São Paulo, sexta, 14 de fevereiro de 1997.

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NO AR
Paz no campo

NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

- É o MST.
Era o que FHC dizia meio ano atrás, a Fernando Rodrigues, sobre a maior ameaça ao seu governo. O Movimento dos Sem-Terra era então a versão brasileira da revolta de Chiapas, que assustou governos pelo continente.
Não mais, com a ajuda da televisão. A novela ``O Rei do Gado'' termina hoje, ao que parece, com a paz no campo; paz entre as famílias em conflito, mas também paz após a morte do líder sem-terra, a versão virtual de José Rainha.
A novela, como é regra na televisão destes anos 90, desbotou a divisão entre realidade e ficção, para dano da primeira e audiência da segunda. Algumas passagens, em meio ano, merecem lembrança.
Em uma delas o líder sem-terra questionou a ``bandeira vermelha'' como símbolo do movimento, preferindo uma ``verde''. Uma intervenção política, para desbotar personagens reais.
Em outra, o ator que fazia o senador aliado dos sem-terra encontrou ``casualmente'' com FHC nos estúdios da Globo e declarou, ``sou favorável à sua reeleição''. A cena foi ao ar no Jornal Nacional.
Mais sobreveio, no tumulto entre realidade e ficção, com ministros e secretários, parlamentares de verdade e de mentira. Ontem mesmo estavam alguns, segundo a Globo e a subsidiária CBN, no Pontal. A cobertura veio colada à do fim de ``O Rei do Gado''.
O efeito da avalancha virtual, somada a um ministro que é personagem, também ele, da televisão, é que o MST não é mais a ameaça de antes.

E FHC conseguiu seus cinco longos minutos na CNN, em inglês -ainda que no inglês gutural do brasileiro.
Perguntado por que investir no Brasil, rezou a ladainha, ``economia estável... preços em queda... enorme mercado.'' O país foi mencionado, por uma CNN incontida, como um dos ``darlings'' do mercado da América Latina.


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