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REVIRAVOLTA NA SUCESSÃO
Senador acusa uso da máquina contra Roseana
Sarney compara operação da PF ao caso Watergate
DANIELA FERNANDES
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM PARIS
Comparando a operação da Polícia Federal no escritório da Lunus com o caso Watergate e com
o Zimbábue, o senador José Sarney (PMDB) afirmou ontem em
Paris que houve uso da máquina
estatal com o objetivo de acabar
com a candidatura presidencial
de sua filha, a governadora Roseana Sarney (PFL-MA).
Para ele, houve "um jogo sujo
de utilização de métodos de espionagem".
"As eleições precisam ser limpas, sem manipulações com o objetivo de afastar candidatos", afirmou o peemedebista.
O senador e ex-presidente chegou ontem pela manhã a Paris para o lançamento de seu livro "Saraminda", que ocorrerá amanhã
na Maison de l'Amérique Latine.
Dizendo-se cansado pela viagem, Sarney permaneceu no hotel
durante a tarde e participou à noite de um evento organizado pelo
escritor Jean-Christophe Rufin,
autor de "Rouge Brésil", que ganhou o prêmio Goncourt no final
do ano passado.
Hoje à noite Sarney participará
a um jantar oferecido pela Academia Francesa de Letras no Palais
Nazarin. Longe (pelo menos fisicamente) da agitação no cenário
eleitoral brasileiro e do anúncio
da queda de Roseana nas pesquisas, o senador conversou com a
Folha sobre as denúncias envolvendo sua filha.
Em Paris, Sarney não quis comentar a renúncia de seu genro,
Jorge Murad, do cargo de gerente
de Planejamento do Maranhão,
nem a versão que este apresentou
para o R$ 1,34 milhão encontrado
na empresa Lunus, de sociedade
de Murad e de Roseana Sarney.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista concedida à
Folha pelo senador, em Paris:
Folha - Em que medida o discurso
do sr. no Senado abordará a suposta operação do PSDB para acabar
com a candidatura de Roseana?
José Sarney - Não se trata de suposta operação. Ela é certa. A manipulação para acabar com a candidatura de Roseana não é uma
hipótese.
Folha - O que o sr. critica?
Sarney - Esse método para afastar uma candidatura, que viola a
democracia. Houve um jogo sujo
de utilização de métodos de espionagem. O aparato estatal não
pode ser utilizado dessa forma
durante uma campanha presidencial. É o método da "arapongagem", algo que denigre de forma considerável o processo democrático no Brasil. Comparo o
ocorrido ao caso Watergate [escândalo que levou à renúncia do
presidente norte-americano Richard Nixon, em 1974", o método
utilizado é o mesmo. É também
exatamente o mesmo que aconteceu no Zimbábue recentemente.
(Leia texto ao lado)
Folha - Mas denunciar supostas
irregularidades também não faz
parte do processo democrático?
Sarney - O problema é a maneira
como tudo foi feito, totalmente
arbitrária. A governadora tinha
imunidade parlamentar e a Polícia Federal não poderia ter feito o
que fez, ou seja, violar seu correio,
seu escritório. Isso é espionagem.
Folha - Que posição o sr. irá adotar em relação a isso?
Sarney - Esse assunto precisa ser
levado até o fim. As eleições precisam ser limpas, sem manipulações com o objetivo de afastar
candidatos.
Folha - Isso significa que o sr. fará
esse tipo de discurso no Congresso?
Sarney - Ainda farei muitos discursos no Congresso. As eleições
devem ser limpas e o respeito à
democracia é necessário.
Folha - Como o sr. avalia a queda
de Roseana nas pesquisas de intenção de voto?
Sarney - Não estou sabendo disso ainda e prefiro não falar sobre o
assunto.
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