembro de 1969, Gabeira e
outros oito membros do MR-8 e da
ALN, grupos de resistência política que atuavam na clandestinidade, sequestraram o então embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Elbrick, para trocá-lo
por 15 presos políticos brasileiros.
A ação foi um sucesso e passou à
história por meio do livro "O Que
É Isso, Companheiro?", de sua autoria. Considerado "persona non
grata" nos EUA, o deputado não
foi convidado para o coquetel de
boas-vindas a Clinton, hoje à noite, no Palácio do Itamaraty. Ele
ainda não sabe se irá cumprimentá-lo amanhã no Congresso.
"O sequestro foi um ato político
em um momento de repressão às
liberdades individuais no Brasil.
Faz parte da história", considera
Gabeira. O deputado tentou obter
visto de entrada nos EUA três vezes. Uma delas, antes de se eleger,
para participar de um congresso
na Universidade de Columbia e
duas como parlamentar.
"O ministro Luiz Felipe Lampreia (Relações Exteriores) pediu-me há alguns meses um histórico do caso. Não sei se tratará do
assunto. Quero conhecer os Estados Unidos. Recebi enorme influência da cultura norte-americana", revela ele. E brinca: "Se não
conseguir desta vez, peço de novo
no ano 2000. Afinal, os problemas
que justificam a negativa terão sido coisa do milênio anterior".
(LUÍS COSTA PINTO)
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