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Tucanos fecham acordo na madrugada, mas recuam
Palocci e o governador Eduardo Campos foram emissários da proposta ao PSDB
Resistência do partido levou aliados de Lula a elaborar carta-compromisso; FHC deu aval e senador Arthur Virgílio (AM) fez o pacto ruir
VALDO CRUZ
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A cúpula do PSDB chegou a
fechar um acordo na madrugada de ontem com o governo Lula para aprovar a prorrogação
da CPMF, mas recuou horas
depois, no início da manhã, por
decisão do líder tucano no Senado, Arthur Virgílio (AM).
A reunião que selou o entendimento entre tucanos e governistas ocorreu por volta de 1h
de ontem na casa do presidente
do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). Além do anfitrião, estiveram presentes Arthur Virgílio e Cícero Lucena (PB) do lado do PSDB, e o ex-ministro
Antonio Palocci e o governador
Eduardo Campos (PSB-PE) da
parte do governo.
Palocci e Eduardo Campos
decidiram procurar os tucanos
depois do fracasso das negociações na noite de terça-feira,
quando o PSDB recusou a proposta elaborada pelo governador tucano José Serra (SP) de
destinar todos recursos da
CPMF para a saúde.
Os dois emissários levaram a
proposta de elaborar uma carta-compromisso do presidente
Lula, em que ele garantiria que
a CPMF, mesmo prorrogada
até 2011 conforme o texto em
tramitação no Senado, existiria
apenas no próximo ano, quando seria reformulada na discussão da reforma tributária.
Sérgio Guerra, Arthur Virgílio e Cícero Lucena consideram
a idéia uma "boa proposta" e
deram sinal verde para votação
mais tarde, na sessão que seria
aberta às 16h. O presidente do
PSDB ficou incumbido então
de contatar o ex-presidente
Fernando Henrique. Apesar de
avaliar que não era a proposta
ideal, FHC deu seu aval.
Em seguida, Sérgio Guerra
falou também com os governadores José Serra e Aécio Neves
(MG) sobre o progresso nas negociações. Aécio chegou a dar
entrevista pela manhã comemorando o acordo.
Pela manhã, Virgílio mudou
de idéia. Segundo ele mesmo
admitiu à Folha, resolveu desistir do acordo ao acordar e ler
os jornais e checar suas mensagens eletrônicas, favoráveis à
posição de votar contra a
CPMF. "Você sabe, tem uma
coisa chamada travesseiro, você dorme, acorda, reflete melhor. A proposta era boa, mas
eu não tinha como bancar uma
mudança de posição"
Logo depois, o líder tucano
diz ter ligado para Sérgio Guerra e avisado que não concordava mais com a proposta, mesmo porque disse não acreditar
que o compromisso seria assumido pelo presidente Lula.
O passo seguinte foi avisar
também FHC, Serra e Aécio da
mudança de posição. Ao ser informado, o governo Lula fez
um apelo para que a bancada
tucana analisasse novamente a
proposta, o que aconteceu ontem no gabinete no senador
Tasso Jereissati (CE).
Durante o encontro, realizado durante almoço com todos
os 13 senadores tucanos, Virgílio ganhou o apoio de cinco senadores que também foram
contra a nova proposta do governo. A cúpula tucana decidiu,
então, informar ao governo que
a idéia havia sido rejeitada,
apesar de a maior parte do partido ser favorável.
Senadores tucanos, porém,
informaram a Eduardo Campos que se o presidente enviasse um texto assinado com o detalhamento da proposta os tucanos poderiam mudar de
idéia. Só que esse documento
acabou chegando às mãos dos
senadores tucanos somente
ontem às 21h20 e lido no plenário às 22h30. O PSDB avaliou, então, que era muito tarde
para levar o partido a mudar de
posição e votar ainda ontem a
favor da CPMF.
Lula foi informado do rompimento do acordo ontem pela
manhã pelo ministro das Relações Institucionais, José Múcio, e pelo ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci Filho.
Segundo relato feito ao presidente, a mudança de posição
dos tucanos deu-se por conta
de um endurecimento no discurso do líder Arthur Virgílio
(AM), que chegou a ameaçar
entregar o cargo caso o partido
não votasse unido.
Durante todo o dia de ontem,
o gabinete do ministro José
Múcio foi transformado no
centro das articulações. Além
dele e de Palocci, estiveram por
lá os ministros Guido Mantega
(Fazenda), Paulo Bernardo
(Planejamento), o governador
Eduardo Campos e o líder do
governo no Senado, Romero
Jucá (PMDB-RR).
Lula no final do dia passou
no gabinete de Múcio, acertou
os últimos detalhes da carta
que seria enviada mais tarde ao
Senado, desejou boa sorte a seu
ministros e disse que iria
acompanhar a sessão do Senado do Palácio da Alvorada.
Logo depois que a carta de
Lula chegou ao plenário do Senado, com Lula no Alvorada,
tucanos comentaram que o governo errou muito e demorou
em acionar Palocci e Eduardo
Campos para comandar as negociações.
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