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"Geisel resolveu registrar como 31 de março"
DA SUCURSAL DO RIO
Dono de uma boa memória, o
marechal Levy Cardoso passou a
exercitar ainda mais a capacidade
de relatar os fatos em detalhes para escrever uma autobiografia,
trabalho que começou em junho
de 2000, com a ajuda do genro, o
general Antônio Moreira, e que se
destina aos "filhos, netos e bisnetos": "Não sei se vou publicar. A
família já tem bastante gente".
Folha - Que lembrança mais forte
o sr. trouxe da guerra?
Levy Cardoso - O ataque a Monte
Castelo. Comandava um grupo de
artilharia. Estive em Castelo três
vezes. No terceiro ataque a Castelo, saímos vitoriosos. Quando os
nossos soldados tomaram o alto
do morro e conquistaram o objetivo, eram cinco e meia da tarde.
Eu dei um viva ao Brasil.
Folha - O sr. foi para a reserva no
início do regime militar, em 1966.
O sr. participou do movimento?
Cardoso - Ativamente. No dia 31
de março, à meia-noite, estava no
gabinete do Costa e Silva, com ele
e o Ernesto Geisel, quando foi declarada a vitória da Revolução. Já
passava da meia-noite, mas, para
não parecer trote, Geisel resolveu
registrar como 31 de março.
Folha - O sr. conheceu e conviveu
com muitos personagens de nossa
história. Algum deles ficou com
uma imagem errada?
Cardoso - O Costa e Silva. Foi injustiçado. Era um homem muito
bom e é acusado de baixar o AI-5.
Ele quase que foi obrigado a fazer
isso, pela facção mais radical. Geisel era muito rígido, já o Castello
Branco era mais flexível. Fomos
colegas de turma, mas, depois que
saiu da Presidência da República,
não tivemos mais contato.
Folha - O sr. chegou a integrar o
grupo que queria impedir a posse
do presidente João Goulart, em 61?
Cardoso - Acompanhei o movimento, mas o aceitei na Presidência, como democrata, apesar de
sempre ter ficado com o pé atrás.
Ele não era comunista, como diziam, mas era fraco, dominado
pela esquerda.
Folha - Como foi sua passagem
pela Petrobras?
Cardoso - Por incrível que pareça, fui presidente do CNP (Conselho Nacional do Petróleo) e da Petrobras contra a minha vontade.
Tinha acabado de me aposentar,
queria ir para o meu sítio criar
frangos e plantar café.
Folha - Que decisões marcaram
sua passagem pelo setor?
Cardoso - A criação da Petroquisa. A empresa nasceu justamente
para permitir a associação do Estado com o capital privado nacional e estrangeiro. Também avancei no refino. Criei o plano para a
construção da refinaria de Paulínea, concluído pelo Geisel.
Folha - Como o sr. vê a abertura
do setor petrolífero?
Cardoso - Com muita naturalidade. É sequência do desenvolvimento. Na época, quando era
conselheiro da Petrobras, aprovei
os primeiros contratos de risco
com empresas estrangeiras para a
exploração. Minha convicção era
a de que a indústria petroquímica
só poderia ter êxito se dela participasse a Petrobras.
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