São Paulo, domingo, 13 de outubro de 2002

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PT SOB SUSPEITA

Sócia de agência de publicidade que trabalhou para Catanduva afirma ter feito material para Rui Falcão em 98

Gestão do PT pagou campanha, diz empresária

DO ENVIADO ESPECIAL A CATANDUVA

A empresária Laede Lia de Moraes, 29, afirma que a Prefeitura Municipal de Catanduva, administrada pelo PT desde 1997, custeou material para a campanha a deputado federal de Rui Falcão (PT), que hoje é secretário de Governo da Prefeitura de São Paulo.
Conhecida como Lia, a empresária é uma das sócias da empresa UP Propaganda e Marketing S/C Ltda., que detinha a conta de publicidade da Prefeitura de Catanduva (a 385 km de São Paulo) em 1998, quando Rui Falcão concorreu ao cargo de deputado federal -e não se elegeu.
O prefeito de Catanduva, Félix Sahão Júnior, confirma ter apoiado Falcão para deputado federal em 1998, mas nega com veemência que dinheiro público tenha sido usado para pagar material da campanha (leia texto ao lado).
Criada em 1996, a UP Propaganda foi contratada pela Prefeitura de Catanduva, por meio de uma licitação, em 1997, e prestou serviços ao município por três anos.
Oficialmente, a empresa pertence a Laede Lia de Moraes e ao publicitário Edson Antunes Campos. Na prática, porém, Campos era sócio do marido de Lia, Pedro Lyrio. A empresária era responsável pela contabilidade da agência.
Campos retirou-se da sociedade em 2000 para trabalhar na campanha à reeleição do prefeito Félix. Mas sua saída ainda não foi formalmente registrada. Hoje ele é coordenador de publicidade da Secretaria de Comunicação da Prefeitura de São Paulo.
A empresária concordou em dar entrevista sobre o caso após a Folha ter obtido acesso à documentação da agência de publicidade, apreendida a pedido do Ministério Público do Estado de São Paulo em Catanduva.

Tabela da Copa
Entre os documentos apreendidos, há uma nota fiscal, datada de 2 de julho de 1998, no valor de R$ 1.400, emitida por Tarrafa Gráfica e Editora Ltda. para a UP Propaganda, referente à impressão de 10 mil folhetos (veja reprodução nesta página). De acordo com Lia, a nota refere-se à impressão de 10 mil "tabelinhas" da Copa do Mundo de 98 (leia texto abaixo). O material traz fotos do prefeito Félix Sahão Júnior e de Falcão (veja reprodução ao lado).
Segundo Lia, para encobrir o pagamento das "tabelinhas", a Prefeitura de Catanduva emitiu uma ordem de serviço para a UP Propaganda, para "criação e produção de cartilha educativa sobre água e saneamento".
Depois de fazer o serviço -a confecção das "tabelinhas", segundo Lia-, a UP Propaganda emitiu uma nota fiscal para a Prefeitura de Catanduva, referente ao pagamento da nota fiscal da Tarrafa Gráfica e Editora Ltda., no valor de R$ 1.610 -R$ 1.400 da nota da Tarrafa e mais R$ 210 de comissão para a agência.
A Prefeitura de Catanduva confirma que pagou a nota enviada pela UP Propaganda, mas diz que o trabalho realizado foi o encomendado pela ordem de serviço (leia texto nesta página).
Os responsáveis pela Tarrafa disseram à Folha que não têm registro do serviço, que foi realizado há mais de quatro anos.

Faixas
Também há, entre os documentos apreendidos, notas fiscais datadas de 15 de setembro de 1998 referentes à confecção de faixas plásticas pela empresa Joel Pereira Propaganda, de Sorocaba (SP), no valor total de R$ 16.500.
Lia afirma tratar-se de faixas da campanha de Rui Falcão, cuja arte-final teria sido feita por sua empresa. Ela indica, entre os documentos apreendidos, um comprovante de depósito no valor de R$ 15 mil, feito na conta de Flávio Dini, dono de uma outra empresa de confecção de faixas plásticas de Sorocaba. O depósito seria parte do pagamento das faixas.
Dini disse à Folha que, em virtude de os fatos terem ocorrido há mais de quatro anos, ele não se lembra de ter trabalhado para a UP Propaganda ou de ter confeccionado faixas para Rui Falcão. Mas confirma que costumava ser subcontratado por Joel Pereira em 1998. A empresa de Joel Pereira fechou e ele não foi localizado.
Novamente, segundo Lia, o pagamento das faixas teria sido feito pela Prefeitura de Catanduva. Mas, dessa vez, de acordo com a empresária, teria sido utilizada uma transação mais complexa para justificar a despesa pública.
Lia afirma ter recebido notas fiscais frias, da empresa A3 Artes Gráficas Ltda. ME, para justificar suas despesas com faixas plásticas. A nota entregue pela UP Propaganda à prefeitura faz referência às notas fiscais da A3.
Três ordens de serviço justificariam os pagamentos. Uma é sobre a "criação e produção da campanha "Vida Nova'". Outra diz respeito a "criação e produção da campanha da "Fecic", logomarca e outras peças". A terceira pede "cruzamentos especiais, tabulação, análise e formação de banco de dados sobre pesquisas de avaliação do desempenha da administração". Segundo a Prefeitura de Catanduva, os serviços foram efetivamente realizados. A UP recebeu R$ 2.475 de comissão.
(ROBERTO COSSO)


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