São Paulo, domingo, 13 de outubro de 2002

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SÃO PAULO

Pepebista havia concentrado recursos e material de campanha para o segundo turno; na noite de sábado, anteviu o fiasco

Maluf pressentiu maior derrota na véspera

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Atropelado por uma avalanche de votos petistas de última hora, o ex-prefeito Paulo Maluf (PPB) pressentiu a sua derrota na noite anterior ao primeiro turno, quando disparou telefonemas nervosos a seus correligionários.
Maluf estava preocupado com a última pesquisa do Ibope, divulgada no sábado, que mostrou o petista José Genoino com um ponto de vantagem sobre ele. Até então, dormia embalado pela certeza de chegar ao segundo turno da disputa pelo governo paulista com Geraldo Alckmin (PSDB).
A confiança era tanta que o grosso do material e do dinheiro foi concentrado para o segundo turno, quando era previsto um duro embate com os tucanos.
O telefonema de Maluf na noite de sábado desencadeou outros entre membros da equipe. Assustados, todos tentavam analisar a veracidade da pesquisa.
Maluf foi dormir naquela noite, por volta da 1h, acreditando que fosse ao segundo turno, mas, ao contrário do que previa, sem uma vantagem tão folgada em relação ao candidato petista.
Acostumado a acordar às 6h, sem despertador, no domingo da eleição vestiu uma calça bege, camisa branca e um paletó preto, sem gravata. Com um sorriso plástico no rosto, deu sua primeira entrevista às 7h40, em frente à sua casa, no Jardim Europa.
Bem-humorado, disse ter acordado com a tranquilidade de chegar ao segundo turno com pelo menos 1 milhão de votos a mais do que Genoino. Maluf, no entanto, fez questão de, em repetidas vezes, amarrar sua confiança à credibilidade das pesquisas.
Votou em menos de 30 segundos, cumprimentou eleitores, tomou um sorvete e, uma hora depois, voltou para sua casa, onde esperava comemorar o resultado ao lado da mulher Sylvia, dos filhos, genros, noras e dos 13 netos.
Além, é claro, de um batalhão de assessores, candidatos e correligionários -cerca de 50 pessoas.
A confiança de Maluf voltou a desmoronar a partir das 16h do domingo, quando foi divulgada a primeira pesquisa de boca-de-urna, que dava larga vantagem ao petista José Genoino.
Sentado no sofá, com as mãos apoiadas nos joelhos, coluna reta e o olhar fixo na televisão, Maluf permaneceu em silêncio e distante. Ao lado dele, os netos. Atrás, vozes inconformadas da equipe que, ainda incrédula, tentava entender o que teria ocorrido.
"Em silêncio, Maluf não parecia mais preocupado com as urnas, mas, sim, com a explicação que teria de dar a toda aquela gente que estava em sua casa", afirmou uma das pessoas que acompanharam a apuração com ele.
Pelo menos uma hora depois, diante do clima depressivo que se abateu entre os presentes, o único que parecia ter recuperado o ânimo foi o próprio Maluf. Aos acompanhantes, o ex-prefeito repetia: "100%, está tudo 100%. Vamos esperar o resultado oficial".
A cada porcentagem de urna apurada, o resultado negativo para Maluf era confirmado. "100%, 100%, está tudo bem" ou "Vamos esperar o resultado oficial", tornava a dizer o ex-prefeito.
Com cerca de 20% das urnas abertas, Maluf abandonou o sofá e se juntou a seu marqueteiro, José Maria Braga. Pousou seus braços sobre ele e perguntou o que havia acontecido.
Ouviu a resposta em silêncio. Em seguida, Maluf formulou sua própria teoria: "Fui prejudicado pelo efeito sanduíche do PT", disse, referindo-se à cola petista que recomendou o número 13 para todos os candidatos. "Fiquei entre Aloizio Mercadante [eleito senador" e Lula", afirmou.
Reproduziu a versão para outras pessoas que estavam na sala, que mecanicamente concordaram. A tranquilidade demonstrada por ele foi descrita por alguns dos presentes como "forçada".
A partir das 22h, quando as pessoas começaram a partir, Maluf reuniu-se com sua assessoria para acertar que a entrevista à imprensa deveria ocorrer no dia seguinte. As últimas pessoas deixaram a casa de Maluf à 1h, quando ele disse estar cansado. Queria dormir.


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