São Paulo, terça-feira, 14 de janeiro de 2003

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JANIO DE FREITAS

Palavras contra palavras

A explicação de Luiz Inácio Lula da Silva para os espantos provocados por seu governo fazem sentido, mas não de todo. De fato, duas semanas são menos do que um passo no mandato, e alguma barafunda era esperável, se bem que em menor grau do que ocorre.
O que faz a explicação insuficiente é outro motivo: são as dissonâncias, que nada justificaria nem por um instante, entre os rascunhos que o governo faz, para sua linha de ação, e os modelos de idéias e condutas que exibiu na campanha à Presidência, além dos registros todos deixados pelo PT.
Ou Ricardo Berzoini, por exemplo, com suas múltiplas entrevistas diárias, revela propósitos de governo sem sintonia com o programa e a pregação do candidato Lula, ou suas propostas são apenas pessoais e sua ocupação deve chamar-se ministro da Imprevidência.
Em duas semanas de muitas palavras e nenhum ato, Berzoini ainda não emitiu uma só frase que não seja a negação da história do PT, da luta petista no Congresso e do espírito impregnado por Lula à sua campanha.
As medidas que Berzoini está plantando, a cada dia uma a mais, podem ser todas adotadas e até alcançar justificação, mas em sua campanha Lula não falou em nenhuma delas a não ser para repelir: não falou, nem insinuou, em acabar com as correções concomitantes de aposentados e pensionistas às de funcionários na ativa; não falou, nem insinuou, na identidade de regimes e "direitos" entre assalariados e funcionários civis e militares; não falou, nem insinuou, em extinguir as garantias dadas pela Constituição ao funcionalismo civil e ao militar, e assim prossegue o contraste entre a pregação do ministro e a do candidato. À qual também o ministro do Trabalho, Jacques Wagner, deu sua contribuição, com o proposto corte dos 40% pagos aos demitidos.
É evidente que Berzoini não está se dedicando, dia a dia, ao insistente papel de aventureiro. Está cumprindo um papel, sim, ou já teria recebido o mesmo sinal de silêncio mandado a outros ministros loquazes. É o conhecido papel de lançador dos petardos que preparam o caminho para o governo, diante do qual os resistentes depois se mostram conformados com amputações menores. E, quando o governo recua, está sendo compreensivo.
É um jogo, em geral, eficiente. Ético, nunca. Incompatível, portanto, com o sentido dado pela palavra do candidato Lula ao eleitorado.

Mais armas
Na Folha de ontem, uma notícia tremenda: os guardas de rua privados poderão portar armas em São Paulo.
O Rio já fez tal experiência, quando a criminalidade começou a transbordar. Péssimo resultado. Com frequência, as armas entregues aos guardas eram roubadas, em assaltos, ou "roubadas". Iam fortalecer o arsenal da criminalidade. E não foram poucos os casos em que mesmo guardas usavam suas armas, fora do expediente normal, para expedientes extras dedicados a assaltos.
Outra cidade -creio que Belo Horizonte- passou pela mesma experiência. É o que São Paulo deve esperar, com a criminalidade dotada de novas armas.


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