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IGREJA
Dom Geraldo Majella assume dia 11 de março Arquidiocese de Salvador
Novo arcebispo primaz faz crítica à economia global
JOSÉ MASCHIO
e da Redação
O papa João Paulo 2º nomeou
oficialmente ontem d. Geraldo
Majella Agnelo primaz do Brasil e
arcebispo da Arquidiocese de Salvador, na Bahia.
Atualmente, d. Geraldo é secretário da Congregação para o Culto
Divino e Disciplina dos Sacramentos na Cúria Romana, no Vaticano.
Integra a "Capela Pontifícia"
-grupo de assessores que acompanham o papa nas celebrações
realizadas no Vaticano.
Ele assume a Arquidiocese de
Salvador em 11 de março, tendo
sob sua influência 105 paróquias.
D. Geraldo nasceu em Juiz de Fora (MG), em 1933. Iniciou sua formação religiosa no curso de filosofia e teologia no Seminário Central
do Ipiranga, em São Paulo, onde
foi ordenado sacerdote. Depois,
seguiu para Roma, onde fez doutorado no Pontifício Ateneu de Santo
Anselmo (1967-1969).
Na Igreja, é considerado independente, com trânsito nas principais correntes internas.
Em entrevista exclusiva à Agência Folha ontem, por telefone de
sua casa no Vaticano, logo após a
nomeação, d. Geraldo criticou a
globalização econômica e disse
que, neste fim de milênio, o mundo precisa de uma "globalização
da solidariedade humana".
Ele criticou o "perverso jogo das
Bolsas", e o "descaso das grandes
potências mundiais com o Terceiro Mundo". Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
Agência Folha - Como o sr. recebeu a nomeação para a Arquidiocese de Salvador?
D. Geraldo Majella Agnelo - Foi
uma demonstração de grande confiança do papa João Paulo 2º me
nomear para a arquidiocese primacial do Brasil, que existe desde
1551. Tenho expectativa e confiança em um bom trabalho, não pela
minha capacidade pessoal, mas
pelo auxílio que sei que terei dos
bispos auxiliares e de todo o clero
da Bahia.
Agência Folha - Seria o primeiro
passo para a nomeação do sr. como cardeal primaz do Brasil?
D. Geraldo - Desde 1953 o arcebispo nomeado para Salvador ascende para cardeal. Isso depende
do papa. Mas o mais importante é
que eu esteja à altura para essa
obra, que é sobretudo divina.
Agência Folha - O sr. volta ao Brasil em um momento em que o movimento carismático avança dentro da Igreja, inclusive com o padre
Marcelo Rossi se tornando uma estrela da mídia. Como o sr. vê esta
situação?
D. Geraldo - Olha, ainda não vi o
conjunto do trabalho do padre
Rossi. Tenho acompanhado pelos
telejornais italianos parte dos seus
espetáculos. Toda semana temos
notícias sobre o padre Rossi. É
uma pessoa que tem muito carisma. Vi também um artigo do frei
Beto alertando sobre os perigos
dessa exposição. Toda pessoa que
se expõe na mídia deve estar predisposta àqueles que irão acolher
suas teses e àqueles que serão discordantes. Quando voltar ao Brasil, vou poder ver o conjunto de
seu trabalho. Espero que ele consiga fazer que os seus seguidores se
aprofundem no conhecimento do
Evangelho.
Agência Folha - O papa João Paulo 2º se pronunciou com firmeza
contra os ataques dos Estados Unidos e da Inglaterra ao Iraque. Seria
uma nova postura, mais politizada,
da Igreja Católica?
D. Geraldo - Por que não se faz
nenhuma defesa daqueles que estão morrendo na África? Por que
não se mandam aviões para combater a fome? Já no Oriente Médio
os interesses são econômicos. Lá
existe petróleo. Sempre ele (Estados Unidos) acha que todo mundo
deve ser dobrado aos seus interesses. Não é nem discutir se Saddam
Hussein é tirano, e as notícias que
temos é que ele é. Mas não é ele
quem morre. É o povo, sempre o
povo, que paga. Quando foi que a
guerra resolveu alguma coisa? A
guerra sempre deixou dor e sofrimento, feridas abertas. O papa tem
toda a razão em criticar os ataques.
Agência Folha - O sr. irá encontrar o Brasil em crise econômica.
Hoje (ontem) mesmo houve uma
forte queda nas Bolsas.
D. Geraldo - Não é só no Brasil.
Hoje, o mundo inteiro é um jogo
-o jogo perverso das Bolsas no
mundo. O Terceiro Mundo virou
um joguete na mão das grandes
economias. O mais grave é que eu
não vejo nenhuma solidariedade
das grandes potências para os que
mais sofrem. Hoje, se prefere jogar
fora o excesso de produção nos
países ricos, e não se canaliza isso
para os que sofrem com a fome.
Parece que as grandes potências
querem mesmo que os famintos da
África morram todos.
Agência Folha - Não seria isso
uma face da política de globalização econômica?
Majella - Vivemos um triste fim
de milênio. Um mundo cada vez
mais globalizado, mas com muita
individualidade, muito egoísmo.
Um tempo muito difícil, em que é
preciso com urgência uma globalização da solidariedade humana.
Hoje, o poder está com os que têm
o dinheiro e a informação e isso vai
atrasar a vida do homem.
Torço pela globalização da solidariedade, pelo fim deste capitalismo realmente selvagem que estamos vivendo, com os pobres sendo
um joguete na mão das grandes
economias.
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