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ELIO GASPARI
A trava fez de uma gripe um derrame
FFHH precisa destravar a
sucessão presidencial. A menos que pretenda proclamar-se
imperador e defensor perpétuo
do Brasil, dentro de 21 meses ele
deverá entregar seus palácios a
um novo inquilino. Sua idéia de
postergação das candidaturas
governistas é inviável e absurda.
Deve-se a ela, ainda que em
parte, a transformação de uma
gripe (a eleição das Mesas do
Congresso) num derrame cerebral (a crise política em que se
entrou). FFHH diz que o aparecimento das candidaturas paralisa a máquina administrativa.
É um argumento débil e até comovente. Se fosse verdadeiro, a
reeleição seria um anátema. A
verdade está no contrário. Hoje
é a trava que atrapalha a máquina.
Aos exemplos:
1) O ministro Pedro Malan
mostrou-se favorável à devolução da tunga do FGTS para os
trabalhadores que têm a receber
até R$ 1.000. São 92% dos tungados e o dinheiro que lhes é devido corresponde a apenas 17%
do que foi tomado. Nada mais
razoável e decente. Pois basta
que ele diga isso para que surja
a interpretação: Malan é candidato. Se o preço da candidatura
de Malan é a dissociação do Ministério da Fazenda do ataque
ao bolso do andar de baixo, que
seja feito Pedro 3º. Com um olho
nos dois quilos de ouro e 639 brilhantes de seu antecessor, talvez
ele pare de avançar sobre a renda do andar de baixo ao manter
congeladas as faixas do Imposto
de Renda.
2) O ministro José Serra lança
uma campanha de prevenção
da diabetes, que deverá resultar
na descoberta de algo como dois
milhões de brasileiros que sofrem da doença, e FFHH se vê
obrigado a aturar as queixas de
um ministro inconformado com
o espaço que Serra ocupa na rede oficial de propaganda. Há
mais tucanos torcendo por uma
epidemia de febre amarela urbana do que toda a patuléia
enraivecida durante a revolta
contra a vacina obrigatória no
início do século passado.
3) O governador Tasso Jereissati defende a manutenção da
aliança com o PFL de ACM, descuida-se e, quando olha em volta, tomaram-lhe todos os pontos
de apoio na burocracia do Congresso. Só não lhe tomaram o
governo do Ceará porque o recebeu do eleitorado. Ora é considerado um cavalo-de-tróia em
cuja barriga vem o senador
baiano, ora é visto como um
simples cavalo-de-macumba,
encarnando Ciro Gomes. Nenhuma dessas acusações lhe é
feita por oposicionistas. Tudo
coisa de tucano.
Faltam ao PSDB a elegância
política e o sentido de história
que permitiram ao velho MDB
ajudar a tirar o país da ditadura. Poucos políticos detestaram-se tanto quanto Ulysses Guimarães e Tancredo Neves. Por compostura, mas sobretudo por um
sentido de grandeza, burilaram
suas personalidades no resguardo da inveja, do ciúme e do ressentimento. Eram tipos históricos, como Rio Branco, um barão
que se tornou monumento da
República.
A tucanada parece-se mais
com um grupo de líderes estudantis. Nela, FFHH diverte-se
com a dissimulação de d. Pedro
2º e a astúcia de Getúlio Vargas.
Difere dos dois num aspecto essencial: é mais arguto na percepção e na divulgação maledicente dos defeitos de seus colaboradores do que na exaltação
de suas virtudes. É palmeira em
campo de golfe.
Enquanto o Planalto segurar
a trava da sucessão os candidatos tucanos terão tudo a perder e
nada a ganhar. Estarão entregues à sanha de seus rivais e não
poderão mostrar suas qualificações. Bastará um sorriso para
carimbar uma candidatura.
Soltando a trava, FFHH perderá uma parte do poder que
tem. Paciência. Em troca, liberará a energia de seu governo
numa disputa lisa. Os candidatos estão no pleno uso de seus direitos políticos. É preferível haver um ministro ou governador
mostrando serviço para ganhar
votos do que ter o mesmo ministro ou governador trabalhando
pela sua candidatura e fingindo
que não quer ser presidente.
Quando por nada, porque essa
segunda postura é apenas mentirosa.
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