São Paulo, quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

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Tucanos fecham acordo na madrugada, mas recuam

Palocci e o governador Eduardo Campos foram emissários da proposta ao PSDB

Resistência do partido levou aliados de Lula a elaborar carta-compromisso; FHC deu aval e senador Arthur Virgílio (AM) fez o pacto ruir

VALDO CRUZ
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A cúpula do PSDB chegou a fechar um acordo na madrugada de ontem com o governo Lula para aprovar a prorrogação da CPMF, mas recuou horas depois, no início da manhã, por decisão do líder tucano no Senado, Arthur Virgílio (AM).
A reunião que selou o entendimento entre tucanos e governistas ocorreu por volta de 1h de ontem na casa do presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). Além do anfitrião, estiveram presentes Arthur Virgílio e Cícero Lucena (PB) do lado do PSDB, e o ex-ministro Antonio Palocci e o governador Eduardo Campos (PSB-PE) da parte do governo.
Palocci e Eduardo Campos decidiram procurar os tucanos depois do fracasso das negociações na noite de terça-feira, quando o PSDB recusou a proposta elaborada pelo governador tucano José Serra (SP) de destinar todos recursos da CPMF para a saúde.
Os dois emissários levaram a proposta de elaborar uma carta-compromisso do presidente Lula, em que ele garantiria que a CPMF, mesmo prorrogada até 2011 conforme o texto em tramitação no Senado, existiria apenas no próximo ano, quando seria reformulada na discussão da reforma tributária.
Sérgio Guerra, Arthur Virgílio e Cícero Lucena consideram a idéia uma "boa proposta" e deram sinal verde para votação mais tarde, na sessão que seria aberta às 16h. O presidente do PSDB ficou incumbido então de contatar o ex-presidente Fernando Henrique. Apesar de avaliar que não era a proposta ideal, FHC deu seu aval.
Em seguida, Sérgio Guerra falou também com os governadores José Serra e Aécio Neves (MG) sobre o progresso nas negociações. Aécio chegou a dar entrevista pela manhã comemorando o acordo.
Pela manhã, Virgílio mudou de idéia. Segundo ele mesmo admitiu à Folha, resolveu desistir do acordo ao acordar e ler os jornais e checar suas mensagens eletrônicas, favoráveis à posição de votar contra a CPMF. "Você sabe, tem uma coisa chamada travesseiro, você dorme, acorda, reflete melhor. A proposta era boa, mas eu não tinha como bancar uma mudança de posição"
Logo depois, o líder tucano diz ter ligado para Sérgio Guerra e avisado que não concordava mais com a proposta, mesmo porque disse não acreditar que o compromisso seria assumido pelo presidente Lula.
O passo seguinte foi avisar também FHC, Serra e Aécio da mudança de posição. Ao ser informado, o governo Lula fez um apelo para que a bancada tucana analisasse novamente a proposta, o que aconteceu ontem no gabinete no senador Tasso Jereissati (CE).
Durante o encontro, realizado durante almoço com todos os 13 senadores tucanos, Virgílio ganhou o apoio de cinco senadores que também foram contra a nova proposta do governo. A cúpula tucana decidiu, então, informar ao governo que a idéia havia sido rejeitada, apesar de a maior parte do partido ser favorável.
Senadores tucanos, porém, informaram a Eduardo Campos que se o presidente enviasse um texto assinado com o detalhamento da proposta os tucanos poderiam mudar de idéia. Só que esse documento acabou chegando às mãos dos senadores tucanos somente ontem às 21h20 e lido no plenário às 22h30. O PSDB avaliou, então, que era muito tarde para levar o partido a mudar de posição e votar ainda ontem a favor da CPMF.
Lula foi informado do rompimento do acordo ontem pela manhã pelo ministro das Relações Institucionais, José Múcio, e pelo ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci Filho.
Segundo relato feito ao presidente, a mudança de posição dos tucanos deu-se por conta de um endurecimento no discurso do líder Arthur Virgílio (AM), que chegou a ameaçar entregar o cargo caso o partido não votasse unido.
Durante todo o dia de ontem, o gabinete do ministro José Múcio foi transformado no centro das articulações. Além dele e de Palocci, estiveram por lá os ministros Guido Mantega (Fazenda), Paulo Bernardo (Planejamento), o governador Eduardo Campos e o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).
Lula no final do dia passou no gabinete de Múcio, acertou os últimos detalhes da carta que seria enviada mais tarde ao Senado, desejou boa sorte a seu ministros e disse que iria acompanhar a sessão do Senado do Palácio da Alvorada.
Logo depois que a carta de Lula chegou ao plenário do Senado, com Lula no Alvorada, tucanos comentaram que o governo errou muito e demorou em acionar Palocci e Eduardo Campos para comandar as negociações.


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