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DESAPARECIDOS POLÍTICOS
Famílias reclamam de `grosseria'
Governo quer de volta
parte de indenizações
DANIELA FALCÃO
PAULO SILVA PINTO
da Sucursal de Brasília
Três famílias de desaparecidos
políticos que receberam indenizações do governo federal no ano
passado foram convocadas a devolver parte do dinheiro. O motivo
teria sido um ``erro de cálculo'' do
Ministério da Justiça.
Todas as três reclamam da maneira ``grosseira e chantagista''
com que o ministério cobrou o dinheiro que teria pago a mais.
Das três famílias, duas já haviam
recebido a indenização quando
chegaram telegramas do ministério pedindo a devolução de R$ 12
mil. Segundo os telegramas, caso
não devolvessem o dinheiro, as famílias seriam processadas.
A terceira família indenizada, da
desaparecida Isis Dias de Oliveira,
só ficou sabendo que houve erro
no cálculo quando foi retirar o dinheiro da indenização no banco.
``Não me avisaram nada. Fui ao
banco esperando retirar R$ 124
mil e só achei R$ 111 mil. Primeiro,
pensei que o banco estava enganado, mas, quando pedi explicações
ao ministério, me informaram que
o valor da minha indenização que
havia sido publicado no `Diário
Oficial' é que estava errado'', afirmou Felícia Oliveira, mãe de Isis.
João Carlos Grabois, filho do desaparecido político André Grabois, também havia recebido R$
124 mil de indenização e teve de
devolver R$ 12 mil.
Segundo uma amiga da família,
João Carlos só devolveu o dinheiro
porque ``já havia sofrido o suficiente'' e não queria brigar por dinheiro por se tratar da vida de seu
pai. ``Mas o ministério fez tudo de
uma forma muito grosseira. Nos
enviaram telegramas grosseiros e
com ameaças.''
A família do líder estudantil Honestino Guimarães também reclama da maneira como o governo
cobrou o dinheiro e diz que só devolverá os R$ 12 mil se for explicado qual foi o erro.
``Não bastassem todos os anos
em que tivemos de lutar para o governo assumir a responsabilidade
pelos mortos e desaparecidos,
agora temos de conviver com esse
tipo de incidente'', diz Isaura Guimarães, viúva de Honestino.
Ela reclama do teor dos telegramas e do fato de nunca ter recebido uma explicação oficial.
Isaura recebeu R$ 124 mil em setembro, e, duas semanas depois,
chegou um telegrama sem assinatura do ministério cobrando os R$
12 mil. ``Como não havia assinatura nem explicação, resolvi esperar
por uma posição mais digna.''
Em dezembro passado, Isaura
voltou a receber um telegrama do
ministério, cobrando o dinheiro e
ameaçando com pagamento de juros se os R$ 12 mil não fossem devolvidos em 72 horas.
``A indenização deveria ter saído
no início de 96, mas só recebemos
em setembro, sem qualquer correção. Agora eles alegam ter errado e
exigem que paguemos juros.''
Tanto Grabois quanto Isaura reclamam do teor do telegrama que
estaria condicionando a devolução do dinheiro ao pagamento da
indenização para outras famílias
beneficiadas pela lei 9.140.
``Foi chantagem o que fizeram. E
sem o menor fundamento, porque, mesmo que somassem o valor
supostamente pago em excesso
das nossas três indenizações, ainda assim não daria para pagar nem
sequer uma família'', diz Isaura.
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