São Paulo, quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

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JANIO DE FREITAS

De pé contra o Brasil


É muito improvável que o país venha a saber tudo o que se passou no Senado -ou no que figura como tal


D UAS SEMANAS atrás, uma nota convidava aqui à observação, como um joguinho, das contagens de governistas e oposicionistas, para descobrir qual dos lados blefava ao ostentar sua artilharia na disputa por manter ou extinguir a CPMF. Os demistas (ou pefelistas sob a nova sigla DEM) acabavam de surgir com a novidade de 33 votos seguros contra o imposto. Os governistas, apesar do indisfarçável abalo ante a afirmativa do adversário José Agripino, insistiram em já contar com 51 votos para prorrogar a CPMF. Os números tinham o inconveniente de, somados, chegar a 84 votos, no plenário de 81 senadores. Dividido entre os seus cinco governadores, mais lulistas do que muitos petistas, e a maioria da sua bancada, o PSDB não quis se envolver com a aritmética.
Nos três últimos dias, acumularam-se indicações que dão uma resposta peculiar à cara ou coroa: a moeda ficou em pé.
Sob a imposição dos horários, escrevo muito antes da decisão do Senado, portanto sem saber das revelações de ilusionismo e traição a que, na última hora, os farsantes de um lado e de outro não podem fugir. Mas o resultado não poderia mudar os fatos que o precederam. Um deles, proporcionado pela atitude sem precedentes da ida sorrateira do presidente da República, com uma proposta de fisiologismo declarado, ao encontro de integrantes dos partidos de oposição, para fazê-los seus intermediários de mais fisiologismo com que adquirir votos pró-governo. Logo, aí ficou demonstrado que, ao lançar a inesperada contagem contrária à CPMF, a liderança do DEM podia não ter o número mais correto, mas não era o lado blefador.
Daí, porém, não decorre que a conta do governo, elevando o total de senadores a impossíveis 84, fosse o blefe do jogo. Os governistas ficaram em situação peculiar: tinham mas não tinham um grupo de votos capaz de assegurar-lhes a prorrogação da CPMF. Senadores que o governo pôde dar como atraídos para apoiá-lo e, no entanto, com seus votos governistas dependendo de soluções que o compra-e-vende da Presidência não bastara para produzir.
Caso do baiano César Borges e do paulista Romeu Tuma, que mudaram do DEM para o PR e o PTB, e ficaram sob ameaça de perda dos seus mandatos, a pedido dos ex-correligionários, se votassem a favor da CPMF. Ainda no DEM, Jonas Pinheiro, Jayme Campos, ambos mato-grossenses, e Adelmir Santana, do Distrito Federal, ficaram pendentes da autorização partidária, que Lula quis obter em sua missão pretensamente sigilosa, para escapar à "questão fechada" contra o governo. No PSDB, o paraibano Cícero Lucena e o alagoano João Tenório não ficaram sob "questão fechada", mas em promessas incertas sob a pressão da bancada. Esses sete indeclarados já mudariam o jogo. E não eram só eles em situações semelhantes.
É muito improvável que o país venha a saber tudo o que se passou, nestes últimos dias, no seu Senado -ou no que figura como tal. Melhor, o que se passou com o envolvimento da Presidência da República, dos senadores e de vários governadores. Mas ninguém precisa duvidar de que foi mais um dos momentos muito baixos na vida política e governamental.


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