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JANIO DE FREITAS
Palavras contra palavras
A explicação de Luiz Inácio Lula da Silva para os
espantos provocados por seu governo fazem sentido, mas não
de todo. De fato, duas semanas
são menos do que um passo no
mandato, e alguma barafunda
era esperável, se bem que em
menor grau do que ocorre.
O que faz a explicação insuficiente é outro motivo: são as dissonâncias, que nada justificaria
nem por um instante, entre os
rascunhos que o governo faz,
para sua linha de ação, e os modelos de idéias e condutas que
exibiu na campanha à Presidência, além dos registros todos
deixados pelo PT.
Ou Ricardo Berzoini, por
exemplo, com suas múltiplas
entrevistas diárias, revela propósitos de governo sem sintonia
com o programa e a pregação do
candidato Lula, ou suas propostas são apenas pessoais e sua
ocupação deve chamar-se ministro da Imprevidência.
Em duas semanas de muitas
palavras e nenhum ato, Berzoini ainda não emitiu uma só frase que não seja a negação da
história do PT, da luta petista
no Congresso e do espírito impregnado por Lula à sua campanha.
As medidas que Berzoini está
plantando, a cada dia uma a
mais, podem ser todas adotadas
e até alcançar justificação, mas
em sua campanha Lula não falou em nenhuma delas a não ser
para repelir: não falou, nem insinuou, em acabar com as correções concomitantes de aposentados e pensionistas às de funcionários na ativa; não falou,
nem insinuou, na identidade de
regimes e "direitos" entre assalariados e funcionários civis e
militares; não falou, nem insinuou, em extinguir as garantias
dadas pela Constituição ao funcionalismo civil e ao militar, e
assim prossegue o contraste entre a pregação do ministro e a
do candidato. À qual também o
ministro do Trabalho, Jacques
Wagner, deu sua contribuição,
com o proposto corte dos 40%
pagos aos demitidos.
É evidente que Berzoini não
está se dedicando, dia a dia, ao
insistente papel de aventureiro.
Está cumprindo um papel, sim,
ou já teria recebido o mesmo sinal de silêncio mandado a outros ministros loquazes. É o conhecido papel de lançador dos
petardos que preparam o caminho para o governo, diante do
qual os resistentes depois se
mostram conformados com amputações menores. E, quando o
governo recua, está sendo compreensivo.
É um jogo, em geral, eficiente.
Ético, nunca. Incompatível, portanto, com o sentido dado pela
palavra do candidato Lula ao
eleitorado.
Mais armas
Na Folha de ontem, uma notícia tremenda: os guardas de rua
privados poderão portar armas
em São Paulo.
O Rio já fez tal experiência,
quando a criminalidade começou a transbordar. Péssimo resultado. Com frequência, as armas entregues aos guardas
eram roubadas, em assaltos, ou
"roubadas". Iam fortalecer o arsenal da criminalidade. E não
foram poucos os casos em que
mesmo guardas usavam suas
armas, fora do expediente normal, para expedientes extras dedicados a assaltos.
Outra cidade -creio que Belo
Horizonte- passou pela mesma experiência. É o que São
Paulo deve esperar, com a criminalidade dotada de novas armas.
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