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OUTRO LADO
Em depoimento, policial diz que queria colecionar armamentos
DA REPORTAGEM LOCAL
O agente federal César Herman
Rodriguez, 41, declarou em 89,
durante a investigação interna da
Polícia Federal que apurou a sua
entrada no país em 88 com um fuzil AR-15, que "pretendia se tornar um colecionador de armas".
Rodriguez disse à Comissão de
Processo Disciplinar que o investigou que também "pretendia regularizar a situação da arma posteriormente". Ele contou ter dado
sinal, em dinheiro, durante uma
viagem de férias a Miami, para a
compra de três armas na loja Tamiami Range and Gun Shop. Mas
trouxe apenas o AR-15, as outras
iria buscar depois.
Em sua defesa, Rodriguez apresentou à PF e à Justiça uma nota
fiscal emitida pela loja. Também
anexou uma declaração do cônsul
brasileiro em Miami, Sérgio Lacerda, na qual está dito que o
agente havia comprado uma arma e pretendia desembarcar com
ela no aeroporto de Cumbica, em
Guarulhos. O desembarque ocorreu no Rio de Janeiro.
A respeito de suas viagens internacionais, Rodriguez disse que
ocorreram por "lazer". Ele disse
que foi à Espanha, Uruguai e Argentina antes de entrar na PF (foi
admitido na polícia em 1985).
No processo, o agente também
anexou uma declaração do general-de-divisão Romulo Nunes Camargo, da 2ª Região Militar (SP),
reconhecendo que o policial desde então estava apto a "colecionar
armas no período 1989/1991". A
declaração do militar data de 11 de
outubro de 1989. A apreensão do
AR-15 ocorreu em abril de 1988
-portanto, um ano e meio antes.
Rodriguez negou que tivesse a
intenção de comercializar armas
por intermédio do seu colega
agente Rosendo Neto. Ele disse
que entregou a arma a Neto porque ela "necessitava de ajustes, na
fixação e na calibragem da mira".
Neto, ouvido em depoimento,
também negou que quisesse vender armas. Também interrogado,
um funcionário da empresa de segurança Itataia, onde Neto teria
estado para exibir suas armas e
sugerir uma venda, disse o contrário à Polícia Federal, mas o
agente manteve sua versão.
Superintendente
O delegado federal Marco Antonio Veronezzi, na época do pedido de investigação da Comissão
de Processo Disciplinar sobre as
viagens internacionais de Rodriguez, era o superintendente da PF
em São Paulo. Ele esteve à frente
da PF entre 1986 e 1992. Hoje ele
exerce cargo de direção na Delegacia Marítima, Aérea e de Fronteiras da PF paulista.
Veronezzi disse ontem à Folha
que não se lembrava sobre o feito
pela comissão. Disse se recordar,
em linhas gerais, das acusações
contra o agente. "Toda a Polícia
Federal se lembra disso", comentou o delegado.
A reportagem quis informar o
número e a data do processo administrativo para que Veronezzi
pudesse ler o processo e reavivar
sua memória, mas ele se recusou a
anotá-los. Disse que não caberia a
ele fazer essa leitura. "Vou ler a
sua reportagem. Se eu me sentir
ofendido, procurarei meus direitos", disse o delegado.
Veronezzi disse que se recorda
de ter demitido Rodriguez. Efetivamente, a demissão do agente, a
bem do serviço público, foi publicada no "Diário Oficial" da União
em 1991, quando Veronezzi era o
superintendente da PF.
O delegado também não quis
fazer comentários se, em tese, deveria ou não acolher um pedido
de novas investigações feito por
uma comissão processante. "Depende de cada caso, não dá para
falar na teoria", disse Veronezzi.
A Polícia Federal não informa
quem é o atual advogado de defesa do agente Rodriguez.
(RV)
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