UOL

São Paulo, quinta-feira, 13 de novembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

OUTRO LADO

Em depoimento, policial diz que queria colecionar armamentos

DA REPORTAGEM LOCAL

O agente federal César Herman Rodriguez, 41, declarou em 89, durante a investigação interna da Polícia Federal que apurou a sua entrada no país em 88 com um fuzil AR-15, que "pretendia se tornar um colecionador de armas".
Rodriguez disse à Comissão de Processo Disciplinar que o investigou que também "pretendia regularizar a situação da arma posteriormente". Ele contou ter dado sinal, em dinheiro, durante uma viagem de férias a Miami, para a compra de três armas na loja Tamiami Range and Gun Shop. Mas trouxe apenas o AR-15, as outras iria buscar depois.
Em sua defesa, Rodriguez apresentou à PF e à Justiça uma nota fiscal emitida pela loja. Também anexou uma declaração do cônsul brasileiro em Miami, Sérgio Lacerda, na qual está dito que o agente havia comprado uma arma e pretendia desembarcar com ela no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos. O desembarque ocorreu no Rio de Janeiro.
A respeito de suas viagens internacionais, Rodriguez disse que ocorreram por "lazer". Ele disse que foi à Espanha, Uruguai e Argentina antes de entrar na PF (foi admitido na polícia em 1985).
No processo, o agente também anexou uma declaração do general-de-divisão Romulo Nunes Camargo, da 2ª Região Militar (SP), reconhecendo que o policial desde então estava apto a "colecionar armas no período 1989/1991". A declaração do militar data de 11 de outubro de 1989. A apreensão do AR-15 ocorreu em abril de 1988 -portanto, um ano e meio antes.
Rodriguez negou que tivesse a intenção de comercializar armas por intermédio do seu colega agente Rosendo Neto. Ele disse que entregou a arma a Neto porque ela "necessitava de ajustes, na fixação e na calibragem da mira".
Neto, ouvido em depoimento, também negou que quisesse vender armas. Também interrogado, um funcionário da empresa de segurança Itataia, onde Neto teria estado para exibir suas armas e sugerir uma venda, disse o contrário à Polícia Federal, mas o agente manteve sua versão.

Superintendente
O delegado federal Marco Antonio Veronezzi, na época do pedido de investigação da Comissão de Processo Disciplinar sobre as viagens internacionais de Rodriguez, era o superintendente da PF em São Paulo. Ele esteve à frente da PF entre 1986 e 1992. Hoje ele exerce cargo de direção na Delegacia Marítima, Aérea e de Fronteiras da PF paulista.
Veronezzi disse ontem à Folha que não se lembrava sobre o feito pela comissão. Disse se recordar, em linhas gerais, das acusações contra o agente. "Toda a Polícia Federal se lembra disso", comentou o delegado.
A reportagem quis informar o número e a data do processo administrativo para que Veronezzi pudesse ler o processo e reavivar sua memória, mas ele se recusou a anotá-los. Disse que não caberia a ele fazer essa leitura. "Vou ler a sua reportagem. Se eu me sentir ofendido, procurarei meus direitos", disse o delegado.
Veronezzi disse que se recorda de ter demitido Rodriguez. Efetivamente, a demissão do agente, a bem do serviço público, foi publicada no "Diário Oficial" da União em 1991, quando Veronezzi era o superintendente da PF.
O delegado também não quis fazer comentários se, em tese, deveria ou não acolher um pedido de novas investigações feito por uma comissão processante. "Depende de cada caso, não dá para falar na teoria", disse Veronezzi.
A Polícia Federal não informa quem é o atual advogado de defesa do agente Rodriguez. (RV)


Texto Anterior: Operação Anaconda: Agente deixou de ser investigado pela PF
Próximo Texto: Delegado interceptou avião para cliente
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.