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JANIO DE FREITAS
A próxima caravana
Embora as divergências agudas já fossem antigas, foi às
pressas que Gustavo Franco se
viu na contingência de deixar
o Banco Central, e Pedro Malan, na de designar logo o
substituto. Gustavo foi abatido, mesmo não sendo visado
pessoalmente, pelo fogo cruzado de duas cargas de advertências sobre os riscos para as votações de ontem no Congresso,
a menos que houvesse sinais
imediatos e concretos de ação
contra os juros.
Desde a semana passada estava constatado o desinteresse
dos governadores por mobilizar, a pedido do governo, as
bancadas estaduais para a
aprovação das medidas provisórias postas na pauta de votações desta semana. A reunião
desses governadores no Maranhão, a título de solidarizar-se
com Fernando Henrique contra Itamar Franco, resultou,
como só a cegueira governista
não previu, em manifestação
unânime contra a altitude dos
juros.
Também na terça, as sondagens de parlamentares, pelas
lideranças do governo, tornaram ainda maior a insegurança quanto às votações, consideradas decisivas. Além de estar em jogo mais um pedaço
do pacote de suposto ajuste fiscal, nova derrota do governo o
deixaria em situação crítica,
fora e aqui também. Nas sondagens, outra vez os juros simbolizavam os muitos motivos
de desagrado.
Brasília e São Luís entoavam
esses coros enquanto Fernando Henrique participava da
inauguração, no Rio, da nova
gráfica do "Globo". E à saída,
já com destino às férias na
apropriada praia do Saco, fez
aos repórteres três afirmações
categóricas: 1) "O real não será
desvalorizado"; 2) "Não existe
isso de saída do ministro Malan ou de Gustavo Franco"; 3)
como arremate bem à altura,
"O governo sabe o que está fazendo, sabe o que vai fazer". O
governo, até poderia ser, mas o
presidente, não.
Assim que se pôs acessível
aos governadores mais próximos, com destaque para Roseana Sarney, e às lideranças
governistas, Fernando Henrique passou a receber uma sucessão de advertências, cobranças e sugestões para uma
providência qualquer, contanto que imediata. A gravidade
do quadro de insatisfações
transformara a incerteza das
votações em admissão de derrotas a meio de vitórias, nas
quatro MPs.
A desvalorização do real como meio de levar a possível
queda dos juros nunca foi admitida por Gustavo Franco.
Era, porém, a providência que
estava à mão, para uso imediato. Malan, que se mostra
acessível às questões políticas,
na mesma medida em que
Gustavo Franco se mostra refratário, foi alertado por Fernando Henrique para a necessidade de providências urgentes. Entre elas, teve que ir a cabeça de Gustavo Franco.
A versão oficiosa de que há
dias "uma briga de Gustavo
Franco e Francisco Lopes", ficando acertado que "um dos
dois sairia, ficando Franco
com a prioridade de decidir", é
uma das fantasias mais obtusas das que o jornalismo oficioso tem servido. A briga com
um subalterno não faria Gustavo Franco deixar o Banco
Central em um momento tão
problemático, nem Malan
concordaria com isso. Além do
mais, nunca houve a insensatez de um presidente do BC se
demitir e imediatamente outro assumir o posto, e já com
alterações importantes na política monetária. Importantes,
embora com evidentes ares de
certa improvisação.
Se as medidas de ontem derrubarem os juros, como todo
mundo quer, e se foi Itamar
Franco que provocou a crise
assim encaminhada, então a
caravana que foi a São Luís
deve dirigir-se, agora, a Belo
Horizonte. Engrossada pela
multidão de empresários, com
a comissão de frente formada
por certos jornalistas econômicos.
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