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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PALOCCI NA MIRA
E-mails em poder da CPI dos Correios associam irmão de ministro a empresa que quebrou
Seguradora ligada ao PT deixa rombo de R$ 20 mi
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A trajetória da Interbrazil Seguradora S.A. foi meteórica. Constituída em 2002, ganhou relevantes
contratos públicos no governo de
Luiz Inácio Lula da Silva e quebrou três anos depois, deixando
um passivo de R$ 20 milhões. Sob
intervenção desde agosto, a Interbrazil provocou prejuízo aos cofres públicos, incluindo Furnas
Centrais Elétricas e o Governo de
Minas Gerais entre suas vítimas.
Em poder da CPI dos Correios,
a cópia de uma troca de e-mails
associa a Interbrazil a Adhemar
Palocci, diretor de Planejamento
da Eletronorte e irmão do ministro da Fazenda, Antonio Palocci.
Nela, o presidente da Interbrazil, André Marques da Silva, recebe, no dia 21 de setembro de 2004,
uma mensagem em que o irmão,
Cláudio Marques da Silva, pede o
pagamento a fornecedores da
campanha de Pedro Wilson, ex-prefeito de Goiânia, à reeleição.
Adhemar Palocci foi secretário
de Fazenda de Pedro Wilson, sendo nomeado para a Eletronorte
apenas neste ano, após as eleições.
Cláudio é o dono de uma gráfica.
E, flagrado por uma câmera da
TV Globo, disse que o irmão pagava contas de campanha.
No e-mail -identificado com
cabeçalho com o nome "Palocci"- Cláudio apresenta uma lista
de credores. Antes, afirma "o que
o Palocci quer é o seguinte: grana
para pagar o seguinte (...)".
No dia 6 de outubro, em seu depoimento à CPI, Marques confirmou o teor do e-mail ao ser questionado pelo senador César Borges (PFL-BA), que leu o texto.
Marques admitiu ter doado material gráfico às campanhas. "Me
parece que é R$ 1 milhão, por causa das notas emitidas.". Mas negou ter pagado as contas. Segundo ele, foi um petista -o mesmo
que lhe apresentou a Adhemar-
quem "pediu ajuda para a campanha do PT". Não Adhemar.
Nome "Palocci"
Para justificar o nome de Adhemar no e-mail, Marques alegou
que seu conteúdo fora ditado por
um fornecedor, Welington José
Jorge, 35, a quem a coordenação
da campanha ainda deveria R$
200 mil. No e-mail, a indicação de
Welington -que é dono de um
trio elétrico- aparece com a inscrição "Este é o mais urgente".
Sem precisar a data, Welington
conta que, ano passado, ainda antes do primeiro turno, recebeu
um telefonema do comitê de campanha de Wilson e a recomendação para que procurasse um homem. "Me deram o telefone de
um rapaz, chamado Cláudio. Depois me mandaram um fax passando os dados para que fizesse
duas notas fiscais de R$ 20 mil
[cada uma]. Mandei e não pagaram", lembra Welington, acrescentando o que Cláudio prometeu: "Meu irmão vai pagar".
Nos e-mails, repassados à secretária de André Marques Maria
Cristina da Cruz, os irmãos discutem a emissão de duas notas,
uma para 30 de setembro e outra
para 15 de outubro. Mais uma vez,
Cláudio cita Adhemar. "Palocci
disse a ele que era só tirar a nota e
pagar à vista. O serviço foi prestado na campanha de Lula ainda."
Welington confirma ter trabalhado na campanha de Lula, mas diz
que não há dívida da época. Marques, por sua vez, diz só ter colaborado para campanha em 2004.
"Outro e-mail grave é o que ele
cita diretores da Susep e diz que
deram um prazo de 90 dias para
evitar a liquidação", diz o senador
Cesar Borges, referindo-se a um
plano de recuperação enviado ao
conselho da Interbrazil. A seguradora está sob intervenção desde
agosto, após denúncias de emissão de apólices falsas e calote.
Marques foi contador da Complave, empresa pertencente ao petista Luiz Antônio Carvalho, candidato do PT ao Governo de
Goiás em 1998 e a vice-prefeito de
Anápolis (GO) em 2000.
Em 1999, após uma intervenção
branca na Complave, a Interbrazil
começou a ser estruturada. Mas
só participou das concorrências,
segundo Marques, a partir de
2002. Entre os contratos, estão o
vultoso seguro das usinas Angra 1
e 2, com cobertura de US$ 1 bilhão. Também na área de energia,
a Celg (Companhia Energética de
Goiás) contratou a Interbrazil, em
março de 2004, como seguradora
da Usina Cachoeira. Após pagamento de R$ 2,8 milhões -segundo depoimento de Marques- constatou que a operação
não tinha garantia no exterior, o
resseguro. Até a rescisão, a usina
ficou por 45 dias sem cobertura.
Furnas
Em janeiro do ano passado, a
Interbrazil foi contratada pela
Construtora e Elétrica Saba, de
Goiás, para emissão do seguro-garantia de duas obras encomendadas por Furnas. Nas duas apólices, a Interbrazil se compromete a
pagar R$ 1,033 milhão a Furnas
em caso de não-execução da obra.
Em outubro, os projetos foram
interrompidos por inadimplência
da Saba. Segundo a assessoria,
Furnas entrou na Justiça para reaver o dinheiro.
Também no ano passado, no
dia 18 de junho, o governo de Minas fechou com a Interbrazil a
contratação de seguro obrigatório
da frota do Estado. Mas a Secretaria de Planejamento constatou
que, a partir de agosto deste ano,
alguns bilhetes nem foram pagos
pela empresa.
Outros foram quitados, mas
não foram informados ao sistema
de seguros do Detran. Com isso,
carros da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros circulam sem o
seguro. E o prejuízo já está calculado em R$ 600 mil.
Em maio deste ano, o próprio
Departamento de Polícia Rodoviária Federal contratou a Interbrazil para a emissão de DPVAT.
O empenho -compromisso de
gasto- é de 5 de maio. No dia 6,
foram liberados R$ 14.513,43. O
dinheiro foi sacado no dia 9. No
dia 24 de junho, o empenho -já
pago- foi cancelado. Ainda neste ano, o Ministério da Justiça pagou R$ 51 mil à Interbrazil.
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