São Paulo, domingo, 13 de outubro de 2002

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RIO GRANDE DO SUL

Líder com folga nas pesquisas para 2º turno, candidato do PMDB afirma que é opção "entre o brittismo e o PT"

Aliado e crítico de FHC, Rigotto diz ser 3ª via

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O candidato ao Executivo gaúcho que mantém laços políticos, ideológicos e até partidários com o governo federal é, paradoxalmente, um forte crítico da equipe econômica de Fernando Henrique Cardoso, especialmente quanto à ""falta de vontade política" para a reforma tributária.
O deputado federal em terceiro mandato Germano Rigotto (PMDB), 53, líder com folga até agora do segundo turno para o governo gaúcho, às vezes surpreende. Por exemplo: desacreditado pelo próprio partido quando tinha 4% das intenções de voto no primeiro turno, ele próprio teve de pegar sua camionete Toyota a diesel e percorrer 80 mil quilômetros Rio Grande do Sul afora.
À época, as eleições estavam polarizadas entre Antônio Britto (PPS) e Tarso Genro (PT) e parecia que seria assim até o fim.
Antes da candidatura ao governo, Rigotto tinha aspirações de ser candidato ao Senado. O PMDB precisava ter uma candidatura própria ao Palácio Piratini, para não perder terreno no Estado. O senador Pedro Simon, primeiro nome da lista, sonhava percorrer o país como candidato à Presidência. Sobrou para Rigotto.
""Só eu e poucos que me cercavam acreditávamos em mim."
O que ele não conta é que muitos peemedebistas embarcaram na sua campanha apenas em setembro. Até reagir nas pesquisas, Rigotto via correligionários ostentando adesivos do ex-governador Britto (que trocara o PMDB pelo PPS um ano antes e é malvisto por boa parcela do seu ex-partido) nos seus carros. O presidente regional do PMDB, Cézar Schirmer, chegou a ameaçar de expulsão quem fizesse isso.
O fato é que, em dia de comício, o diretório municipal onde Rigotto pisava era uma festa para ele. Quando virava as costas, reapareciam, imediatamente, os adesivos de Britto -o homem tido como mais forte para derrotar o PT.
Casado com a dona-de-casa Claudia Scavino Rigotto, advogado e dentista, pai de Rafael e Roberta, tendo ocupado os cargos de vereador em Caxias do Sul, cidade natal, deputado estadual e federal, se perfila entre os aliados de Pedro Simon, considerado espécie de líder da chamada ""ala ética" do PMDB -expressão que rechaça.

Privatização
Classificando-se como ""a terceira via" no Rio Grande do Sul, ""entre o brittismo e o PT", o peemedebista não se diz nem contra nem à favor das privatizações. "Na telefonia, pode-se discutir como ocorreu, mas foi importante."
Duas atividades na Câmara são consideradas por Rigotto um divisor de águas na sua biografia parlamentar: o primeiro ano e meio do governo FHC, quando foi líder no Congresso, e sua atuação como relator da Comissão de Reforma Tributária, ocasião em que percorreu o país e se desapontou com a equipe econômica. ""Quando chegávamos a bom termo, puxavam o tapete", conta.
Se o tema é fiscal, Rigotto deixa de lado o vínculo com o governo federal. ""Um dos grandes erros da gestão Fernando Henrique foi olhar mais para o caixa e menos para a reforma tributária, sentando em cima dela", diz. ""Tanto o Serra [seu aliado" quanto o Lula farão a reforma no primeiro ano de mandato. Nosso sistema tributário é concentrador de renda."
E as qualidades do governo FHC? ""A estabilidade econômica é o grande feito." Ironicamente, é na área fiscal que ele viveu um dos seus equívocos em 12 anos como deputado federal. No final do ano passado, quase acabou com a dedução no Imposto de Renda para planos de saúde e previdência privada ao assinar documento sem ler, acreditando no parecer redigido por outro deputado.
O documento seria votado pela Comissão de Finanças e Tributação da Câmara. Alertado sobre o que assinara, Rigotto retirou o projeto da pauta antes.
Havia 45 projetos reunidos em um texto de 200 páginas, do qual Rigotto seria o relator. Incluíam temas como o desconto de desembolsos com medicamentos e aluguel de imóveis. Rigotto alega que foi pego desprevenido.
Ao ser questionado sobre o fato de ter sido cotado até o último instante para integrar a dissidência que deixou o PMDB para embarcar no PPS com o ex-governador Britto (1995-98), Rigotto diz que isso nunca ocorreria, pois tem sua vida vinculada ao PMDB.
A respeito de Britto, que ficou em terceiro lugar no primeiro turno, Rigotto procura se descolar, apesar de ter sido governador do seu partido. ""Não participei do governo Britto. Eu era deputado federal, estava em Brasília. Não nego seus erros, faltou diálogo com a sociedade", diz.
Na sua biografia, não houve partido que não fosse o MDB e o PMDB, desde 75. No final dos anos 60, no regime militar, trocou de escola por assumir, como diretor do grêmio estudantil, propaganda com críticas ao governo e apoio a Che Guevara.


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