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SÃO PAULO
FHC, ACM e Maluf ajudaram Pitta a obter R$ 324 milhões no BB para a Prefeitura de São Paulo
Empréstimo a SP em 97 saiu de acordo
FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília
Apesar de hoje serem todos inimigos
políticos entre si,
em dezembro de
1997 o presidente
da República, Fernando Henrique Cardoso
(PSDB), o presidente do Senado,
Antonio Carlos Magallhães
(PFL), e o presidente nacional do
PPB e ex-prefeito de São Paulo,
Paulo Maluf, ajudaram o atual
prefeito da cidade, Celso Pitta, a
conseguir algo quase impensável
à época: um empréstimo de R$
324 milhões do Banco do Brasil
para a Prefeitura de São Paulo.
O dinheiro saiu no dia 23 de dezembro de 1997. Pela cotação do
dia, era o equivalente a US$ 291
milhões. O empréstimo foi usado
para tocar o dia-a-dia da Prefeitura de São Paulo.
Foram pagas dívidas em atraso
com fornecedores e empreiteiras.
A lista dos pagamentos feitos no
período não é conhecida nem a
prefeitura a divulga.
Naquela época, as contas paulistanas estavam fortemente sob
suspeita. Isso havia ficado claro
durante a CPI dos Precatórios. Só
para o Banco do Brasil, a Prefeitura de São Paulo devia cerca de R$
5 bilhões.
A CPI do Precatórios foi aberta
para investigar a suposta emissão
irregular de títulos para pagar dívidas judiciais. Além da cidade de
São Paulo, estiveram envolvidos
também os Estados de Alagoas e
Pernambuco.
"Aquele empréstimo demonstra que o governo federal negociou com o malufismo e com Pitta. Agora, faz de conta que está espantado e que não tem nada a ver
com o estado da Prefeitura de São
Paulo", diz o senador Roberto Requião (PMDB-PR), relator da CPI
dos Precatórios.
Meses depois, em 98, Pitta não
conseguiu mais honrar parte da
dívida.
O empréstimo acabou sendo incluído no pacote de renegociação
dos débitos da prefeitura paulistana -atualmente em análise no
Senado.
Para conseguir todo esse dinheiro, o prefeito Celso Pitta teve
a seu favor o interesse de vários
políticos.
A FHC interessava agradar Paulo Maluf, que ainda era um aliado
de Pitta.
O presidente da República era
candidato à reeleição e precisava
da neutralidade malufista no pleito de 98.
Para Maluf, era fundamental
que Pitta tivesse um desempenho
razoável como prefeito.
De outra forma, murcharia o
sonho do ex-prefeito de chegar à
Presidência da República ou ao
governo do Estado de São Paulo
algum dia.
Antonio Carlos Magalhães precisava do apoio de Paulo Maluf
em São Paulo, um Estado no qual
seu partido, o PFL, sempre foi frágil. O malufismo, imaginava o senador, poderia lhe ser útil numa
eventual disputa futura à Presidência da República.
Nos meses que antecederam a
liberação do dinheiro pelo Banco
do Brasil, Maluf foi recebido mais
de uma vez por FHC.
Pelo menos em uma ocasião foi
ao Palácio da Alvorada para um
café da manhã reservado. Pitta teve audiência oficial com o presidente no Palácio do Planalto.
Antes ou depois de falarem com
FHC, tanto Maluf como Pitta
sempre passavam no gabinete de
ACM no Senado. O empréstimo
de R$ 324 milhões era mencionado nesses encontros.
Maluf chegou a receber em sua
casa para um jantar reservado o
então presidente do Banco do
Brasil, Paulo César Ximenes.
Tanto Ximenes como o ministro da Fazenda, Pedro Malan,
eram contra o empréstimo.
Ambos foram vencidos pela
área política do governo.
A concessão do empréstimo foi
decisiva para Maluf acabar desistindo de disputar a Presidência da
República em 98.
FHC queria o menor número
possível de candidatos de centro-direita. Isso lhe possibilitaria uma
eventual vitória no primeiro turno -o que acabou efetivamente
acontecendo.
Uma das garantias que Maluf
recebeu foi o aval do então ministro de Assuntos Políticos, Luiz
Carlos Santos.
Com sala próxima à de Fernando Henrique Cardoso no Planalto, Santos ajudou na pressão a favor do empréstimo.
Em troca, acabou sendo candidato a vice-governador de São
Paulo na chapa com Paulo Maluf.
Acabaram derrotados por Mário
Covas.
FHC foi fiel ao seu acordo com
Maluf o quanto pôde. Pitta interrompeu o pagamento do empréstimo para o Banco do Brasil, mas
a garantia da operação nunca foi
executada.
Para emprestar o dinheiro, o BB
teve como garantia a receita de
ICMS (Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços) da
Prefeitura de São Paulo. Se o banco estatal exigisse o recebimento,
deixaria a cidade paralisada financeiramente.
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