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OPERAÇÃO ANACONDA
Apuração foi pedida em investigação de 89 sobre Herman Rodriguez, peça-chave no escândalo de corrupção na Justiça
Agente deixou de ser investigado pela PF
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Um processo na Justiça Federal
revela que as atividades do agente
federal César Herman Rodriguez,
41 -peça-chave do suposto esquema de venda de sentenças judiciais apurado na Operação
Anaconda- não foram investigadas com a atenção que exigiam
ainda em 1989, contrariando uma
recomendação da Comissão de
Processo Disciplinar que o investigou naquele ano.
No decorrer do processo administrativo que apurava o contrabando de um fuzil AR-15, Rodriguez reconheceu ter viajado aos
Estados Unidos duas vezes num
espaço de seis meses (setembro
de 1987 e março de 1988) e também à Espanha, Argentina e Uruguai. Mas se recusou a apresentar
o passaporte à PF. As viagens aos
EUA não foram comunicadas ao
setor da PF que controla a saída
dos agentes do país.
A comissão formada por dois
agentes e um delegado, Armando
Coelho Neto, pediu a demissão de
Rodriguez e afirmou: "Sugere-se,
sem embargo da independente
conclusão deste feito, que um outro seja aberto para apurar outras
saídas do país por parte de Rodriguez, suas reais posses para fazê-las e objetivos, além do imediato
cancelamento do passaporte e demais providências decorrentes".
A comissão exigiu que Rodriguez apresentasse o passaporte,
mas ele se recusou. No relatório
final, a comissão indagou: "Por
que não apresenta seu passaporte? Evidentemente por estar vinculado a todo esse esquema de
subterfúgios que cercam suas saídas. Talvez até existam outras".
Faltou apuração
O assistente jurídico do Ministério da Justiça na época, Rodoval
de Souza Guedes, reconheceu que
faltaram investigações sobre o caso. "Entendemos que houve realmente fortes indícios de que o
agente pudesse ter [envolvimento] no tráfico de armas pesadas.
Entretanto, essa premissa careceria de outro apuratório, conforme
sugeriu [a comissão]", escreveu
Guedes, em seu parecer.
A Polícia Federal demitiu Rodriguez em 91, mas não abriu inquérito criminal para apurar as
viagens internacionais. Sem isso,
Rodriguez acabou absolvido em
95 no processo criminal que corria na Justiça Federal. O procurador da República Alcides Martins
pediu a absolvição -contrariando pedido anterior de outro procurador, Paulo Eduardo Bueno.
Em sua manifestação, Alcides
Martins reconhece que Rodriguez
ingressou irregularmente no país
com uma arma. Mas pediu a absolvição com base no valor do
bem: custara US$ 400, e o limite
legal era de US$ 300. O procurador escreveu: "Fica evidente que
se trata de delito de ínfima lesividade para o Fisco".
O processo criminal sobre Rodriguez -o único contra ele que
corria na Justiça Federal até a
Operação Anaconda- coincidentemente foi redistribuído em
julho de 1991 pelo juiz federal João
Carlos da Rocha Mattos, hoje preso com Rodriguez na PF sob acusação de formação de quadrilha.
Juiz plantonista
Rocha Mattos enviou o processo da 3ª Vara Criminal para a 6ª
Criminal, que fora criada naquela
época e passou a receber processos de outras varas. Segundo funcionários da Justiça, Rocha Mattos era o juiz plantonista na época
e o ato da redistribuição teria sido
um detalhe "burocrático".
Em 1988, Rodriguez foi acusado
de entrar no país carregando na
bagagem um fuzil AR-15. Comprou a arma numa loja em Miami
e desembarcou no Rio de Janeiro
sem declarar a compra à alfândega. O fuzil foi achado por acaso,
meses depois, por uma equipe da
Polícia Civil que investigava narcotráfico. A arma estava no porta-malas do Monza do agente federal
Rosendo Neto, junto com uma
metralhadora, um revólver e uma
pistola. A polícia suspeitava que
Neto iria vender as armas.
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