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Corrida do ouro no AM atrai de índio a vereador
Reserva foi descoberta em novembro; 150 quilos do minério já foram extraídos
Garimpo ilegal trouxe 4.000
pessoas ao Estado; nas ruas
da cidade de Apuí, hóspedes
dormem em redes atadas
aos troncos das árvores
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM APUÍ (AM)
A corrida pelo ouro no garimpo ilegal que vem sendo chamado de "novo Eldorado da Amazônia" atraiu desempregados,
trabalhadores rurais, comerciantes, professores, médicos,
donas-de-casa, pastores evangélicos, políticos e índios, entre
as 4.000 pessoas que chegaram
a Novo Aripuanã (AM).
O garimpo é organizado por
uma cooperativa aberta só para
isso. A Coodersam (Cooperativa de Desenvolvimento do Sul
do Amazonas) diz que 2.000
pessoas chegaram só na última
semana e que, até o final do
mês, pode haver 8.000 no local.
A reserva fica na margem esquerda do rio Juma. Desde novembro, quando o ouro foi descoberto, foram extraídos das
minas 150 quilos de ouro, avaliados em R$ 5,8 milhões.
Duas lojas para comprar o
minério foram abertas nesta
semana em Apuí (455 km de
Manaus), cidade de cerca de 18
mil habitantes que dá acesso ao
garimpo. As oito hospedarias
não comportam mais hóspedes, que agora dormem em redes atadas nas árvores das ruas.
A Folha contou entre as 9h e
as 19h de quinta-feira a chegada de 300 garimpeiros.
O índio mundurucu Jairo
Kurap, 33, diz que soube do garimpo pela internet, na aldeia
em Jacareacanga (PA). "Não
pensei duas vezes, vim conhecer a fofoca. Quero conseguir
um quilo ou dois de ouro."
O vereador de Humaitá (AM)
Cristóvão Costa (PFL) chegou
de caminhonete após 16 horas
de viagem. Em 15 dias, obteve
700 gramas de ouro. "O sonho
que eu sempre tive é manter a
minha família viva. Eu tenho
dois filhos, e esse ouro vou
guardar para o futuro deles."
A comerciante Luciana
Theodoro, 31, veio de Sinop
(MT). Primeiro, procurou o
marido, que foi na frente. Como não o encontrou, abriu uma
frente de trabalho com seis homens em uma das grotas.
"Todo mundo aqui tem esperança de ganhar dinheiro mais
fácil e digno. Só vou sair quando realizar meu sonho, que é
comprar meu carro zero."
O garimpo também atraiu
médicos e pastores evangélicos. Para chegar a ele, de Apuí,
é preciso rodar 70 km pela
Transamazônica, pegar a AM-360 e, depois, uma vicinal de
um assentamento do Incra
criado nos anos 80.
Os garimpeiros atravessam o
rio Juma em voadeiras (canoas
de alumínio com motor de popa). Mais de 40 voadeiras fazem o trajeto, de 20 minutos.
A parte mais difícil da travessia são os quatro quilômetros
de picadas (caminhos aberto
com facão) para chegar às grotas. É preciso fugir do lamaçal
em que, devido às escavações,
transformou-se o igarapé.
Os primeiros sons ouvidos
são os das motosserras derrubando árvores de até 40 metros
e dos tiros que os garimpeiros
dão para o alto para comemorar os achados. Em duas horas
em que a reportagem esteve no
local, foram 31 disparos.
O cheiro é quase insuportável. A higiene é precária. Não
há água potável. Uma água mineral de 600 ml sai por R$ 4.
Árvores foram derrubadas
para dar passagem às frentes
de trabalho. Troncos são usados para demarcar os espaços
da extração do ouro e para
construir barracões, cantinas,
mesas, bancos e caixas.
A área já desmatada é estimada pela SDS (Secretaria de
Desenvolvimento Sustentável)
do Amazonas em 30 hectares.
Em 60 dias de trabalho, os
garimpeiros ergueram mais de
200 barracões, construídos
com lona e toras de madeira,
onde dormem em redes.
Muitos levaram mulheres e
filhos. A dona-de-casa Jacira
Gomes de Moraes, 37, conta
que o marido, trabalhador rural, estava desempregado. "Em
Apuí, tivemos que vender as
coisas para dar de comer aos
meus filhos. Aqui, já temos o
que comer. Dá para sonhar
com uma casa própria."
Há adolescentes no local,
mas os líderes das principais
frentes negam haver prostituição. Na quinta à noite, duas
meninas de 13 e de 16 anos
aguardavam a chegada de mais
um ônibus com garimpeiros.
"As garotas fazem programa a
um grama de ouro. As que entraram não querem sair. Eu
vou entrar também", diz a menina de 16.
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