São Paulo, sexta-feira, 13 de dezembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Analistas acreditam que Meirelles não teria conhecimento suficiente para executar a política monetária

Desconfiado, mercado espera por técnicos

Sérgio Lima/Folha Imagem
O futuro presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, no anúncio de seu nome em Brasília


ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
MARCIO AITH
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Quem será o diretor de política monetária do Banco Central? E quem vai comandar a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda? Essas são as perguntas que prometem inquietar o mercado agora e refletem a recepção não muito boa do mercado ao nome de Henrique Meirelles para a presidência do Banco Central.
Segundo diretores e economistas de bancos, ouvidos pela Folha, as respostas a essas perguntas indicarão quais serão, de fato, as diretrizes econômicas do futuro governo. Nem Meirelles nem Antonio Palocci Filho (futuro ministro da Fazenda) teriam conhecimento suficiente de execução de política monetária e elaboração de políticas macroeconômicas.
À primeira vista, isso indica que os operadores do mundo financeiro nunca estão satisfeitos. Primeiro, cobraram do governo eleito a indicação dos futuros ocupantes do Ministério da Fazenda e da presidência do BC.
Mal os nomes foram anunciados e o mercado já promete começar nova pressão para saber quem terá os segundos cargos mais importantes no BC e na Fazenda: respectivamente, a diretoria de Política Monetária, hoje ocupada por Luis Fernando Figueiredo, e a Secretaria de Política Econômica, comandada atualmente por Luis Guilherme Almeida dos Reis.
Os representantes do mercado se defendem, explicando que a pressão não tem nada a ver com insaciabilidade. O problema, segundo eles, é que Meirelles tem um ótimo perfil de político, poderá ser um bom negociador e representante do Brasil na comunidade internacional, mas não possui a prática esperada de "operador" do mercado, nem tem conhecimento técnico suficiente de política monetária.
Por isso, os principais bancos de investimento e corretoras receberam com muita cautela a escolha do deputado eleito Henrique Meirelles para a presidência do BC (Banco Central). Segundo eles, Meirelles não é mais uma personalidade do mercado, mas uma pessoa com ambições políticas que poderá vacilar na adoção de medidas impopulares durante a condução da política monetária.
Ao menos quatro instituições fizeram relatórios internos trazendo essa avaliação, embora tenham ressalvado que Meirelles tem a capacidade intelectual para assumir o cargo. São eles: Deustche Bank, Credit Suisse First Boston, a corretora britânica Liabilities Securities e o Morgan Stanley.
Vários analistas, como Paulo Vieira da Cunha, da Lehman Brothers, expressaram opiniões semelhantes: "É uma indicação muito boa. Não tenho dúvidas da capacidade de Meirelles. Mas temos que reconhecer que ele optou pela profissão de político. O ideal, mas não essencial, talvez fosse a escolha de um técnico".
Apesar de terem as mesmas restrições a Meirelles, outros analistas tentavam elogiá-lo publicamente. Um deles é Jaime Valdívia, do Morgan Stanley, que chegou a conceder entrevistas contraditórias sobre a escolha.
Segundo o diretor de um banco estrangeiro, Armínio Fraga, por exemplo, assumia as rédeas da mesa de operações do BC em dias de nervosismo, quando, muitas vezes, era preciso enfrentar o mercado. Para ele, por falta de experiência, Meirelles não teria condições de fazer o mesmo.
Walter Molano, da BCP Securities, disse à Folha que a reprovação dos bancos de investimento em Wall Street ocorre porque eles perdem seus contatos e contratos com o novo governo. "Bancos de investimentos em Wall Street não gostaram porque estão perdendo seus amigos no BC. Não há nada de errado num presidente do BC com perfil técnico e político. Essa é a tendência mundial."
Gabriel Jorge Ferreira, presidente da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), também disse que a suposta falta de experiência de Meirelles como operador não é um problema: "Não vejo nenhum problema. Aliás, tenho minhas dúvidas de que ele não tenha esse perfil operacional, depois de dirigir por tanto tempo o BankBoston. Ainda que exista uma lacuna, ela poderá ser preenchida pela equipe que ele vai constituir", disse.

Palocci
As mesmas críticas referentes à experiência recaem sobre Palocci. Apesar de vir agradando com suas declarações "amigáveis" ao mercado, o médico Palocci não tem, segundo especialistas, o perfil de formulador de política macroeconômica. Para o analista de um banco, está faltando na equipe de Lula um profissional que teria a atribuição de formulador de políticas macroeconômicas.

Colaborou ANA PAULA RAGAZZI, da Reportagem Local


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