|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
QUESTÃO AGRÁRIA
Sem-terra pede a presidente não ter medo de fazer a reforma agrária
Rainha sai da prisão após 4 meses e dá recado a Lula
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA,
EM DRACENA (SP)
O STJ (Superior Tribunal de
Justiça) autorizou a libertação do
líder do MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra)
José Rainha Jr., 43, preso desde 11
de julho deste ano. Ele assegurou
o direito de aguardar em liberdade o desfecho do processo no qual
foi condenado, em primeira instância, por porte ilegal de armas.
Rainha foi libertado ontem, às
19h40, da Penitenciária de Dracena (647 km a noroeste de SP).
Na saída, mandou um recado ao
presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Quando ele tiver que dar a canetada para fazer a reforma agrária, que ele pense em duas coisas:
primeiro, na história dele; segundo, no povo que o elegeu. Que não
tenha medo", afirmou.
O líder referia-se a uma promessa feita por Lula na campanha
derrotada à Presidência em 1994:
"Com uma canetada só vou dar
tanta terra que vocês não vão conseguir ocupar", disse Lula, à época. Rainha pediu ao presidente
que tenha "convicção do que está
fazendo" e disse que vê Lula como
um aliado "para mudar o país".
A decisão foi tomada por oito
ministros que integram a 3ª Seção
do STJ, que apreciaram uma reclamação dos advogados do sem-terra contra a ordem de prisão
nesse processo. Rainha também
responde a outras ações penais.
Nesse caso, ele foi condenado a
dois anos e oito meses de prisão,
em regime inicialmente fechado.
Na sentença, de 30 de julho último, a Justiça de Teodoro Sampaio
ordenou o cumprimento imediato da pena. Para libertá-lo, os advogados disseram que o STJ já havia garantido, em 2002, por meio
de um habeas corpus anterior à
condenação, o direito de ele responder ao processo em liberdade,
mediante o pagamento de fiança.
Rainha terá a garantia até a sentença condenatória ser definitiva,
ou seja, não puder ser modificada
por recurso à instância superior.
A decisão foi unânime. Um dos
ministros, Hamilton Carvalhido,
discordou apenas do recurso escolhido pela defesa. Achou que,
em vez de reclamação (movida
em setembro), deveria ter sido
um novo habeas corpus.
Em 28 de outubro, a 6ª Turma
concedeu habeas corpus suspendendo uma ordem de prisão que
era parte do processo que o acusa
de comandar invasão à fazenda
Santa Maria.
Reencontro
Ao deixar a penitenciária, Rainha foi recepcionado por sua mulher, Diolinda Alves de Souza, 37,
e pelos filhos João Paulo, 10, e Sofia, 2. "A felicidade é a coisa mais
bonita que tem", repetiu várias
vezes, enquanto abraçava a família e militantes do MST.
Diolinda disse que a decisão de
libertar seu marido "é mais do
que nunca a liberdade da reforma
agrária". A afirmação foi feita no
início da noite, enquanto aguardava a libertação de Rainha.
A sem-terra reafirmou que não
pensa em deixar o Pontal do Paranapanema, como orientou o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, que teme novas condenações a líderes do MST.
Dirigindo-se aos sem-terra,
Rainha informou que recomeçará
a luta pela reforma agrária na região, considerada o foco do conflito fundiário no Estado.
Para João Paulo Rodrigues, da
coordenação nacional do MST, a
decisão do STJ simboliza um recado ao Judiciário para não mais
"criminalizar o movimento".
Segundo ele, os cerca de 1.500
sem-terra que participam de uma
marcha rumo a Brasília festejaram assim que souberam da decisão. "Sabíamos que era uma prisão injusta, e a Justiça conseguiu,
mesmo que tarde, como sempre,
corrigir a perseguição política do
juiz Atis de Oliveira [que determinou a prisão de Rainha]."
Em entrevista em setembro,
Atis disse que "cumpriu a lei".
(SILVANA DE FREITAS e CRISTIANO MACHADO)
Texto Anterior: Congresso: Mercadante vê disputa entre as duas Casas Próximo Texto: Frases Índice
|