|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EM VIAGEM
Documento de intelectuais italianos pede a FHC empenho para atender as reivindicações dos sem-terra
Universidade cobra reforma agrária
do enviado especial a Bolonha
Nem a distância nem o título de
doutor ``honoris causa'' livraram
FHC do tema reforma agrária.
O reitor da Universidade de Bolonha, Fabio Roversi-Monaco, no
discurso de saudação ao presidente brasileiro, disse que ``o problema dos assim chamados `sem-terra' continua a ser grave, com características dramáticas e de dificílima solução''.
Mas Roversi-Monaco até exagerou na gentileza com o agraciado,
ao dizer que, no ano passado, o governo FHC distribuíra 3 milhões
de hectares de terras, beneficiando
mais de 100 mil famílias.
Pelos próprios dados oficiais
brasileiros, esses números, tanto
de hectares como de famílias assentadas, correspondem aos dois
primeiros anos da gestão FHC e
não apenas ao ano passado.
A menção do reitor atendeu a
apelo assinado por 68 intelectuais
italianos e ontem distribuído aos
jornalistas que acompanham a visita presidencial. Lembra os massacres de sem-terra em Eldorado
dos Carajás e Corumbiara, cita os
47 mortos em 1996 e lamenta que
``menos de 20 dos responsáveis
por estes crimes foram processados e condenados''.
O documento pede ``empenho
extraordinário'' de FHC para atender às reivindicações dos trabalhadores rurais sem terra e para que
``sejam prontamente condenados
os que se mancharam com os massacres dos camponeses''.
FHC não leu, na aula magna que
proferiu, o único trecho em que
raspava a questão, ao dizer que
``persistem as demandas clássicas
que devem ser a preocupação inicial e prioritária da ação política''.
A versão oficial é a de que o presidente teve que encurtar o discurso, por falta de tempo.
Os sem-terra não foram o único
problema para FHC em Bolonha.
Um grupo de professores retardou
a data para a entrega do título de
doutor ``honoris causa''.
Não discutem os méritos acadêmicos do hoje presidente, mas
acham que, quando a honraria foi
concedida ele não tivera tempo para demonstrar qualidades também
como governante.
De fato, o título foi dado no dia
31 de janeiro de 1995, apenas 30
dias após a posse de FHC.
O reitor, em seu discurso introdutório, deu ênfase aos méritos
acadêmicos de FHC, ``que, como
poucos outros, contribuiu para a
compreensão das dinâmicas politicas e econômicas do desenvolvimento e do subdesenvolvimento''.
Mas não deixou de mencionar o
significado de uma personalidade
estar no governo ``no contexto
atual de globalização''.
Para Roversi-Monaco, a globalização pode representar ``uma
grande oportunidade para toda a
humanidade'' mas ao mesmo tempo traz o risco de que ``de novo o
mundo se divida em vencedores e
vencidos''.
(CLÓVIS ROSSI)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|