São Paulo, quinta, 14 de janeiro de 1999

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PAINEL

Cartas na manga
FHC tem, desde o ano passado, dois estudos sobre o impacto de uma desvalorização cambial na economia (juros, inflação e balança comercial). Um radical, outro moderado. O primeiro foi elaborado por um economista que já deixou o governo. O segundo, pelo próprio BC.
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Pintou o Armagedon
Acertada a saída de Gustavo Franco do BC, anteontem, Malan (Fazenda) procurou ACM. O medo do ministro era o governo ser derrotado na votação de ontem das medidas provisórias. A reação dos mercados poderia ser catastrófica. ACM bancou que as MPs seriam todas aprovadas.
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A postos no convés
FHC pensava em voltar para Mangue Seco ontem à noite. O presidente está "exausto, batendo o pino", segundo amigos que estiveram com ele nos últimos dias. Mas resolveu ficar ao perceber que a saída de Franco e a mexida cambial não bastaram para acalmar os mercados.

Juntando os cacos
Malan (Fazenda), que saiu mais forte da crise, viu pelo menos um aspecto "positivo" na queda de Gustavo Franco: serve para "recompor internamente" a equipe econômica, segundo explicação dada a congressistas. Franco era o último bastião contra a flexibilização do câmbio.
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O exterminador do futuro
Maldade que circulava ontem no Congresso: Gustavo Franco vai substituir o técnico Wanderley Luxemburgo no Corinthians. E daqui a dois ou três meses o time não terá mais reservas.
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Último moicano
Gustavo Franco foi o último integrante da equipe original de formuladores do Plano Real a deixar o governo. Antes dele saíram Edmar Bacha, André Lara Resende e Pérsio Arida.

Doeu no bolso
A flexibilização do câmbio deixou na lona o senador Roberto Requião (PMDB-PR). Em menos de 24 horas, o carro alemão que adquiriu recentemente, a prazo, ficou R$ 4.000 mais caro.

Dança das cadeiras 1
Investigado pela Polícia Federal por fraudes com subsídios referentes ao transporte de combustíveis, José Carlos Quijano, superintendente de Abastecimento da ANP (Agência Nacional do Petróleo), foi demitido.

Dança das cadeiras 2
Amigo do diretor-geral David Zylbersztajn, Adriano Rodrigues assume o posto de Quijano na ANP, com carta branca para fazer mais mudanças na equipe. O superintendente administrativo-financeiro Sílvio Cordeiro também caiu. Para o lugar, irá Vera Ungareti, ex-CPFL.

Mutirão da crise
Sintoma do clima de apreensão com as votações no Congresso: Covas, mesmo em convalescença, ligou para o líder do governo Arnaldo Madeira pedindo informações e oferecendo ajuda.

Palco sob medida
Jaime Lerner (PR) liderou as críticas a FHC na reunião de São Luís (MA). Disse que o presidente administra "divorciado" dos governadores e que só se lembra deles na hora de pedir o voto das bancadas no Congresso. O pefelista marcou posição porque sonha alto para 2002.

Fogo no circo
Itamar Franco gostou do auê que provocou ao decretar a moratória de Minas Gerais.

Boca na botija
Tucanos estavam reunidos na casa de José Aníbal (SP), conspirando para trocar Aécio Neves por Roberto Brant na liderança da Câmara, quando foram informados da queda de Gustavo Franco. Àquela altura, a notícia já correra a cidade.

Dois sustos
Nem ao sair do governo Gustavo Franco escapou das farpas de empresários paulistas. Ele é criticado por não ter esperado e pilotado a mudança de rumo na política cambial, o que, dizem, teria reduzido o trauma da medida.

Humor negro
Piada que circula nos meios políticos e financeiros desde anteontem: "FHC foi para Mangue Seco. A vaca, para o brejo".

TIROTEIO

De Ciro Gomes (PPS), ex-ministro da Fazenda (governo Itamar) e candidato derrotado à Presidência, sobre a mudança da política cambial:
- É lamentável que o governo tenha deixado para consertar o telhado durante a chuva. O que costuma acontecer nestes casos é a quebra de mais telhas.

CONTRAPONTO

Puxei a mamãe
Ao iniciar as articulações para concorrer pela terceira vez ao governo de Pernambuco, em 1994, Miguel Arraes (PSB), com 78 anos naquele momento, foi aconselhado por políticos do Estado a tentar uma vaga no Senado, o que poderia lhe proporcionar uma vida mais tranquila.
De uma maneira delicada e cheia de eufemismos, por temer uma reação enérgica de Arraes, os correligionários queriam dizer ao socialista que ele estava velho demais para tentar novamente governar o Estado.
Diante da insistência de alguns políticos sobre a sua suposta "velhice", Arraes ouviu mais uma vez o "conselho", deu uma baforada no cachimbo, tossiu, e calou os interlocutores com a ironia sertaneja de costume:
-É, minha mãe, dona Benigna, lá no Crato, também acha isso.
Foi o suficiente para afugentar os conselheiros, que passaram a acreditar na "juventude" do ex-governador.



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