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Lula conta com PMDB para ter apoio recorde na Câmara
Governo espera obter maior base de apoio formal e aposta na migração entre siglas
Computadas as bancadas eleitas em outubro, petista contaria com apoio de 63% da Câmara; FHC assumiu os dois mandatos com 65%
RANIER BRAGON
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O segundo mandato do governo Lula poderá ser respaldado pela maior base de deputados na Câmara dos últimos
20 anos. Para que isso se concretize, o governo espera contar com 90% da bancada do
PMDB e deve se beneficiar de
uma prática que condenava na
oposição: a migração de deputados entre as legendas.
Líderes de partidos governistas dizem, abertamente, que
vão inflar suas bancadas com a
adesão de deputados eleitos
que esperam apenas a diplomação pela Justiça Eleitoral para
abandonar o barco da oposição.
PSDB e PFL, que elegeram juntos 131 deputados, já admitem
que terão cerca de 120.
Computadas as bancadas
eleitas em outubro, o governo
Lula contaria com o apoio formal de 63% da Câmara, ou 325
dos 513 votos. Esse número não
significa transferência automática de votos, já que "traições"
nas bancadas são comuns, mas
assegura margem confortável
para aprovar projetos.
Esse cenário é possível contando o apoio de metade da
bancada do hoje oposicionista
PDT e a adesão de 90% do
PMDB, que terá 89 deputados.
O presidente Lula precisaria,
então, de poucos "neoaliados"
para superar o melhor índice de
apoio de um governo novo nos
últimos anos, tomando como
base de comparação os dois
mandatos de Fernando Henrique Cardoso, que começou as
legislaturas com respaldo de
cerca de 65% dos deputados.
Uma maioria robusta é crucial para o governo, entre outras coisas, por um simples motivo: em 2007, Lula terá que
aprovar a prorrogação ou "eternização" de dois instrumentos
considerados pelos últimos governos como essenciais à administração, a CPMF (o "imposto" do cheque) e a DRU (Desvinculação das Receitas da
União, que permite maior liberdade na execução orçamentária). Como significam emendas à Constituição, é necessário
o voto de pelo menos 60% dos
deputados para aprovação.
Troca-troca
"A expectativa é que cheguemos à posse com 40 deputados", afirma o líder do PL, Luciano Castro (RR), que espera,
com isso, um crescimento de
quase 100%, já que os liberais
elegeram 23 deputados.
Em 2002, o partido de Valdemar Costa Neto (SP) elegeu 26
deputados, tomou posse com
33 e chegou ao seu auge com 53
deputados, em junho de 2005,
quando foi atingido em cheio
pelo escândalo do mensalão.
"Tem deputado com a ficha de
filiação já assinada, só não estamos divulgando porque eles estão pedindo reserva por enquanto", completa Castro.
O PL se uniu ao Prona, que
elegeu dois deputados, para
criar o Partido da República. A
fusão depende ainda de homologação da Justiça Eleitoral.
PL, PTB e PP foram os partidos usados no começo do governo Lula para receber os deputados que aderiam ao governo. A medida foi estimulada pelo então ministro da Casa Civil,
José Dirceu, que teve o mandato cassado. Os oposicionistas
PFL e PSDB, que elegeram 154
deputados em 2002, chegaram
a perder mais de 40 integrantes
durante a legislatura.
Com o mensalão, o governo
mudou a indicação do destino a
seus neoaliados para legendas
como o PSB. "Um partido que
atingiu a cláusula de barreira
[regra que desidratará legendas
pouco votadas] é normalmente
procurado. As pessoas estão esperando a diplomação, como é
exigido, para definir os rumos,
mas é óbvio que há conversas
nesse sentido", disse o líder do
PSB, Alexandre Cardoso (RJ).
Oposição
A perspectiva de não contar
com o simbólico um terço da
Casa -número mínimo para
pedir uma CPI, por exemplo-
preocupa a oposição. Com 65
eleitos, o pior desempenho desde 1994, o PFL já espera perder
até dez deputados, alguns deles
por conta do futuro secretariado do governador eleito de São
Paulo, José Serra (PSDB). "Se
não acontecer nenhum desvio,
podemos recuperar e chegar a
60 com os suplentes dos secretários", diz o líder do PFL na
Casa, Rodrigo Maia (RJ).
No caso do PSDB, a expectativa é que o partido perca deputados no Ceará e na Paraíba devido a turbulências internas no
partido. "O PSDB deverá ter
pouca alteração, mas isso não
quer dizer que não haverá gente que entre ou saia", diz o líder
da legenda, Jutahy Jr. (BA).
Mais uma vez, o retrospecto
mostra que o governo não terá
dificuldade em inchar sua base
de apoio. Levantamento feito
pela Folha mostra que deputados federais trocaram de partido nos últimos anos em uma
velocidade média de uma migração a cada cinco dias. Desde
1995, há na Câmara dos Deputados o registro de 754 movimentações dos parlamentares
saindo de uma legenda e ingressando em outra, um frenético "troca-troca" iniciado na
metade da década de 80.
Um outro fator benéfico ao
governo é a tendência de a base
governista crescer nos primeiros meses da nova gestão.
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