São Paulo, terça-feira, 14 de março de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SÃO PAULO
FHC, ACM e Maluf ajudaram Pitta a obter R$ 324 milhões no BB para a Prefeitura de São Paulo
Empréstimo a SP em 97 saiu de acordo

FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília


Apesar de hoje serem todos inimigos políticos entre si, em dezembro de 1997 o presidente da República, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o presidente do Senado, Antonio Carlos Magallhães (PFL), e o presidente nacional do PPB e ex-prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, ajudaram o atual prefeito da cidade, Celso Pitta, a conseguir algo quase impensável à época: um empréstimo de R$ 324 milhões do Banco do Brasil para a Prefeitura de São Paulo.
O dinheiro saiu no dia 23 de dezembro de 1997. Pela cotação do dia, era o equivalente a US$ 291 milhões. O empréstimo foi usado para tocar o dia-a-dia da Prefeitura de São Paulo.
Foram pagas dívidas em atraso com fornecedores e empreiteiras. A lista dos pagamentos feitos no período não é conhecida nem a prefeitura a divulga.
Naquela época, as contas paulistanas estavam fortemente sob suspeita. Isso havia ficado claro durante a CPI dos Precatórios. Só para o Banco do Brasil, a Prefeitura de São Paulo devia cerca de R$ 5 bilhões.
A CPI do Precatórios foi aberta para investigar a suposta emissão irregular de títulos para pagar dívidas judiciais. Além da cidade de São Paulo, estiveram envolvidos também os Estados de Alagoas e Pernambuco.
"Aquele empréstimo demonstra que o governo federal negociou com o malufismo e com Pitta. Agora, faz de conta que está espantado e que não tem nada a ver com o estado da Prefeitura de São Paulo", diz o senador Roberto Requião (PMDB-PR), relator da CPI dos Precatórios.
Meses depois, em 98, Pitta não conseguiu mais honrar parte da dívida.
O empréstimo acabou sendo incluído no pacote de renegociação dos débitos da prefeitura paulistana -atualmente em análise no Senado.
Para conseguir todo esse dinheiro, o prefeito Celso Pitta teve a seu favor o interesse de vários políticos.
A FHC interessava agradar Paulo Maluf, que ainda era um aliado de Pitta.
O presidente da República era candidato à reeleição e precisava da neutralidade malufista no pleito de 98.
Para Maluf, era fundamental que Pitta tivesse um desempenho razoável como prefeito.
De outra forma, murcharia o sonho do ex-prefeito de chegar à Presidência da República ou ao governo do Estado de São Paulo algum dia.
Antonio Carlos Magalhães precisava do apoio de Paulo Maluf em São Paulo, um Estado no qual seu partido, o PFL, sempre foi frágil. O malufismo, imaginava o senador, poderia lhe ser útil numa eventual disputa futura à Presidência da República.
Nos meses que antecederam a liberação do dinheiro pelo Banco do Brasil, Maluf foi recebido mais de uma vez por FHC.
Pelo menos em uma ocasião foi ao Palácio da Alvorada para um café da manhã reservado. Pitta teve audiência oficial com o presidente no Palácio do Planalto.
Antes ou depois de falarem com FHC, tanto Maluf como Pitta sempre passavam no gabinete de ACM no Senado. O empréstimo de R$ 324 milhões era mencionado nesses encontros.
Maluf chegou a receber em sua casa para um jantar reservado o então presidente do Banco do Brasil, Paulo César Ximenes.
Tanto Ximenes como o ministro da Fazenda, Pedro Malan, eram contra o empréstimo.
Ambos foram vencidos pela área política do governo.
A concessão do empréstimo foi decisiva para Maluf acabar desistindo de disputar a Presidência da República em 98.
FHC queria o menor número possível de candidatos de centro-direita. Isso lhe possibilitaria uma eventual vitória no primeiro turno -o que acabou efetivamente acontecendo.
Uma das garantias que Maluf recebeu foi o aval do então ministro de Assuntos Políticos, Luiz Carlos Santos.
Com sala próxima à de Fernando Henrique Cardoso no Planalto, Santos ajudou na pressão a favor do empréstimo.
Em troca, acabou sendo candidato a vice-governador de São Paulo na chapa com Paulo Maluf. Acabaram derrotados por Mário Covas.
FHC foi fiel ao seu acordo com Maluf o quanto pôde. Pitta interrompeu o pagamento do empréstimo para o Banco do Brasil, mas a garantia da operação nunca foi executada.
Para emprestar o dinheiro, o BB teve como garantia a receita de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) da Prefeitura de São Paulo. Se o banco estatal exigisse o recebimento, deixaria a cidade paralisada financeiramente.


Texto Anterior: Folha realiza debate sobre corrupção
Próximo Texto: ACM sugere ação de "prepostos" de FHC
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.